Os postos
investigados na operação Pane Seca – que participavam do esquema que fraudava
bombas de combustível em Curitiba – utilizavam alta tecnologia para fraudar o
sistema e enganar o consumidor. De acordo com o que foi apurado pela Polícia
Civil, eles utilizavam até mesmo um controle remoto que permitia desligar a
adulteração caso notassem a presença de um fiscal. A informação foi revelada
durante uma entrevista coletiva na tarde desta quinta-feira (30), em que a
polícia detalhou como a ação era organizada.
Segundoa Delegacia de Crimes Contra a Economia e Proteção ao
Consumidor (Delcon) a tecnologia empregada era bastante
complexa e provavelmente foi importada para o Paraná de outros estados. “Eles
usavam um microchip nas placas das bombas que permitia ligar e desligar a
adulteração a partir de um pequeno controle remoto, igual àqueles que se usa em
carros”, explica o delegado. “Esse controle ficava com o frentista ou o gerente
do posto, longe da vista de qualquer pessoa. Era assim que eles ludibriavam os
órgãos responsáveis”. O dispositivo também podia ser acionado por celulares.
De acordo
com a Polícia Civil, as bombas adulteradas entregavam até 6% a menos
combustível do que era exibido no painel — o consumidor pagava por isso. Assim,
um carro popular com tanque de 50 litros, quando cheio, recebia apenas 47
litros. Ao preço de R$ 3,30, por exemplo, isso equivalia a um prejuízo de R$ 10
por pessoa.
Em um ano,
caso a pessoa abastecesse sempre no mesmo local duas vezes por mês e ao mesmo
preço, ela teria “perdido” 72 litros de gasolina, o suficiente para encher um
tanque e meio ao custo de R$ 240.
Com a ajuda
desse sistema, os postos conseguiam burlar o leitor das bombas e entregar até
mesmo 6% menos combustível do que era, de fato, vendido. “Se uma pessoa
abastecia 100 litros, recebia apenas 94”, exemplifica o delegado. Segundo ele,
ao longo da semana, esse “excedente” fraudado era transferido para outros
postos participantes do esquema.
A partir de
um único clique, os envolvidos na Pane Seca conseguiam lucrar milhões, como
aponta o secretário de Segurança Pública do Paraná, Wagner Mesquita. “Era [um
grupo] organizado e com uma enorme margem de lucro”, diz. Tanto que, durante o
cumprimento de um mandado de busca e apreensão realizado na última
quarta-feira, em Maringá, os policiais civis encontraram um total de R$ 154 mil
guardados dentro de um balde e mais de R$ 2 milhões em cheques em uma
residência. Além disso, um caderno com a contabilidade do grupo também foi
encontrado durante as investigações. As informações contidas nele ainda estão
sendo analisadas.
Diante das
descobertas, Mesquita não descarta a possibilidade de que a tecnologia
empregada nos estabelecimentos fechados pela polícia pudesse estar sendo levada
para o restante do Brasil. “A investigação já mostrou que a quadrilha estava
espalhando know-how dessa tecnologia e fazendo conexões em outros estados, como
Santa Catarina e São Paulo”, assinala. Percebendo o grau de lucro que vem dessa
fraude, com certeza ela está presente em outros estados e nós vamos repassar o
que descobrimos para as polícias de outros estados”.
O delegado
Guilherme Rangel disse também que um dos objetivos é chegar até quem vem
fornecendo esse material.
Além de
burlarem a leitura das bombas com um chip, os postos envolvidos também faziam
aquilo que o delegado do Delcon descreve como “fraude clássica”, ou seja, a
venda de gasolina adulterada com índices maiores de álcool e água em sua
composição. “Em alguns casos analisados, chegou ao absurdo de 69% da mistura
ser de água e álcool. Era apenas 31% de gasolina, uma aberração”, descreve
Rangel. De acordo com o que é regulado pela Agência Nacional do Petróleo (ANP),
o combustível não deve ter menos do que 75% de gasolina.
O Sindicato
dos Revendedores de Combustíveis e Lojas de Conveniências do Estado do Paraná
(Sindicombustíveis-PR) afirmou que apoia o combate às fraudes no setor e as
ações da Operação Pane Seca. Em nota, o sindicato destacou que as
irregularidades apontadas pela polícia lesam o consumidor e geram concorrência
desleal com a grande maioria dos empresários que trabalha dentro da lei.
Ainda em
nota, o Sindicombustíveis-PR destacou que espera que a Operação Pane Seca seja
estendida para todo o estado. “O Sindicombustíveis-PR não tem o papel legal de
realizar qualquer tipo de fiscalização, cabe à entidade cobrar junto aos
agentes públicos responsáveis uma atuação com maior atenção para o problema”,
afirma a entidade.
Fonte: Gazeta do Povo, Curitiba
Veja a postagem anterior aqui.
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