“O
nacionalismo é uma doença infantil; é o sarampo da humanidade.” (Albert
Einstein)
No dia de
hoje, nada melhor do que fazer algumas reflexões acerca dos rumos do nosso
país. O amor à Pátria é um sentimento de união de indivíduos que compartilham
uma história, uma cultura e valores comuns. Ele difere bastante do nacionalismo
vulgar, uma forma de coletivismo xenófobo que transforma os indivíduos em
simples meios sacrificáveis. Foi o patriotismo que alimentou a Revolução
Americana; foi o nacionalismo exacerbado que levou ao nazismo.
Não podemos
falar de patriotismo sem citar nosso Patriarca da Independência. Sob a
influência iluminista, José Bonifácio de Andrada e Silva abraçou os principais
pilares da filosofia liberal, compreendendo que a riqueza das nações é
produzida pela concorrência e liberdade de empreender, e não pela tutela
estatal. O comércio, livre da opressão de minuciosos regulamentos, seria o
responsável pela prosperidade da nação.
Ele foi uma
das vozes mais importantes contra os abusos de poder da Coroa portuguesa e a
escravidão. O Brasil era cada vez mais explorado como colônia. A independência
era crucial. Andrada compreendia o que estava em jogo: “Sem liberdade
individual não pode haver civilização nem sólida riqueza; não pode haver
moralidade e justiça; e sem essas filhas do céu, não há nem pode haver brio,
força e poder entre as nações”.
O Brasil
deveria ser um país de cidadãos livres, não de escravos. Infelizmente, deixamos
de ser súditos de Portugal, mas nos tornamos súditos de Brasília. O governo
central foi concentrando cada vez mais poder à custa da liberdade individual, e
o dirigismo estatal poucas vezes esteve tão forte.
Neste
contexto, o presidente da Fiesp chegou a afirmar que gostaria de “fechar o
país”. Isto remete ao que há de mais retrógrado no pensamento econômico. O
mercantilismo beneficia poucos empresários próximos ao governo, enquanto
prejudica todos os consumidores e pagadores de impostos. Fala-se em “interesse
nacional” para ocultar a simples busca por privilégios e monopólios. Na nefasta
aliança entre governo e grandes empresários, o povo acaba pagando a conta. Basta
lembrar a absurda Lei da Informática para ter idéia do pesado custo imposto aos
brasileiros por estas teorias ultrapassadas.
O
patriotismo pode ser uma arma poderosa contra a tirania. Unidos por um ideal
comum de liberdade, os cidadãos representam uma constante barreira às ameaças
despóticas. Se mal calibrado, porém, ele pode dar vida ao nacionalismo
coletivista, que serve justamente aos interesses dos oportunistas de plantão
sedentos por poder. O “orgulho nacional” deve se sustentar em conquistas
legítimas, não em fantasias tolas. O verdadeiro patriota não foge da realidade.
Sob a luz da razão, devemos perguntar: qual o motivo para sentir orgulho de
nossa trajetória enquanto nação?
Somos
recordistas mundiais em homicídios. Nossas estradas federais são assassinas. O
transporte público é caótico. A saúde e a educação públicas são vergonhosas. A
impunidade e a morosidade são as marcas registradas de nossa Justiça. A
corrupção se alastra feito um câncer. A cultura do “jeitinho” tomou conta do
país e a ética foi parar no lixo. Nossas instituições republicanas estão
ameaçadas. Nossa democracia é vítima do descaso e do escancarado uso da máquina
estatal para a compra de votos. O Estado, capturado por um partido, pratica
crimes contra o cidadão, como a quebra de sigilo fiscal da Receita. E ainda
somos obrigados a trabalhar cinco meses do ano somente para pagar impostos!
Regado a
crédito facilitado e com o auxílio dos ventos externos favoráveis, o consumo
crescente atua como um poderoso anestésico contra esta dura realidade. O velho
“pão & circo” também faz sua parte. Será que devemos celebrar um time de
futebol temido mundo afora, enquanto a miséria domina o país? Será que devemos
ter orgulho do “nosso” petróleo, quando pagamos um dos combustíveis mais caros
do mundo e vemos a Petrobrás ser estuprada pelos donos do poder?
A
transformação do patriotismo em nacionalismo está em seu auge quando o povo
adere ao infantilismo e passa a encarar seu governante como uma figura paterna.
Não se trata do respeito por um estadista, mas de uma forma de idolatria ao
“pai do povo”, que não pretende governar, mas sim “cuidar” de sua prole ao lado
da “mãe do povo”. É a demagogia em máximo grau. Quando se chega a este estágio
decadente, a Pátria já não tem muito de que se orgulhar. É chegada a hora de
uma nova independência. Desta vez de Brasília.
Texto do
jornalista Rodrigo Constantino, que assino embaixo.
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