Por incrível que pareça, era o Paraguai — o vizinho pobre
que os brasileiros se habituaram a ver como o paraíso da pirataria — que vinha
assegurando ao Mercosul um mínimo de dignidade e de respeito a seus objetivos
iniciais.
Era o Congresso do país, só para recordar, que se opunha ao
ingresso pleno da Venezuela no bloco, talvez por antever os prejuízos que
viriam no momento em que o Mercosul se colocasse sob a influência dos ideais
"bolivarianos" (seja lá o que isso signifique) de Hugo Chávez.
Pois bem: tão logo acharam no impeachment do presidente
Fernando Lugo a desculpa para tirar o Paraguai do jogo, os outros sócios do
Mercosul - Brasil, Argentina e Uruguai - escancararam as portas para Caracas. E
bastou que isso acontecesse para que a mudança na proposta do Mercosul se
tornasse cada vez mais clara.
A aliança comercial, só para recordar mais uma vez, foi
concebida para aumentar a força dos países da região em suas relações com as
economias desenvolvidas.
Após o ingresso da Venezuela, o bloco reforçou a tendência
que já vinha manifestando de facilitador de negócios intrarregionais. E, por
esse motivo, tem se apequenado cada vez mais. Tudo o que guia os demais
integrantes, pelo que se vê na prática, é levar vantagem sobre o Brasil.
O problema fica ainda mais grave com a entrada no Mercosul
de países que nada mais são do que satélites da Venezuela. Em outras palavras,
o Brasil ganha pouco e perde muito com a entrada da Bolívia, de Evo Morales, e
do Equador, de Rafael Correa, no bloco. Pelos princípios do Mercosul, todas as
decisões têm que ser tomadas por unanimidade.
Dessa maneira, da mesma forma que o Brasil e a Argentina não
podiam forçar o ingresso da Venezuela sem a concordância do Paraguai, nenhum
país podia celebrar acordos comerciais do seu interesse sem a concordância dos
demais integrantes.
O Brasil não pode, por exemplo, celebrar parcerias
bilaterais nem mesmo com Portugal se não tiver autorização dos demais
integrantes.
A pergunta é: por que o Chile, a Colômbia e o Peru, países que
têm registrado as maiores e mais constantes taxas de crescimento da América do
Sul, preferem manter distância do Mercosul (restringindo suas relações com os
países do bloco ao limite estrito da boa vizinhança), enquanto o Brasil se
atira nos braços dos países mais problemáticos da região?
A resposta, certamente, só pode ser encontrada nas
afinidades políticas entre correntes do governo brasileiro e os governantes
desses países. E, em nome dessas afinidades, oportunidades de ouro têm sido
jogadas fora.
No mês passado, o presidente do Peru, Ollanta Humala, esteve
em Portugal, país que o Brasil inteiro considera seu aliado natural. Pois bem:
Humala não apenas abriu as portas, mas estendeu o tapete vermelho para os
empresários portugueses que, em meio à crise internacional, procuram um porto
promissor para investir seu dinheiro.
É apenas um exemplo do prejuízo causado pela opção
brasileira. Um exemplo que não pode ser considerado pequeno.
Ricardo Galuppo, publisher do Brasil Econômico
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