As vírgulas
sempre foram um problema. Na época da escola, a dificuldade era encontrar o
momento exato para usá-las. Às vezes pecava-se pelo excesso, em outras, pela
escassez.
Mas a
resposta estava nas gramáticas, bastava aplicar as inúmeras regras.
Porém, é ao
sair da escola que as coisas começam a complicar.
Continuamos
com dificuldade de usar as temidas vírgulas.
Não
conseguimos dar o respiro necessário, a pausa imprescindível, o fôlego
essencial para seguir adiante.
Iniciamos
uma leitura sem fim, sem pausa, em uma estrada reta, sem curvas.
Trabalhamos
estudamos cuidamos dos filhos comemos dormimos um pouco agendamos reuniões
marcamos médico compramos roupas.
Isso tudo
sem vírgulas, sem aquela ruptura, sem a surpresa, sem a viagem de motocicleta,
sem realizar aquele desafio sobre duas rodas que estamos planejando há meses ou
até anos.
O pior é
que não há regras a seguir, não há gramática que possa nos auxiliar.
E não são
apenas as vírgulas que estão em extinção nos dias de hoje.
As
reticências também andam sumidas. Ah, as reticências...
Como disse
Mario Quintana, "as reticências são os três primeiros passos do pensamento
que continua por conta própria o seu caminho".
Mas as
pessoas desaprenderam a usar as incertas reticências. Preferem abusar de pontos
finais.
São
irredutíveis, convictas, previsíveis, racionais. Esquecem a beleza do incerto,
do desconhecido, de partir em uma viagem não programada, sem destino ou roteiro
milimetricamente pontuado.
Esquecem a
adrenalina de apenas sair e rodar por aí....
Vamos
aproveitar que estamos colocando os pontos nos i's e falar um pouco das aspas.
As aspas
continuam em alta, utiliza-se sem parcimônia, porém o propósito nem sempre é o
mais nobre.
Usam-se as
aspas para incentivar um tal de "fulano disse que", "sicrana me
contou", "beltrano falou".
Por isso,
defendemos o uso consciente das aspas. Abra aspas para seu coração, escute e dê
voz a ele.
Abra aspas
para sua mente inquieta e pegue a estrada assim que ela estiver sussurrando (ou
gritando) por um pouco de vento no rosto e curvas acentuadas.
Enfim,
Fazedor de Chuva, abra aspas para você, mas sem ignorar as fundamentais (e um
tanto esquecidas) vírgulas e ...
Excelente texto de Cesar Macedo, postado no site dos Fazedores de Chuva.
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