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S/S "El Faro", que naufragou no Triangulo das Bermudas, Atlântico Norte, em 1/10/2015 |
O cargueiro
de bandeira americana “El Faro”, afundado pelo furacão Joaquin, estava
navegando com quase sua velocidade máxima para o centro da tempestade, antes de
ter perdido a propulsão em meio a ondas gigantescas e ventos brutais, de acordo
com dados de rastreamento do navio.
Os dados obtidos pelos analistas suscita questões sobre a afirmação do armador de que o comandante
do navio havia escolhido um “plano bem embasado” para contornar o Joaquin “com
margem de segurança”, mas o plano foi frustrado pelo problema na máquina do
navio. Isto leva a crer que, antes mesmo do navio ter perdido a propulsão, ele
estava em águas tempestuosas que a maioria dos marinheiros preferem nunca ter
que enfrentar.
Depois de
analisar os dados, Klaus Luhta, presidente da Organização Internacional de
Capitães, Oficiais de Náutica e Práticos
da Marinha Mercante, ficou em silêncio por um momento enquanto contemplava o
que está sendo chamado como o pior
desastre envolvendo um navio de bandeira americana em mais de 30 anos.
“Eu não sei
o que ele estava pensando – “Eu não posso nem especular,” disse Luhta em
entrevista a um canal de TV. “Ele se dirigiu direto para o trajeto do furacão”.
Enquanto a
tomada de decisão do capitão do “El Faro” pode parecer inexplicável vista de
fora, o Comandante Michael Davidson, formado pela Academia de Marinha Mercante
do Maine, era um marinheiro experiente, acostumado a navegar nas regiões
tormentosas do Atlântico Norte e não está claro quais os fatores que o teriam
influenciado enquanto tentava salvar seu navio da calamidade.
O “El Faro”
parou de se comunicar depois de informar, na madrugada do dia 1º de outubro, que
havia perdido a propulsão, que a água do mar estava invadindo o navio e ele
estava adernando. Não foi informada a razão da perda de propulsão.
Rumo de colisão com o furacão: como o “El Faro” encontrou o seu fim.
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A rota do S/S "El Faro", conforme as transmissões de posição via satélite.
A rota alternativa seria passar entre Cuba e as Bahamas. |
Um
porta-voz do armador do navio, TOTE Inc, Michael Hanson, não quis comentar,
dizendo que a National Transportation Safety Board (NTSB), que está
investigando o naufrágio, pediu que qualquer questão relacionada com o acidente
fosse transmitida somente para eles.
Os dados de
rastreamento do navio, que indicam o curso mais exato do “El Faro” nas
24 horas que antecederam o desastre, também mostram que, ao contrário de alguns
relatórios, o navio não seguiu uma derrota normal.
Às 06:16h ET
(hora leste dos Estados Unidos), do dia 30 de setembro, dez horas depois de ter
saído de Jacksonville, Flórida, o navio começou a se desviar de sua rota usual
para San Juan, Puerto Rico. Ele deveria costear a Flórida, passando próximo das
Bahamas, mas seguiu um rumo que foi de
encontro ao caminho da tempestade, de acordo com os dados obtidos nas
transmissões de satélite do navio, usados para rastrear sua localização e velocidade.
Nessa
noite, espremido contra a cadeia de ilhas a oeste, o “El Faro” foi encurralado
pela tempestade e se deslocou mais para sudeste em rota de colisão com o
furacão.
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S/S "El Faro" |
O “El Faro” era um navio porta-container/roll on-roll off de 241 metros de
comprimento, 16.000 toneladas de porte-bruto e tripulado por 28 oficiais e marinheiros americanos. Levava 5 mecânicos poloneses que faziam serviços de manutenção à bordo. Nesse ponto o navio ainda estava
navegando com quase toda força adiante, cerca de 20 nós (36,6 km/h).
Rota de
Fuga - Os comandantes que revisaram os dados disseram que na manhã de 30 de
setembro, ainda ao norte das Bahamas, e a centenas de milhas da tempestade,
Davidson ainda teve três boas opções: reduzir a velocidade, voltar com o navio
ou mudar o rumo para oeste em direção à costa da Flórida. Ele tinha acesso à previsão do tempo, fornecida a pequenos intervalos de tempo pelo Centro Nacional de Furacões (NHC), dando a velocidade estimada, força e
direção da tempestade.
O “El
Faro”, por ocasião da tempestade tropical Erika, em 2 de agosto, adotou a rota
costeando a Flórida quando estava indo em direção ao Caribe. A decisão de não
adotar essa mesma rota em 30 de setembro não ficou clara. O capitão pode ter
se preocupado em costear a Florida e ficar encurralado entre Cuba e as Bahamas
com tempo ruim, disseram especialistas.
Como
diminuíram as opções do “El Faro” - Por volta das 17:00h ET de 30 de novembro –
nove horas depois de Joaquin ter sido elevado à condição de furacão categoria 5 – o navio
passou pelo través do farol “Hole in the Wall”, onde existe uma passagem no
arquipélago das Bahamas, utilizada há séculos pelos marinheiros para escapar
para oeste através das ilhas, em direção a Cuba.
Mas, escapar por esta via seria
prolongar a viagem e consumir mais combustível. Estes teriam sido os possíveis
fatores que levaram o capitão a não utilizá-la.
Nesse
ponto a previsão da NHC de que o furacão se aproximaria das Bahamas, antes
de voltar para o norte, deixou Davidson sem opções viáveis, afirmam os
profissionais do mar. O navio estava comprometido com um rumo para o sul, direto
para a tempestade.
“Você deve
sempre ter uma rota de fuga de emergência”, disse o Comandante Scott Futcher,
um capitão de longo curso com 20 anos de experiência no mar. “Ele deveria ter
ido mais ao sul. Somos ensinados de que você tem que ter uma saída, mesmo que
você tenha que fazer um enorme círculo para fugir do furacão”.
O vídeo acima mostra um navio enfrentando ondas de categoria 10.
O "El Faro" enfrentou ondas de categoria 12 (Furacão)!
Os dados de
rastreamento mostram que o navio de fato foi mais ao sul, desviando-se cerca de
100 milhas do seu curso normal, mas não foi o suficiente para escapar do
Joaquin.
Não houve muita margem para manobra, disse John Konrad, capitão de longo curso e
fundador do gCaptain, um site de notícias marítimas. “A seu bombordo (a leste)
ele tinha o furacão Joaquin. A seu boreste (a oeste) existiam muitas ilhas. Ele
estava cercado por todos os lados. A única opção que ele tinha era retornar (inverter o rumo 180°)."
Às 21:09h
ET do dia 30 de setembro, a cerca de 200 milhas a noroeste da tempestade, o
navio estava desenvolvendo 20 nós, muito próximo da sua velocidade máxima. O
“El Faro” estava indo direto para a trilha do furacão prevista pela NHC, que
passou a desenvolver ventos de 105 mph (170 km/h) e provocar ondas acima de 15
metros (categoria 12 - Furacão, na Escala Beaufort).
Às 02:09h
ET do dia 1º de outubro, o “El Faro” estava a apenas 50 milhas do olho do furacão Joaquin. Nesse ponto o navio ainda
estava com uma velocidade de 17 nós, de acordo com dados de rastreamento do
navio.
Enfrentando
ventos violentos e altas ondas, às 03:56h ET a distância percorrida havia sido
mínima. Sua velocidade havia sido reduzida para 10.7 nós.
A companhia armadora informou que existem diferentes rotas comerciais de
navegação utilizadas pelos seus navios para Porto Rico, que variam de acordo com as condições de
tempo. A rota foi determinada pelo comandante Davidson sem envolvimento da sede
da empresa (como deve ser!).
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M/V "Azure Bay" |
Ao
contrário do “El Faro”, pelo menos um outro navio na área safou-se do Joaquin. O “Azure
Bay”, um graneleiro da Pioneer Marine, baseada em Cingapura, estava navegando
para o norte, passando por Cuba, em direção às Bahamas nas primeiras horas do
dia 30 de setembro, quando seu capitão foi advertido que seu curso passaria a 150
milhas da influência do Joaquin. Ele decidiu, então, contornar Cuba pelo sul para “fugir da tempestade”, de acordo com um porta-voz da Pioneer Marine.
O que aconteceu
nas primeiras horas do dia 1º de outubro, após ter sido perdido o contato com o
“El Faro”, não é conhecido. Os investigadores da NTSB vão vasculhar
a área e tentar localizar o Registrador de Dados de Viagem –VDR (a caixa preta
do navio), para tentar juntar, algumas peças do quebra-cabeça.
O VDR (Voyage Data Recorder) grava várias informações do navio, incluindo rumo, velocidade, posição pelo GPS, regime das máquinas e gravação das conversas na ponte de comando, entre outros.
A Divisão de Mergulho e Salvatagem da Marinha dos EUA está encarregada de procurar os destroços do "El Faro" e recuperar o VDR.
Até o
momento em que a Guarda Costeira dos EUA suspendeu as buscas, somente um corpo
tinha sido localizado. Os demais continuam desaparecidos e presumivelmente
mortos.
Atualização: o casco do S/S "El Faro" foi encontrado pela Marinha dos EUA no dia 31/10/2015, submerso em uma profundidade de 5.000m, 36 milhas a nordeste da Ilha Crooked, nas Bahamas, bem próximo da última posição transmitida pelo navio, antes de naufragar.