sábado, 2 de abril de 2016

Quem é o Anti-Barnabé?


Para quem não é das antigas, não saberá o que quer dizer "barnabé". Barnabé era o funcionário público típico, que na minha adolescência era conhecido como aquele cara que chegava na repartição onde "trabalhava", colocava o paletó na cadeira e sumia, só voltando na hora de ir embora.

Este artigo, publicado no O Antagonista, mostra com todas as evidências quem é o Anti-Barnabé:

Aqui no Limbo tem rede social. Mais uma vez, sirvo-me do meu Chico Xavier de plantão e mando minha mensagem ao Antagonista.

Acompanhei os acontecimentos históricos do dia 13 de março. Desde às estranhas previsões astrológicas da Folha de S. Paulo até todas as deliciosas charges e sacadas do feicibuqui. Também li aquele pessoal relativista e de moral seletiva que defende o governo. Leio de tudo.

Acompanhei os promotores de SP: a denúncia, o pedido de prisão e a polêmica de Marx e Hegel. Tinham obrigação de saber que o parceiro de Marx era Engels e não Hegel e que Nietzsche se escreve com um "s" no meio? E a confusão conceitual do “super-homem” e o “além-homem”? Melhor não tivessem se enveredado por caminhos tão tortuosos, especialmente para quem mal estuda Kelsen nas nossas lamentáveis faculdades de Direito.

Ma, como gosto do tema barnabé, andei refletindo sobre o juiz Sergio Moro. Moro é o antibarnabé clássico. No mundo do barnabé, o juiz Moro é um escândalo até estético.

O barnabé odeia produtividade. Moro é reconhecidamente produtivo, suas sentenças são a tempo e horas. O barnabé medalhão adora uma citação (às vezes se dá mal como vimos), um brocardo, uma firula e, se for do direito, pratica o falar para nada dizer. 

Moro é simples, direto, econômico, infalível como Bruce Lee. O barnabé anseia pela “isonomia”, pela igualdade de todos na repartição e despreza o talento em nome da mediocridade burocrática, cotidiana, relógio de ponto, do esquema “dou-lhe tantas horas do meu dia e o Estado me dá uma remuneração”. Moro escandaliza ao evidenciar sua diferença, sua inteligência, sua coragem e sua liberdade.

O barnabé quer o médio, o previsível, o de sempre, o morno e tem horror ao gênio e ao imponderável, ao fora da curva normal, ao cisne negro, ao desvio padrão. O barnabé baba sedento em busca da compliance, da conformidade das portarias e das resoluções, da meta factível e pouco desafiadora e da rotina mais modorrenta. 

Moro evidencia a rompimento dos padrões, a ousadia, a coragem e a revolução do Direito que somente os revolucionários podem enxergar. O barnabé esconde-se em meio aos seus semelhantes, odeia o fulgor das luzes e acomoda-se em suas estações de trabalho, ao aconchego da sombra do monitor do computador que lhe tomou a face de empréstimo.

Moro arrisca-se diariamente a cada despacho, cada decisão, cada sentença e mostra-se como numa ribalta (sem ser exibido). O barnabé odeia a precocidade, a genialidade...levaria um susto ao saber que Napoleão foi general aos 28 anos, que Machado escreveu aos 18 e ficou espetacular aos 40 e que Nelson Rodrigues escreveu seu Vestido de Noiva aos 27.

Moro não precisou de cabelos brancos, dos rapapés das altas Cortes e um título de Ministro para entrar para os livros de história do Brasil.

No mundo assertivo de Moro, o barnabé é um ser deslocado e perplexo.

Onde estou, sei bem onde ficam, é um lugar chamado Vestíbulo, a morada dos indecisos, covardes, dos que passaram a vida “em cima do muro”, daqueles que nunca quiseram assumir compromissos e tomar decisões firmes. De forma condescendente os vejo agora, aqui no Vestíbulo, obrigados a correr atrás de algo que não vai a lugar algum. Mas acho que o barnabé já fazia isto quando em vida.

O Antagonista, 2/4/2016


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