sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Radiografia da ineficiência


Com educação muito fraca, mão de obra ruim, impostos pesados, investimento escasso, inflação alta e infraestrutura deficiente, o Brasil continua com muita dificuldade para competir no mercado internacional, como indica mais uma pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI). O País aparece em 14.º lugar, em posição superior apenas à da Argentina, numa lista de 15 economias, desenvolvidas e emergentes, selecionadas para um estudo comparativo. A classificação brasileira foi a mesma do relatório anterior, com base em dados conhecidos até 2013.

Os problemas brasileiros de competitividade vêm sendo apontados há anos em pesquisas do Banco Mundial, do Fórum Econômico Mundial, da CNI, da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e de entidades privadas de consultoria. Consequências desses problemas são visíveis, também há anos, no fraco desempenho comercial da indústria. Em 2014 as exportações de industrializados, de US$ 109,28 bilhões, foram 11,5% menores que em 2013 e corresponderam a 48,5% da receita do comércio exterior. As vendas industriais incluem produtos manufaturados e semimanufaturados. A participação dos manufaturados no valor total das exportações ficou em 35,6%, com redução de 13,7% em um ano, pela média dos dias úteis. Amplamente deficitária, a balança da indústria tem sido em geral compensada pela exportação de básicos, mas nem isso impediu, no ano passado, um déficit geral de US$ 3,93 bilhões.

A classificação mostrada na pesquisa da CNI foi montada com base em oito fatores, definidos pelo agrupamento de um número bem maior de itens. Só em um desses fatores - disponibilidade e custo da mão de obra - o País aparece no terço superior da classificação, em 4.º lugar. Mas nem esse quesito é inteiramente positivo. A vantagem brasileira só existe quando se trata da taxa de participação na força de trabalho. Quando se considera a produtividade do trabalhador, o Brasil fica na 14.ª posição. Outros estudos da CNI têm mostrado uma baixa oferta de mão de obra qualificada ou mesmo em condições de ser treinada nas empresas.

Esse problema, obviamente, reflete o baixo padrão educacional. No quesito educação, o Brasil ficou em 9.º lugar numa lista de 11 países (a limitação do conjunto, neste e em outros casos, é explicável pela disponibilidade de informações). No topo, Canadá, Austrália e Coreia do Sul. Abaixo do Brasil, só México e Colômbia.

No quesito matrículas na educação superior, o País ficou na 12.ª posição entre 15 selecionados - um bom indício do notável afunilamento observado no ensino médio. Mas os dados mais assustadores surgem nas avaliações da educação em leitura, matemática e ciências. Nos três itens a comparação envolveu 12 países e foi baseada em testes de 2012 com estudantes de 15 anos. Tanto em leitura quanto em matemática os brasileiros foram classificados na 10.ª posição. Em ciências, ficaram na 11.ª. Coreia do Sul, Canadá e Polônia ocuparam os três primeiros lugares nas três listas. No entanto, o Brasil ficou na 6.ª posição, em 13 países, nos gastos com educação. Em relação ao gasto público per capita em educação o País ocupou o 7.º lugar em 13.

Esses dados confirmam claramente a ineficiência dos gastos com educação. Fala-se muito, em Brasília, sobre a importância de aumentar as verbas para o setor, mas pouco se discute a qualidade das políticas e quase nada se fala sobre o uso produtivo desse dinheiro. O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2014 também confirma o desastre: 529 mil estudantes, num total de 5,9 milhões, tiraram zero em redação.

Outros problemas - tributação e infraestrutura, por exemplo - têm sido discutidos com maior frequência. Mas um detalhe vale menção especial. No quesito câmbio - taxa real efetiva em dezembro de 2013, comparada com a média das taxas mensais a partir de dezembro de 2009 - o Brasil ficou em terceiro lugar entre 15 países, abaixo de África do Sul e Argentina. Curiosamente, alguns líderes empresariais se queixam disso muito mais que dos demais problemas, muito mais importantes segundo a análise da CNI.

Editorial, O Estado de São Paulo – 18/1/2015

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