Relógio da
primeira igreja de Curitiba, parado no tempo.
Foto:André
Rodrigues/Gazeta do Povo
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No dia 12
de novembro de 1955 um raio atingiu o Relógio da Torre da pequena cidade de
Hill Valley, nos Estados Unidos. Trinta anos depois, em 1985, Marty McFly ainda
escutava pessoas pedindo ajuda nas ruas para arrumar o relógio, que, durante
aquela tempestade, estragou com seus ponteiros marcando exatamente 22h04.
Quem
assistiu ao filme “De Volta para o Futuro”, de 1985, conhece bem essa
sequência. Mas o que a produção tem a ver com Curitiba? Simples: aqui temos
nosso próprio “relógio da torre”, parado há alguns anos. E um doce para quem
adivinhar qual a hora cravada pelos ponteiros estáticos.
Está
instalado na torre da Igreja da Ordem Terceira de São Francisco das Chagas, ou,
simplesmente, Igreja da Ordem, localizada no Largo da Ordem. Quem diria: a mais
antiga igreja da capital paranaense, inaugurada em 1737, tem uma relação com um
filme de ficção científica.
O relógio
funcionava de forma analógica, com cordas e molas que impulsionavam as
engrenagens do tic-tac pelos imponentes algarismos romanos. Agora, está calado.
Os motivos são os mais variados na boca do povo, assim como a época em que tudo
ocorreu. Ninguém sabe se foi às dez e quatro da manhã ou da noite. Há quem diga
que aconteceu por volta de 1995, depois de um assalto, quando foram roubadas
algumas peças cruciais para o seu funcionamento. Outros acreditam que
simplesmente parou de funcionar, em 2005, por ser muito antigo, e nunca foi
arrumado.
Igreja
da Ordem Terceira de São Francisco das Chagas, no Largo da Ordem, Curitiba.
Foto: André
Rodrigues/Gazeta do Povo
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Quando foi
instalado e as circunstâncias em que parou só geram teorias por falta de
informações oficiais. O padre Waldir Gomes Zanon Junior, que hoje é o reitor da
igreja, ocupa a posição há pouco mais de um ano. Antes o encarregado era o
monsenhor Luiz Gonzaga Gonçalves, desde 1994. Mas problemas de saúde o impedem
de lembrar com clareza dos fatos do alto de seus mais de 90 anos.
A
Arquidiocese de Curitiba não possui esse registro. Uma explicação pode estar no
Livro Tombo da própria igreja, no qual são registrados os acontecimentos mais
significativos do dia-a-dia da paróquia. Como esse documento fica sempre sob
responsabilidade do pároco, a reportagem não conseguiu ter acesso.
Além de “o
quê” aconteceu, nesse mesmo documento talvez esteja registrado o “quando”,
resolvendo completamente o mistério. Há ligação entre o relógio do filme e o
nosso? Alguns acreditam que pode ter sido algo planejado por algum admirador da
trilogia, caso do atendente comercial dos Correios Jonas Borges, que é
integrante do fã-clube Hill Valley Telegraph, de Curitiba.
Entretanto,
tudo leva a crer que se trata de “uma pura, simples e deliciosa coincidência”,
como afirma o analista de marketing Tarcisio Cavalcante, um dos fundadores do
fã-clube. Seja como for, os fãs vibram com as semelhanças. “Um relógio pode
parar em qualquer horário. Por que o da Igreja da Ordem parou justamente
nesse?”, questiona-se Borges.
DeLorean
estacionado em frente à Igreja da Ordem
reproduz cena em que McFly volta para
seu tempo.
Foto: André
Rodrigues/Gazeta do Povo
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O
historiador Ruy Marques quis trazer o relógio da Igreja da Ordem para o filme
produzido por ele, “Caçadores de Espécies e o Símbolo Secreto”, rodado em
Curitiba. Lançado no ano passado, o obra une ficção científica e ufologia. No
longa, as semelhanças com “De Volta para o Futuro” não são abordadas, mas foi a
coincidência que fez com que Marques quisesse mostrar o relógio.
É a magia
que acontece quando sua cidade divide algo com um filme adorado. Aliás, tão
adorado que um de seus fãs de Curitiba adquiriu um modelo original do DeLorean
de 1981, veículo convertido em máquina do tempo pelo carismático cientista Doc
Brown, permitindo viagens para o passado e para o futuro. “A história me moveu a
importar o carro”, explica o empresário Marlus Pertile.
O fato
curioso transforma a cidade perante a visão das pessoas. Não só a Igreja da
Ordem, mas também seu relógio, como um elemento independente, passa a ser ainda
mais admirado. “Vira ponto turístico, principalmente para os fãs”, aponta
Cavalcante. “Torço para que não arrumem”, diverte-se Marques, que acredita que
isso pode dar origem a um exercício de redescobrimento. “Devem existir muitas
outras coincidências a serem encontradas na cidade, só precisamos olhar com
mais cuidado”, reflete.
Fonte: Mariana
Domakoski, Gazeta do Povo, Curitiba 20/09/2016
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