Leio com tristeza quanto países como Coréia do Sul e outros
estimulam o ensino básico, conseguem excelência em professores e escolas,
ótimas universidades, num crescimento real, aquele no qual tudo se fundamenta: a
educação, a informação, a formação de cada um.
Comparados a isso, parecemos
treinar para ser medíocres. Como indivíduos, habitantes deste Brasil, estamos
conscientes disso, e queremos – ou
vivemos sem saber de quase nada? Não vale, para um povo, a desculpa de menino
levado que tem a resposta pronta: “Eu não sabia”, “Não foi por querer”. Pois
mesmo com a educação – isto é, a informação – tão fraquinha e atrasada, temos a
imprensa a nos informar. A televisão não traz só telenovelas e programas de
auditório: documentário, reportagens, notícias, nos tornam mais gente; jornais
não têm só coluna policial ou fofocas sobre celebridades, mas nos deixam a par
e nos integram no que se passa no mundo, no país, na cidade.
Alienação é falta grave; omissão traz burrice, futilidade é
um mal.
Por omissos votamos errados ou nem votamos, por desinformados não
conhecemos nossos direitos, por fúteis não queremos lucidez, não sabemos da
qualidade na escola do filho, da saúde de todo mundo, da segurança em nossas
ruas.
O real crescimento do país e o bem da população passam ao largo de nossos interesses. Certa vez escrevi um artigo que deu título a um livro:
“Pensar é transgredir”. Inevitavelmente me perguntam: “Transgredir o quê?”.
Transgredir a ordem da mediocridade, o deixa pra lá, o nem quero saber nem me
conte, que nos dá a ilusão de sermos livres e leves como na beira do mar,
pensamento flutuando, isso é que é vida. Será? Penso que não, porque todos,
todos sem exceção, somos prejudicados pelo nosso próprio desinteresse.
Nosso país tem tamanhos problemas que não dá para fingir
que está tudo bem, que somos os tais, que somos modelos para os bobos europeus e
americanos, que aqui está tudo funcionando bem, e que até crescemos. Na
realidade estamos parados, continuamos burros, doentes, desamparados, ou muito
menos burros e doentes e desamparados do que poderíamos estar. Já estivemos em
situação pior? Claro que sim. Já tivemos escravidão, a mortalidade infantil era
assustadora, os pobres sem assistência, nas ruas reinava a imundice, não havia
atendimento algum aos necessitados (hoje menos do que deveria, mas existe ).
Então, de certa forma, muita coisa melhorou. Mas poderíamos estar melhores, só
que não parecemos estar interessados. Queremos, aceitamos, pão e circo, a Copa,
a Olimpíada, a balada, o joguinho, o desconto, o prazo maior para nossas
dívidas, o não saber de nada sério: a gente não quer se incomodar. Ou pior: nós
temos a sensação de que não adianta mesmo.
Na verdade temos medo de sair às ruas, nossas casas e
edifícios têm porteiro, guardas, alarme e medo. Nossas escolas são
fraquíssimas, as universidades péssimas, e o propósito parece ser o de que isso
ainda piore. Pois, em lugar de estimularmos os professores e melhorarmos
imensamente a qualidade de ensino de nossas crianças, baixamos o nível das
universidades, forçando por vários recursos a entrada dos mais despreparados,
que naturalmente vão sofrer ao cair na realidade. Mas a esses mais sem base,
porque fizeram uma escola péssima ou ruim, dizem que terão tutores no curso
superior para poder se equilibrar e participar com todos. Porque nós não lhes demos condições positivas de fazer uma
boa escola, para que pudessem chegar ao ensino superior pela própria capacidade,
queremos band-aids ineficientes para fingir que está tudo bem.
Não se deve baixar o nível em coisa alguma, mas elevar o
nível em tudo. Todos, de qualquer origem, cor, nível cultural e econômico ou ambiente familiar, têm direito à
excelência que não lhe oferecemos, num dos maiores enganos de nossa história.
Não precisamos viver sob o melancólico da mediocridade que parece fácil e
inocente, mas trava nossas capacidades, abafa nossa lucidez, e nos deixa tão
agradavelmente distraídos.
Lya Luft, escritora.
Nenhum comentário:
Postar um comentário