quarta-feira, 28 de abril de 2021

A pandemia está prejudicando o aeromodelismo?

 

N/M "Cap San Juan", da Hamburg Sud.
Desde meados de 2020 o histerismo que acompanha a pandemia do coronavirus começou a impactar a logística internacional.

90% de tudo o que é produzido e comercializado neste planeta é transportado por navios nos oceanos, lagos, rios e canais navegáveis.

A Marinha Mercante mundial transporta mais de 11 bilhões de toneladas, todos os anos. Os valores gerados na navegação chegam a mais de 14 trilhões de dólares anualmente!

Mais de 50.000 navios, registrados sob as bandeiras de 150 nações e operados por mais de um milhão de tripulantes executam esta missão.

Estes números são de 2019 e, claro, foram fortemente atingidos pela recessão causada pela maneira atrapalhada com que a maioria dos países do mundo vem conduzindo esta emergência sanitária.

Mesmo assim, a projeção é de aumento considerável para os próximos anos.

Mas o que está acontecendo hoje, depois de um ano do Covid-19?

Não há espaço nos navios! Não há containers em número suficiente para atender a demanda!

Quando os países pararam suas indústrias, fecharam seu comércio e colocaram todo mundo (ou uma boa parte dele) dentro de casa, as companhias de navegação começaram a desativar sua frota. Encomendas de novos navios e novos containers foram canceladas. Tripulações dispensadas.

Quando a economia mundial começou a recuperar-se, no final de 2020, a logística sentiu o resultado da loucura.

Um gargalo comercial originado do surto de COVID-19 fez com que as empresas americanas aguardassem ansiosamente por produtos da Ásia - enquanto na costa da Califórnia, dezenas de navios porta-container estão ancorados, incapazes de descarregar sua carga.

A pandemia tem causado estragos na cadeia de abastecimento desde o início de 2020, quando forçou o fechamento de fábricas em toda a China. As sementes dos problemas atuais foram plantadas em março passado, quando os americanos ficaram em casa e mudaram drasticamente seus hábitos de compra - em vez de roupas, eles compraram eletrônicos, equipamentos de ginástica e produtos de reforma. As empresas americanas responderam inundando as fábricas asiáticas reabertas com pedidos, levando a uma reação em cadeia de congestionamento e obstáculos nos portos e centros de carga em todo o país quando as mercadorias começaram a chegar”.(Associated Press, março 2021)

Aqui no Brasil, se você tem um container para exportar, é melhor ter paciência; só há espaço disponível nos navios a partir de junho!!

Porta-container da Maersk no terminal Yangshan Deepwater Port, Shanghai.

Mas como isto tem afetado o aeromodelismo?

Da mesma maneira que tem afetado todo o resto: escassez e aumento de preço!

Há falta de baterias para aeromodelismo. Os kits desapareceram do mercado.

Grandes empresas que comercializam produtos para aeromodelistas, como a Horizon Hobby e Tower Hobbies dos EUA, têm produtos que estão fora de estoque há meses.

Site da Horizon Hobby - servos Spektrum

Um bom exemplo é o novo kit da Hangar 9 - OV-10 Bronco 30ccARF – anunciado em novembro de 2020 e com previsão de disponibilidade para entrega a partir junho de 2021!!!!

Faça uma busca no YouTube e os únicos Broncos que aparecem lá são os construídos pelo próprio pessoal da Horizon nos EUA e na Europa.

Mesmo nos sites chineses alguns produtos levam semanas em “back order”.

O distribuidor da Graupner nos EUA, Control Hobbies, não tem um servo, ao menos, para venda. A fábrica não recebe os chips empregados na sua fabricação e a melhor expectativa é que voltem a ser comercializados no final do ano, somente.

Vamos esperar para ver o acontece.


terça-feira, 27 de abril de 2021

DHC-1 Chipmunk - kit da Dynaflite - voando há mais de 20 anos

 

No Clube Fênix de Radiomodelismo, Curitiba, julho 2019

Este é o meu DHC-1 Chipmunk, nas cores da Real Força Aérea do Canadá.

Detalhes:

  • Envergadura: 2,26m
  • Comprimento: 1,72 m
  • Peso: 6kg
  • Motor DLE 20RA

Construído a partir do kit da Dynaflite, o aeromodelo tem bem mais de 20 anos de voo e foi reformado duas vezes.

Com o esquema de cores original, em 2003. Motor Zenoah G-23.
OTOW RC Flyers, Ocala, Flórida

Com meu saudoso amigo Herb Brokhof, no Joe Nall 2005,
em Woodruff, Carolina do Sul.
Este vídeo foi gravado logo depois do Natal de 2020 e editado pelo meu filho Marcus Roque:


Cuidados com baterias LiPo

Meu amigo Mario Neto, usuário de equipamentos Graupner e um entusiasta de propulsão elétrica para o aeromodelismo, me enviou um artigo publicado na página do Club Aéromodélisme Marcy Savigny, da cidade de Marcy-lÉtoile, na França.

O artigo foi escrito por Mike Freeman, colunista da revista britânica RCM&E, traduzido para o francês por Pierre-Xavier O e publicado na página do Clube francês na Internet. Não consegui achar o texto original.

Fiz uma adaptação do artigo para o português usando meu francês bem enferrujado e alguma ajuda do Google.

Bateria LiPo Inchada?

A bateria de polímero de lítio (LiPo) é a mais usada fonte de energia para aeromodelos elétricos, uma alternativa para a propulsão com motores a explosão. O artigo mostra os motivos do inchaço nas LiPo e o que se recomenda para o cuidado das baterias e como estender sua vida útil.

Por que a LiPo começa a inflar?

Se uma bateria LiPo começa a inchar é um claro sinal de que sua vida útil está chegando ao fim. Há vários motivos para que isto aconteça e saber isto é irrelevante para a maioria dos aeromodelistas. As causas são as seguintes – sem ordem específica – com todas as combinações possíveis:

  • Calor excessivo
  • Corrente de descarga excessiva
  • Tensão muito baixa
  • Armazenamento longo com carga total
  • Resistência interna aumentada
  • Idade
  • Defeito de fabricação.

 Como é construída uma bateria LiPo

Se observar com detalhes uma bateria LiPo ou de qualquer química semelhante (Li-On, LiFe, etc.) vai notar que ele é construída com várias pilhas de folhas, cada uma das pilhas sendo uma célula. O número expresso na embalagem (2S, 3S, 4S, etc.) representa a quantidade de pilhas utilizadas na construção da bateria, onde a letra “S” significa simplesmente que as pilhas estão ligadas em série.


Como em todas as baterias existentes, cada uma delas tem três componentes: um catodo, um anodo e um eletrólito. Em uma célula LiPo existem várias camadas de anodo e catodos separados pelo eletrólito, que é integrado em um separador isolante, evitando o contato entre as camadas.

As camadas catódicas conectadas entre si formam o polo positivo. As camadas de anodo formam o polo negativo. Ambas as camadas são formadas por compostos de lítio misturados a nível molecular com outros elementos (que depende da cada fabricante) e o eletrólito é polímero condutor que permite que os íons fluam do catodo para o anodo na carga e do anodo para o catodo no uso ou descarga da bateria.

Quando a bateria sofre abuso por sobrecarga, descarga excessiva (em corrente e/ou voltagem), por superaquecimentos ou armazenagem por longo tempo com carga máxima, diferentes reações químicas ocorrem dentro das células. Isto leva os átomos de lítio a escapar dos anodos e catodos, além de provocar o escapamento de oxigênio que abandonam os eletrodos e o eletrólito.  A combinação dos átomos de oxigênio com os dois átomos de lítio forma óxido de lítio, uma espécie de ferrugem que bloqueia a corrente elétrica, aumentando a resistência interna da bateria.

A combinação dos átomos de oxigênio  como outros formam dióxido e monóxido de carbono, o que provoca o inchaço da bateria.

Sendo um metal alcalino, o lítio forma uma reação violenta na presença de água, mas nas baterias que usamos o lítio é hermeticamente selado dentro das camadas que constituem uma bateria LiPo.

As reações químicas que podem ocorrer durante uma sobrecarga (corrente ou voltagem excessiva), mais átomos de lítio e de oxigênio são liberados, com maior produção de óxido de lítio e o consequente aumento da resistência interna da bateria, provocando calor excessivo, que libera mais átomos de lítio e de oxigênio, numa espiral de divergência infernal. Neste caso extremo a pressão interna das células pode chegar a um ponto que provoque o rompimento do isolamento hermético do lítio. A combinação dos gases lítio e oxigênio com mais oxigênio e vapor de água pode levar à combustão espontânea.

Tais condições extremam só acontecem se a bateria LiPo tiver sofrido abuso (ou acidente) ou tiver um defeito inerente em sua fabricação.

Segundo o autor do artigo, uma bateria LiPo pode sofre até 2 mm de inchaço ao longo de sua vida útil. Mais que isto, deve ser descartada imediatamente.

Meu Pitts S-2B 33% usa uma LiFe 3000 mAh para o receptor 
e uma LiPo 2250 mAh para a ignição do DLA 64cc Twin

Como evitar o inchaço nas baterias LiPo

  • Evite tempo muito quente: o calor é o inimigo número um das baterias LiPo. A temperatura máxima aceitável (durante a carga ou uso) é em torno de 55-60° C. Nunca deixe a bateria dentro de um veículo no sol ou dentro de uma garagem fechada, no verão. Se a bateria estiver mais quente que uma xícara de café, por exemplo, é um mau sinal.
  • Evite descargas violentas, com corrente excessiva. Nunca ultrapasse a capacidade máxima de descarga, informada com o número seguido da letra “C”. O ideal é que a descarga fique entre 50% e 80% da capacidade máxima declarada no número C.
  • Evite sobrecarga. As baterias modernas podem suportar até 5C de carga, mas isto vai reduzir drasticamente sua vida útil. Deve-se limitar a corrente de carga a um máximo de 1 -1,5 C. Por exemplo numa LiPo de 2200 mAh, use uma corrente de carga entre 2,2 A e 3,3 A.

O Mario Neto recomenda que em baterias com capacidade de 5C ou mais, uma taxa de recarga até 3C pode ser usada e dá um bom equilíbrio no uso, agregando velocidade na recarga e diminuindo somente de 15 a 20% a vida útil da bateria.

A carga deve ser, sempre, feita com balanceamento para garantir que cada célula carregue até um máximo de 4,2 V. Isto se altera com a temperatura do ambiente onde está sendo carregada. Numa temperatura de 10°C, a carga máxima deve ser de 4,1 volts. Assim, ao carregar a bateria dentro de casa, no inverno, observe como está a temperatura ao ar livre e se direcione de acordo. Isto vai maximizar a vida útil da bateria.

Nunca deixe uma bateria LiPo descarregar abaixo de 3 volts por célula! 

Ao final de um voo a voltagem deve ser de pelo menos de 3,7v. Qualquer valor abaixo disto indica que tensão da célula caiu abaixo de 3v durante o voo. Um testador de bateria é um instrumento indispensável na sua caixa de campo!

Sempre armazene suas baterias com 50% de sua capacidade máxima. A maioria dos carregadores de qualidade, tem a opção de armazenamento (Storage). Sempre coloque suas baterias na condição de armazenamento ao final do dia.

Resistência interna

Este é um assunto bastante discutido e controverso, mas a regra geral é manter a resistência interna de cada célula abaixo de 20 microOhms.

De novo, o Mario Neto nos dá sua recomendação, com a experiência de 15 anos voando exclusivamente aeromodelos elétricos:

  • Baterias para motor: baterias com células que estejam abaixo 8 microOhms
  • Baterias para servos: abaixo de 15 microOhms
  • Baterias para ignição de motor a gasolina: abaixo de 20 microOhms

Ele recomenda o descarte da bateria com células acima desses valores, pois a possibilidade de aquecimento da célula é grande.

Bons voos.

sábado, 24 de abril de 2021

Hangar 9 Pitts S-2B 1/3 Escala - Terceira parte: Primeiro voo

 

Hangar 9 Pitts S-2B 1/3 Escala - DLA 64cc Twin Boxer
Finalmente fizemos o primeiro voo do Pitts S-2B da Hangar 9. 

A demora foi devido à facectomia a que fui submetido e que demanda um tempo para estabilização antes que a nova prescrição de lentes corretivas possa ser feita.

Assim, pedi ao meu amigo Alexandre Aguirre para fazer o primeiro voo, já que sem as lentes corretivas as imagens ficam um pouco fora de foco em determinadas posições e decidi não arriscar. Foi uma boa decisão!

Vejam o vídeo:

O que constatamos:

  • A decolagem é tranquila e o avião é muito estável em voo.
  • O motor DLA 64cc Twin Boxer é excelente: ótimo desempenho e baixa vibração
  • O CG do aeromodelo ficou em 145mm do bordo de ataque na seção central da asa superior. A Hangar 9 testou o protótipo com CGs entre 101mm e 163mm.  
  • Não houve necessidade de trimagens expressivas. O avião voa muito bem, como construído.
  • O Pitts exige o uso do leme nas curvas e é fundamental no pouso. Fiz uma mixagem aileron/leme com chave de liga/desliga. Ficou perfeito.
  • O aeromodelo, como todo Pitts Special, pede motor no pouso. Cuidado com estol, pois entra em parafuso direto!
  • O desempenho é muito semelhante ao Pitts Special da Great Planes, que construí em 2003 e que foi equipado com um motor Zenoah G-45.
Pitts Special da Great Planes - Motor Zenoah G-45
Se vocês acham que eu exagerei nos comentários sobre o pouso, assista este vídeo de um piloto acrobático que já voa o Pitts há alguns anos!!!


Vejam as postagens anteriores do Pitts S-2B da Hangar 9:

sábado, 3 de abril de 2021

Hangar 9 Pitts S-2B 1/3 Escala - melhorando o arrefecimento do motor

Meu Pitts S-2B 1/3 Escala, motor DLA 64cc Twin
Algo que me preocupou neste kit da Hangar 9, foram as aberturas para entrada e saída do ar de arrefecimento do motor

O cowling é bem escala mas o sistema de propulsão que usamos não é! 

A regra básica no aeromodelismo com motor a explosão diz que a área de escape do ar no capô tem que ser, no mínimo, o dobro da área de entrada.

Checando o capô do kit, verifiquei que a área de saída é somente 20% maior do que o da entrada. Entrei em contato com o SAC da Horizon Hobby (o pior da indústria, na minha opinião!) e perguntei se eles tinha encontrado algum problema de aquecimento nos protótipos que montaram e qual a recomendação que poderiam fazer. A resposta foi bem idiota: "You may want to enlarge the exhaust area to your liking." Tradução: "Você pode querer aumentar a área de exaustão a seu gosto." Uma resposta mais idiota que esta é quase impossível.

Sem o suporte do fabricante, partimos para o Plno B. Uma das opções para melhorar o arrefecimento é direcionar o fluxo de ar frio diretamente sobre o cilindro do motor (cilindros, neste caso). O ar, como todo fluído, percorre sempre o caminho com menor resistência e isto deve aumentar a troca de calor dentro do capô.

Foi assim que fiz:

1 - usei papelão para fazer o molde. No caso do DLA 64 Twin, por ser bicilindro, os moldes são diferentes em cada lado.


Este é o molde do cilindro direito, que
fica mais à ré.
2 - Enrolei os moldes com filme de PVC - do tipo que se usa na cozinha - para isolar o molde e usei manta leve de fibra de vidro e compensado de 3 mm para aumentar a rigidez, sem acrescentar peso. Dilui a resina epóxi com álcool e apliquei.



Cilindro esquerdo.

Molde do cilindro direito, na posição.
3 - Usei cola epóxi para a fixação, reforçando com adesivo Veda-Choque.

Os dois dutos, vistos de dentro do capô. O cilindro 
esquerdo já pintado de preto fosco.

Os dutos dos dois cilindros, prontos.
Acho que ficou bom. Vamos ver na prática.

Veja mais sobre este aeromodelo aqui e aqui.