O Brasil
é um país curioso. Em sua ânsia de levar-se a sério, de atribuir ares de
grandeza e reverência a sua condição, acaba por tratar toda sorte de farsantes,
loucos e incapazes com imerecida dignidade, ignorando sua essência em prol de
uma autoimagem reconfortante. Elegemos Eike Batista campeão nacional, debatemos
Guido Mantega em painéis de economia e cogitamos que Lula pudesse resolver
conflitos históricos no Oriente Médio.
Podemos,
ademais, nos orgulhar de nossa altíssima carga tributária. Coisa de Primeiro
Mundo, diriam alguns. A Suécia é aqui!
A
realidade, porém, é implacável, trazendo contornos de ópera-bufa para a epopeia
brasiliana. Adotamos o caminho do populismo macroeconômico e legamos a gestão
do país a um marqueteiro político.
Perdoamos
a dívida de ditadores africanos enquanto achacamos o pequeno e médio empresário
nacional. Homicídios em escala industrial convivem com a obsessiva escavação de
cadáveres da ditadura. E os escândalos de corrupção na maior estatal do país,
obras-primas da gatunagem, nos surpreendem dia a dia com sua elegante
simplicidade e seus números vultosos.
A
Petrobras é uma verdadeira Apple da picaretagem governamental e a Dilma, nossa
gerentona, a Steve Jobs da incompetência.
Nesse
contexto, surge um movimento não só de reação mas de proposição. Não é
oficialmente oposição, mesmo porque no Brasil tudo que é oficial tende a ser
inconsistente. Nem o tipo de oposição com que o governo se acostumou a lidar,
tímida e desorientada. É oposição de fato, calcada em ideias e anseios de quem
trabalha e produz.
Atrás de
seu escudo está a República, acuada pelos cínicos mandatários que hoje
enfrenta. E a ponta de lança está afiada pela liberdade, que anseia desbravar
esse território no qual nunca esteve presente.
O
Movimento Brasil Livre quer perfurar esse portentoso e aparentemente
indestrutível elmo que dissocia corrupção de modelo de Estado. Elmo este que
foi forçosamente colocado na cabeça dos brasileiros por incontáveis burocratas
ao longo dos séculos. Enquanto ele estiver intacto, a falsa ideia de que o problema
da corrupção está apenas nos governantes se perpetuará, e continuaremos a viver
o mesmo teatro eternamente.
Quanto
maior for o Estado, maior será o poder dos canalhas que o controlam e maior
será a oferta para aqueles que querem comprar sua influência. Mesmo que
possuíssemos um computador milagroso que detectasse todos os burocratas
mal-intencionados e os prendesse de pronto, o problema ainda não estaria
resolvido. O Estado continuaria poderoso e, como a História já nos mostrou, um
idiota bem-intencionado pode causar tanto ou mais estrago que um gênio
corrupto.
O
principal objetivo do movimento, no momento, é derrubar o PT, a maior nêmesis
da liberdade e da democracia que assombra o nosso país. Mas o leitor que não se
engane: uma vez derrubado esse colosso do estatismo, ainda haverá muito
trabalho a fazer. Querendo ou não, o Estado continuará gigantesco, e isso não é
culpa apenas do PT.
Nossa
sociedade dorme em berço esplêndido há séculos, e sua babá sempre foi o Estado.
Enquanto existir a mentalidade de que precisamos de um governo que seja nosso
pai, nossa mãe e nosso neném, o Movimento Brasil Livre manterá sua lança
afiada.
Convocamos
todos os brasileiros às ruas, no dia 15 de março, para defender a República
desse bando de saqueadores instalados no poder. Às ruas, cidadãos! Resgatemos
não apenas nossos mais profundos valores liberais, herdados de Tiradentes e
Joaquim Nabuco, mas, acima de tudo, nossa própria sanidade após anos de
mentiras, truques e falsas ilusões.
Kim Patroca Kataguiri e Renan Henrique Ferreira Santos, coordenadores
nacionais do Movimento Brasil Livre - MBL, publicado na Folha de São Paulo, 9/3/2015
Nenhum comentário:
Postar um comentário