sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Indian Motorcycles: a musa do verão?

2014 Indian Chief
Vários amigos e colegas blogueiros como o Wolfmann, o Dan Morel, o Bayer e eu mesmo, publicamos matérias sobre a investida de Polaris Industries sobre o mercado da Harley-Davidson, tentando oferecer as motocicletas Indian como alternativa às H-D.

A Harley-Davidson é a mais antiga marca de motocicleta em produção initerrupta e a líder no mercado mundial de motocicletas cruiser/touring. É natural que todas as marcas que operam no mesmo segmento tentem tomar uma fatia do seu mercado.

Coisas do capitalismo e uma prática bem saudável. Caso contrário, estaríamos dirigindo Opalas até hoje.

Isto posto, seria bom verificar a história do nome Indian Motocycles, desde o início  em Springfield, Massachusetts, no longíquo ano de 1901.

Para começar a conversa, o nome Indian Motocycles só apareceu como nome do fabricante em 1928. Até então o nome da empresa era Hendee Manufacturing Company, criada em 1897 por George M. Hendee, para fabricar bicicletas.

A empresa teve muito sucesso com suas motocicletas, tanto no mercado americano como na Europa, principalmente nos primeiros 15 anos.


1911 Indian
A marca, entretanto, cometeu um grave erro mercadológico em 1917, quando os Estados Unidos entraram na Primeira Grande Guerra.  A Indian passou a produzir seus modelos da linha Powerplus exclusivamente para os militares, deixando suas revendas na mão. Seus concessionários procuraram outros fabricantes, já que não recebiam produtos, e em 1920 a Indian perdia a liderança no mercado americano para a Harley-Davidson.


1920 Indian Powerplus 1000
A Indian conseguiu recuperar-se em 1934, depois de uma fusão com a DuPont Motors, da lengedária família DuPont. A Indian oferecia nada menos que 24 opções de cores para suas motocicletas, graças à força produtiva da DuPont Paints. Foi nesta época que a “cabeça de índio,” sua marca registrada até hoje, apareceu nos tanques das motocicletas.

Em 1940 a Indian estava, outra vez, bem próxima da Harley-Davidson, com um volume de vendas quase igual. Naquele momento, as duas marcas eram as únicas “made-in-USA”, a competir com as marcas européias. Mas a Indian Motocycles perdeu um pouco sua proa, entrando também na fabricação de motores para aviões, bicicletas, motores de popa e ar-condicionado.

Depois da entrada dos EUA na II Guerra Mundial, a Indian conseguiu alguns pedidos dos militares para seus modelos Chief, Scout e Junior Scout. Seu modelo mais competitivo com a vitoriosa Harley-Davidson WLA era uma versão baseada na Scout 640, com um motor de 750cc. Não deu certo: era muito pesada e muito mais cara para comprar e para fazer a manutenção. Tentaram, então , uma versão com o motor de 500 cc, considerada muito fraca pelos militares. No total, pouco mais de 2.500 motocicletas Indian foram compradas pelas Forças Armadas dos EUA.


1942 Indian Scout 500 utilizada pelo Exército dos EUA.
Em 1945 a DuPont perdeu o interesse no negócio e vendeu suas ações para os demais controladores. Sob a nova direção, a Indian tentou se recuperar, concentrando a produção em motocicletas menores, como a 149 Arrow e a Super Scout 249, lançadas em 1949. Foi um desastre de vendas.

A Indian fez uma tentativa final com a 250 Warrior, em 1950. A produção foi suspensa e a companhia declarou falência em 1953.


1950 Indian Chief Black Hawk
Logo em seguida a empresa Blockhouse Engineering comprou os direitos ao nome Indian Motocycles e passou a importar as Royal Enfield inglesas, vendidas nos EUA com o nome Indian.
Em 1960 o nome Indian foi comprado pela Associated Motor Cycles (AMC), empresa britânica. A AMC importava suas motocicletas Matchless e AJS e vendia nos EUA com o nome Indian.

Durante os anos de 1963 até 1970 um empresário americano chamado Floyd Clymer importou motocicletas italianas e as vendeu nos Estados Unidos sob o nome Indian Papoose. Clymer faleceu repentinamente em 1970 e sua viúva vendeu os direitos do nome Indian (que na realidade não era de sua propriedade) para um advogado de Los Angeles chamado Alan Newman, que continuou a importar motocicletas italianas da ItalJet, com motores entre 50 cc e 175 cc, vendendo-as com o nome Indian.

Alan Newman tentou reviver a marca com a Indian 900, que era na realidade um projeto de Leo Tartarini, usando um motor Ducati de 860 cc. O projeto falhou e a empresa declarou falência em 1977.

Algumas outras empresas e empresários tentaram reviver a marca Indian Motorcycles nos anos 1980 e 1990. Entretanto o direito ao nome Indian entrou em disputa judicial, com vários interessados afirmando ser o legítimo proprietário da marca. Nenhuma das tentativas conseguiram produzir um modelo que fosse e fecharam por várias razões.

Em 1998 Eller Industries conseguiu adquirir os direitos ao nome Indian. Três modelos foram apresentados à imprensa especializada em Novembro de 1998, mas não puderam ser fabricadas, por uma disputa judicial sobre o nome.

Um tribunal federal do Estado do Colorado acabou entregando os direitos ao nome Indian Motocycles à IMCOA Licensing America, Inc. em Dezembro de 1998.

Em 1999 a nova Indian Motorcycle Company of America foi criada com a fusão de nove empresas, incluíndo a própria IMCOA e a California Motorcycle Company, em cuja fábrica as Gilroy Indian foram produzidas, com o nome Chief.

Modelos Scout e Spirit começaram a ser produzidos em 2001, equipadas com motores S&S de 1600 cc. A produção foi encerrada e a empresa declarou falência em Setembro de 2003.

Em Julho de 2006 um fundo de investimentos inglês, chamado Stellican Limited, começou a produzir motocicletas sob o nome Indian em Kings Mountain, North Carolina. O foco da empresa era os modelos Chief, destinados ao mercado de motocicletas de luxo. A nova Indian Chief 2009 tinha um motor Powerplus V-twin de 1.720 cc com injeção eletrônica e custava US$35.000. 


Uma Indian da época da Stellican
O mercado não aceitou bem as novas Indian e a fábrica e todos os direitos ao nome foram vendidos em 2011 para a Polaris Industries. A Poloris transferiu a linha de produção para Spirit Lake, Iowa,  onde foram produzidas as “novas “ Indian, ainda baseadas em projetos do final do século passado.

Sómente em 2013 a Polaris Industries lançou modelos realmente novos, mantendo o estilo tradicional da marca, mas com os motores Thunder Stroke de 1810 cc.

Resumo da ópera:
  • A Indian é um nome tradicional no mercado de motocicletas? É, sim.
  • A Indian é uma antiga marca americana? Não! Deixou de ser americana em 1953 e só voltou a ter a cidadania, por nascimento, em 2013. 60 anos depois!
  • A Indian pode ser uma alternativa à Harley-Davidson? Pode, sim.
  • Vai tomar mercado da Harley-Davidson? Pode ser. A Honda, a Suzuki , a Kawasaki e a BMW não conseguiram. Mas não eram “made-in-USA”, não é? Isto pesa, para os ianques.
2015 Indian Chieftain
Eu compraria uma Indian? Pouco provável. Não gosto do estilo e acho o desenho dos paralamas horrível.

Mas, como diz meu amigo Francisco Assis Vieira, de Florianópolis, o legendário harleyro Assis: “Quem quer tomar banho, toma. Quem não quer, não toma!”

9 comentários:

  1. Ela não voltou a ser americana só em 2013. Foi produzida na Carolina do Norte em Kings Mountain a partir de 2008 pelo empresário Stephen Julius que havia adquirido todos os direitos da marca antes de ser vendida à Polaris.

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    1. Sérgio, de 2006 a 2011 a Indian era uma empresa inglesa, de propriedade da Stellican Ltd. Veja o texto acima.

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    2. É verdade, Stephen Julius é o proprietário da Stellican Ltd.

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  2. Comandante, eu também não gosto desses paralamas e nem da versão com os paralamas menores (cobrindo apenas a lateral da roda).

    Mas a expectativa está sendo grande pela chegada delas no Brasil, aposto que será a modinha para 2105.

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    1. Não duvido que seja. A concorrência é sempre saudável. Mas aqui, a H-D não lidera nada, com sua política de tratar a marca como produto de luxo.

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  3. Pequena correção, até 1953 ela era chamada Indian Motocycles, sem o R que só apareceu, salvo engano, nas Indians de 1999 da CMC.

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    1. Obrigado por ressaltar o engano. Já fiz as correções.

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  4. Eu particularmente, quando visitei a revenda de Miami fiquei impressionado com a qualidade final do produto... a moto em si, me pareceu menos pesada do que ela realmente aparenta, embora eu não a tenha pilotado.

    A questão de vendas é muito bem trabalhada....conversei com o dono da concessionária e o mesmo estava disposto a vender a moto, se encarregar do despacho pelo porto de Miami e fornecer todo equipamento para que eu fizesse a manutenção aqui no BR....mostrando que peças não seriam uma preocupação.

    Acredito que, se a Polaris Brasil praticar uma política de preços similar a americana...teremos uma boa briga.

    Teria uma, sim porém, não abriria mão de ter também uma HD

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