segunda-feira, 28 de setembro de 2015

N/M "Carl Hoepcke": Vida e Morte de um navio

N/M "Carl Hoepcke", passando pela ponte Hercílio Luz.
O N/M Carl Hoepcke foi um navio da Empresa Nacional de Navegação Hoepcke, de Florianópolis, SC.

Foi construído em 1926 no estaleiro F. Schichau Werft GmbH, de Elbing, próximo a Danzig (atual Gdańsk), então parte da Alemanha.

Tinha 62,4 metros de comprimento, 10,96 metros de boca e calado máximo de 12 pés (3,66 metros). Era propulsado por dois motores diesel de 1.200 HP, acionando dois hélices. Era equipado com câmara frigorífica e máquina de gelo.

Foi incorporado à pequena frota da ENNH em julho de 1927, ao chegar em Florianópolis vindo de Hamburgo, com um carregamento de 900 toneladas de carvão. 

N/M Carl Hoepcke
O fundador da ENNH, Carl Franz Albert Hoepke, havia falecido em 1924 e o navio foi batizado por sua neta de 14 anos, Ilse Weineck.

A ENNH tinha sua base no Porto de Florianópolis, com cais e trapiche próprios, na praia de Rita Maria, próximo de onde se encontra a desativada Ponte Hercílio Luz.

Cais Rita Maria, com o Carl Hoepcke, Anna e Max atracados.
A sua frota consistia de mais 3 navios:
N/M Max, construído na Alemanha em 1897, foi o primeiro navio da companhia.
N/M Meta, adquirido em 1905, construído no Estaleiro AG Vulcan, de Hamburgo
N/M Anna, adquirido em 1909, também construído na Alemanha.

O N/M Carl Hoepcke era um navio moderno para a época e bastante luxuoso. Acomodava 50 passageiros na primeira classe e 60 passageiros na terceira classe. Tinha ainda 2 camarotes de luxo, que eram usados pela família Hoepcke em suas viagens no navio.

Era equipado com dois salões: um refeitório com mesas redondas e cadeiras giratórias e o “fumador”, com divãs e poltronas em couro.

No refeitório havia um piano, que na maioria das vezes era tocado pelo telegrafista de bordo, que também era pianista, Cristaldo Araújo. Pratarias e louças finas davam um requinte aos ambientes.

Ele operou sob a bandeira da ENNH de 1927 a 1960, ligando os portos de Laguna, Florianópolis, Itajaí e São Francisco do Sul a Santos, São Sebastião, Ilhabela, Ubatuba e Rio de Janeiro.

Aviso de saídas, publicado em jornal de Santos, SP
Em setembro de 1939 em rota para o Rio de Janeiro, o navio bateu e encalhou numa laje de pedra nas costas de Armação da Piedade, hoje parte da cidade de Governador Celso Ramos, ao norte Florianópolis. O navio desencalhou por meios próprios e foi rebocado para o Estaleiro Arataca, de propriedade da ENNH, onde foi reparado.

Na tarde de 27 de setembro de 1956, o N/M Carl Hoepcke teve um incêndio na praça de máquinas, a 15 milhas náuticas do porto de Santos, de onde tinha zarpado. Havia 130 passageiros a bordo. Houve pânico e muitos passageiros se jogaram ao mar, mas foram resgatados, com a perda de uma vida.

O incêndio só foi debelado no dia seguinte, com uma manobra arriscada da tripulação: foram abertas as válvulas de fundo, para que a água do mar invadisse o navio e apagasse o fogo.  O navio foi rebocado para Florianópolis pelo N/M Anna, da mesma empresa.

O N/M Carl Hoepck, ainda como navio de passageiros, atracando no cais Rita Maria
Na obra de recuperação do incêndio o N/M Carl Hoepcke foi transformado de navio de passageiros para cargueiro, perdendo o glamour que o cercou durante 29 anos.

Devido ao custo de dragagem permanente do canal de acesso à baía norte e a priorização dada ao transporte rodoviário de carga, o porto de Florianópolis foi fechado, em 1964. Em consequência, a Empresa Nacional de Navegação Hoepcke foi desativada e seu porto e trapiche fechados definitivamente. Todos os navios foram vendidos.

O aterro realizado em 1973 acabou, definitivamente, com a Praia Rita Maria e toda a história daquele importante local para Santa Catarina.

Durante algum tempo o N/M Carl Hoepcke navegou, desta vez com o nome de N/M Paissandu. Mais tarde foi vendido a empresários de São Paulo e rebocado, já sem os motores, para o porto de Santos.
O navio foi novamente batizado, desta vez com o nome de Recreio e transformado em restaurante e boate flutuante. Sua última atividade foi a festa do réveillon de 1971.

Na madrugada de 26 de fevereiro de 1971, um temporal com fortes ventos  rompeu suas amarras e ex-Carl Hoepcke foi lançada na areia da Ponta da Praia, em Santos. Uma tentativa de desencalhe foi feito, sem sucesso, meses depois. Mais tarde tentou-se desmanchar o navio, cortando-o com maçarico, mas a empreitada também foi descontinuada. Ele continuou ali, abandonado por seus proprietárias e pelas autoridades marítima e portuária, durante 30 anos.


O "Recreio", ex-Carl Hoepcke, encalhado em Santos
Aos poucos o mar e a areia foram encobrindo o casco abandonado, que reapareceu, como um fantasma em 1999, criando uma séria questão de segurança na praia.

Casco soçobrado do Carl Hoepcke, aparecendo na baixa da maré, em Santos
Em janeiro de 2006 a prefeitura de Santos começou a remover os destroços, com os serviços sujeitos aos movimentos da maré e ao bom tempo. 

Operários trabalhando nos restos do ex-Carl Hoepcke
A maior parte do casco do Carl Hoepcke havia sido retirada no final de 2009, quando os serviços foram suspensos. Mas as partes ainda existentes continuam a oferecer risco aos banhistas.

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