A
motocicleta Harley-Davidson Fat Boy é talvez o modelo mais icônico da Motor
Company e é extremamente popular entre os harleyros
do mundo inteiro.
Modelo mais copiado pelos concorrentes da centenária empresa de
Milwaukee, a Fat Boy protagonizou a virada do jogo pelas disputa do bilionário mercado
norte-americano de motocicletas cruiser.
A partir do lançamento da Fat Boy, a Harley-Davidson Motor Company retomou a
liderança entre os fabricantes de motocicletas acima de 650cc, posição que
mantém até hoje com larga folga (A HDMC teve 65% do mercado de motocicletas vendidas nos EUA, em 2012).
A Fat Boy
foi projetada pelo legendário Willie G. Davidson e foi lançada em uma só cor:
cinza prata.
Paralamas, tanque de combustível, tanque de óleo e até o quadro eram pintados na
mesma cor.
Finos anéis em amarelo foram aplicados em vários pontos, como na
tampa de inspeção da primária, chave de ignição, cabeçotes e no escudo do
tanque de combustível.
A Fat Boy
1990 também veio com revolucionárias inovações, como freio a disco, escapamento tipo escopeta, novo estilo de
guidão, novos paralamas, bancos trançados à mão e novo painel do tanque.
Os anéis
dourados foram pintados sómente nas primeiras 1.440 Fat Boy construídas. Nem a cor
prateada (Grey Ghost, era o nome oficial da cor) nem os anéis foram usados em
nenhum outro modelo de Fat Boy nos anos seguintes. Isto transformou esta motocicleta em objeto de
desejo dos colecionadores.
A História
Nas duas
décadas anteriores, fabricantes japoneses (Honda, Yamaha, Suzuki e Kawasaki) inundaram o mercado americano com centenas de milhares de motocicletas cruiser, a preços menores.
Este fato, aliado à gestão desastrosa da AMF - que havia
assumido o controle da H-D de 1969 a 1981 - levou as vendas da Harley-Davidson a níveis
muito abaixo de sua capacidade produtiva, colocando em risco a sobrevivência da
marca.
Em 1981 um
grupo de 11 investidores, liderados por Willie G. Davidson e Vaughn L. Beals
(que era o presidente da H-D, na ocasião), comprou o controle da companhia das
mãos da AMF, por US$65 milhões.
A partir daí a recuperação da marca
Harley-Davidson decolou, com a criação do H.O.G. em 1983 e o lançamento da Fat Boy em
1990, depois de quase 6 anos em fase de projeto e testes.
Mas a
história da icônica motocicleta começou muito antes.
O modelo Softail, linha a
que pertence a Fat Boy, foi desenvolvido a partir de 1974 por Bill Davis, um
engenheiro de St. Louis, Missouri, apaixonado pelas motocicletas
Harley-Davidson.
A idéia básica era uma balança móvel presa ao quadro da
motocicleta e apoiada por molas e amortecedores escondidos debaixo do banco.
Com isto Davis conseguia manter a silhueta das motocicletas "rabo
duro" - marca registrada da Harley-Davidson - mas com o conforto das
motocicletas modernas.
O primeiro modelo foi construído a partir de uma H-D
Super Glide 1972, que Davis transformou e patenteou. Em 1976 Davis conseguiu
uma reunião com Willie G., que ficou impressionado com
o projeto, mas não tinha como usá-lo devido à resistência dos executivos da
AMF.
Bill Davis
continuou a aperfeiçoar seu projeto, com várias modificações que permitiram,
inclusive, que o tanque de óleo lubrificante ficasse escondido debaixo do banco
do piloto.
Davis
tentou produzir seu projeto em larga escala, sózinho, mas não conseguiu investidores
para apoiá-lo financeiramente.
Em janeiro de 1982 Bill Davis reuniu-se novamente com a H-D e vendeu a patente, o protótipo e o ferramental para a
Harley-Davidson.
Depois de vários testes e maior desenvolvimento do projeto, a
idéia original de Bill Davis ganhou as estradas na forma da Harley-Davidson FXST
Softail 1984.
A partir
daí, o gênio criativo de Willie G. transformou aquela jóia, ainda não lapidada, criando a Harley-Davidson FLSTF Fat Boy 1990.
A Lenda
A
combinação da "invasão" do mercado pelos fabricantes japoneses e
algumas coincidências nas cores empregadas no acabamento da Fat Boy, foi o
terreno fértil para o surgimento de uma das maiores lendas urbanas do
motociclismo.
Segunda a
lenda, a Fat Boy seria uma versão em duas rodas das bombas atômicas lançadas
sobre Hiroshima e Nagasaki, durante a Segunda Guerra Mundial.
Vamos ver
as coincidências entre a Fat Boy e as bombas atômicas e suas explicações
óbvias:
1 - Cor
A primeira Fat Boy era pintada na cor
prata. Dizia-se que os bombardeiros B-29, da Força Aérea do Exército dos EUA,
eram pintados nesta cor. Na realidade os
B-29 não eram pintados. A fuselagem era de alumínio polido.
B-29 "Enola Gay", que lançou a bomba "Little Boy" em Hiroshima. A aeronave está preservada no Smithsonian Air & Space Museum, em Washington, DC. |
B-29 "Bock's Car, que lançou a bomba "Fat Man" em Nagasaki. Está exibição no U.S. Air Force Museum, em Dayton, Ohio. |
2 - Rodas
As
rodas da Fat Boy seriam uma réplica daquelas usadas nos B-29. Outro mito. A
única coisa em comum entre os dois modelos de rodas são os orifícios orbitais.
As rodas de
16 polegadas em alumínio usinado, usados na Fat Boy foram um marca
registrado do modelo. Sómente a partir de meados da década passada outros
modelos H-D foram equipados com este tipo de roda.
3 - Anéis
Sete anéis dourados podem ser encontrados na
pintura original da Fat Boy 1990. Seria uma referência aos sete anéis dourados
pintados nas bombas atômicas.
Mito, outra vez. Não havia anéis pintados nas bombas.
A bomba "Fat Man", lançada sobre Nagasaki, sendo levada para a B-29 "Bock's Car". |
A bomba "Little Boy", antes de ser carregada no B-29 "Enola Gay", que a lançou sobre Hiroshima. |
Este
anéis dourados foram pintados unicamente nas primeiras 1440 Fat Boy construídas
em 1990. Nem a cor prateada (Grey Ghost, era o nome oficial da cor) nem os
anéis foram usados em nenhum outro modelo depois disso.
4 - O nome
Fat Boy seria uma referência aos nomes dados às bombas: Fat Man e Little Boy.
Primeiro,
temos que entender os nomes de código para as operações de bombardeio de
Hiroshima e Nagasaki.
Na
realidade havia três missões de bombardeio planejadas: "Fat Man",
"Little Boy" e "Thin Man".
Os nomes foram escolhidos pelo
Engenheiro Robert Serber, um dos participante do "Projeto Manhattan", que
desenvolveu as bombas atômicas, sob a direção do General de Divisão Leslie R.
Groves Jr e do físico Robert Oppenheimer.
Os nomes foram baseados no perfil
físico dos aparatos. Segundo o próprio Robert Serber, o nome "Thin
Man" foi devido ao fato da bomba ser comprida e lembrá-lo do personagem de
uma série de novelas de detetives, escrita por Dashiell Hammett, transformada em filmes.
Cápsulas de titânio, usadas nos testes de lançamento da bomba "Thin Man". |
A "Fat Man" era redonda e gorda,
lembrando o personagem Kasper Gutham, do romance "O Falcão Maltês".
Já a "Little Boy", a última a ser construída, foi um contraste para o
nome "Thin Man".
Réplicas da "Little Boy", em primeiro plano, e da "Fat Man". Ambas expostas no Smithsonian. |
A Realidade
Tudo isto
foi o resultado da imaginação fértil de alguém.
A primeira Fat Boy foi pintada
de prata por ser uma cor considerada atrativa pelos projetistas da
Harley-Davidson.
Os anéis dourados não tinham nada a ver com bombas (eram meros detalhes decorativos, retirados nos anos seguintes) e o nome
"Fat Boy" foi escolhido pela aparência larga da motocicleta, quando
vista de frente.
Do filme "O Exterminador do Futuro". |
Mas, como sempre acontece, a lenda é sempre mais interessante
do que a realidade.
As Harley-Davidson Fat Boy
foram inicialmente equipadas com o motor Evolution de 80 cu.in (1340cc),
adotados pela HD desde 1984. A partir de 2000 o motor usado foi o V-Twin 88
(1450cc) e o V-Twin 1600cc foi utilizado a partir de 2007, juntamente com a caixa de marchas
de 6 velocidades.
Como o
motor não é montado sobre coxins de borracha, os motores criavam muita vibração
nos modelos Softail. Por isso a Harley-Davidson usa virabrequins balanceados
nas Fat Boy.
A Harley-Davidson Fat Boy é uma
motocicleta agradável de pilotar, em qualquer velocidade, graças
ao centro de gravidade baixo.
Com um motor extremamente confiável e uma caixa
de marchas suave e bem dimensionada, produz um som que é uma verdadeira
sinfonia para os ouvidos dos apaixonados por motocicletas.
2014 Harley-Davidson Fat Boy. |
Em produção
desde 1990, esta maravilha mecânica estará nas estradas do mundo ainda por
muitos anos.
Excelente matéria! Talvez seja o resumo mais rico em conteúdo que encontrei na Internet até agora.
ResponderExcluirEXCELENTE FONTE DE INFORMAÇAO.. PARABENS
ResponderExcluirBoa matéria !
ResponderExcluirTenho uma Fat 2000, vc saberia me dizer a origem dela? Já eram vendidas aqui? Eram só importadas na época?
ResponderExcluirA linha de montagem da H-D em Manaus foi inaugurada em 1998. Provavelmente a sua Fat 2000 já foi montada no Brasil.
ExcluirExcelente texto, bem detalhado. Parabéns.
ResponderExcluirMuito obrigado por nos acompanhar.
ExcluirParabéns pelo excelente texto, sem dúvida a matéria mais completa feita em terras tupiniquins. Noga
ResponderExcluirMuito obrigado, Noga.
ExcluirMuito obrigado, Noga.
ExcluirExcelente texto, muito esclarecedor. Eu pensava que as letras FLSTF se referiam à uma edição especial da Fat Boy, mais baixa e com entre eixos menor. Isso procede?
ResponderExcluirHenrique, obrigado por nos acompanhar. As primeiras duas letras designam o tipo de motor e da dianteira da moto. No caso FL quer dizer alta compressão (entre 80 e 96 cu.in) e pneu mais largo na roda dianteira; a terceira letra mostra o modelo do quadro ST significa quadro Softtail. Finalmente a última letra indica o modelo dentro de uma familia. No caso o F quer dizer Foot Shift (mudança no pé).
Excluirmuito bom tirou um pouco do sonho.
ResponderExcluirTodos os modelos HD já usavam freio a disco em 1990, portanto dizer que foram uma novidade introduzida na Fat Boy não eatá correto, da mesma maneira o que trata da roda em alumínio usinado que já era usada como roda traseira na Softail Custom desde 1984!
ResponderExcluirMatéria muito bem escrita e ilustrada! Parabéns!
ResponderExcluirObrigado por nos acompanhar.
ResponderExcluirTenho a minha Fat há 10 anos. Comprei zero. Amo ela. Ja fiz longas viagens. Hoje está com 101k kms. Muito confiavel. É ligar e rodar! Tanto na estrada como na cidade. Se tornou meu veiculo de todo dia.
ResponderExcluirBoa matéria, mas as coincidências são muitas para dizer que se trata de uma "lenda urbana". Porque do nome escolhido Fat Boy? Porque as rodas maciças nunca antes utilizada? Porque da cor cinza prata que se assemelha ao aço sem pintura dos bombardeios? Porque das asas no logo fat boy do tanque imitando o logo da força aérea americana na época da segunda guerra? Sem contar que o lançamento veio para acabar com a "guerra" travada com as marcas japonesas em pleno território americano... Enfim, são muitas coincidências para serem apenas coincidências...
ResponderExcluirTenho uma fat boy lo 2015, uma beldade, para mim, a oitava maravilha do mundo.
ResponderExcluirdesculpai a modestia. Quanto ao texto, excelente.
o meu obrigado
03/03/2024