N/M "Carl Hoepcke", passando pela ponte Hercílio Luz. |
O N/M Carl
Hoepcke foi um navio da Empresa Nacional de Navegação Hoepcke, de
Florianópolis, SC.
Foi
construído em 1926 no estaleiro F. Schichau Werft GmbH, de Elbing, próximo a
Danzig (atual Gdańsk), então parte da Alemanha.
Tinha 62,4
metros de comprimento, 10,96 metros de boca
e calado máximo de 12 pés (3,66 metros). Era propulsado por dois motores diesel de 1.200
HP, acionando dois hélices. Era equipado com câmara frigorífica e máquina de gelo.
Foi
incorporado à pequena frota da ENNH em julho de 1927, ao chegar em
Florianópolis vindo de Hamburgo, com um carregamento de 900 toneladas de
carvão.
O fundador da ENNH, Carl Franz Albert Hoepke, havia falecido em 1924 e o navio foi
batizado por sua neta de 14 anos, Ilse Weineck.
A ENNH
tinha sua base no Porto de Florianópolis, com cais e trapiche próprios, na
praia de Rita Maria, próximo de onde se encontra a desativada Ponte Hercílio
Luz.
A sua frota
consistia de mais 3 navios:
N/M Max,
construído na Alemanha em 1897, foi o primeiro navio da companhia.
N/M Meta,
adquirido em 1905, construído no Estaleiro AG Vulcan, de Hamburgo
N/M Anna, adquirido em 1909, também construído na
Alemanha.
O N/M Carl
Hoepcke era um navio moderno para a época e bastante luxuoso. Acomodava 50
passageiros na primeira classe e 60 passageiros na terceira classe. Tinha ainda
2 camarotes de luxo, que eram usados pela família Hoepcke em suas viagens no
navio.
Era
equipado com dois salões: um refeitório com mesas redondas e cadeiras
giratórias e o “fumador”, com divãs e poltronas em couro.
No
refeitório havia um piano, que na maioria das vezes era tocado pelo
telegrafista de bordo, que também era pianista, Cristaldo Araújo. Pratarias e
louças finas davam um requinte aos ambientes.
Ele operou
sob a bandeira da ENNH de 1927 a 1960, ligando os portos de Laguna,
Florianópolis, Itajaí e São Francisco do Sul a Santos, São Sebastião, Ilhabela,
Ubatuba e Rio de Janeiro.
Aviso de saídas, publicado em jornal de Santos, SP |
Em setembro
de 1939 em rota para o Rio de Janeiro, o navio bateu e encalhou numa laje de
pedra nas costas de Armação da Piedade, hoje parte da cidade de Governador
Celso Ramos, ao norte Florianópolis. O navio desencalhou por meios próprios e
foi rebocado para o Estaleiro Arataca, de propriedade da ENNH, onde foi
reparado.
Na tarde de
27 de setembro de 1956, o N/M Carl Hoepcke teve um incêndio na praça de
máquinas, a 15 milhas náuticas do porto de Santos, de onde tinha zarpado. Havia
130 passageiros a bordo. Houve pânico e muitos passageiros se jogaram ao mar,
mas foram resgatados, com a perda de uma vida.
O incêndio
só foi debelado no dia seguinte, com uma manobra arriscada da tripulação: foram
abertas as válvulas de fundo, para que a água do mar invadisse o navio e
apagasse o fogo. O navio foi rebocado
para Florianópolis pelo N/M Anna, da mesma empresa.
O N/M Carl Hoepck, ainda como navio de passageiros, atracando no cais Rita Maria |
Na obra de
recuperação do incêndio o N/M Carl Hoepcke foi transformado de navio de
passageiros para cargueiro, perdendo o glamour que o cercou durante 29 anos.
Devido ao
custo de dragagem permanente do canal de acesso à baía norte e a priorização
dada ao transporte rodoviário de carga, o porto de Florianópolis foi fechado, em
1964. Em consequência, a Empresa Nacional de Navegação Hoepcke foi desativada e
seu porto e trapiche fechados definitivamente. Todos os navios foram vendidos.
O aterro
realizado em 1973 acabou, definitivamente, com a Praia Rita Maria e toda a
história daquele importante local para Santa Catarina.
Durante
algum tempo o N/M Carl Hoepcke navegou, desta vez com o nome de N/M Paissandu.
Mais tarde foi vendido a empresários de São Paulo e rebocado, já sem os
motores, para o porto de Santos.
O navio foi
novamente batizado, desta vez com o nome de Recreio e transformado em
restaurante e boate flutuante. Sua última atividade foi a festa do réveillon de
1971.
Na madrugada
de 26 de fevereiro de 1971, um temporal com fortes ventos rompeu suas amarras e ex-Carl Hoepcke foi
lançada na areia da Ponta da Praia, em Santos. Uma tentativa de desencalhe foi
feito, sem sucesso, meses depois. Mais tarde tentou-se desmanchar o navio,
cortando-o com maçarico, mas a empreitada também foi descontinuada. Ele
continuou ali, abandonado por seus proprietárias e pelas autoridades marítima e
portuária, durante 30 anos.
Aos poucos
o mar e a areia foram encobrindo o casco abandonado, que reapareceu, como um
fantasma em 1999, criando uma séria questão de segurança na praia.
O "Recreio", ex-Carl Hoepcke, encalhado em Santos |
Casco soçobrado do Carl Hoepcke, aparecendo na baixa da maré, em Santos |
Em janeiro
de 2006 a prefeitura de Santos começou a remover os destroços, com os serviços
sujeitos aos movimentos da maré e ao bom tempo.
A maior parte do casco do Carl
Hoepcke havia sido retirada no final de 2009, quando os serviços foram
suspensos. Mas as partes ainda existentes continuam a oferecer risco aos
banhistas.
Operários trabalhando nos restos do ex-Carl Hoepcke |
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