terça-feira, 2 de abril de 2013

Queremos Mais Vírgulas


As vírgulas sempre foram um problema. Na época da escola, a dificuldade era encontrar o momento exato para usá-las. Às vezes pecava-se pelo excesso, em outras, pela escassez.

Mas a resposta estava nas gramáticas, bastava aplicar as inúmeras regras.
  
Porém, é ao sair da escola que as coisas começam a complicar.

Continuamos com dificuldade de usar as temidas vírgulas.

Não conseguimos dar o respiro necessário, a pausa imprescindível, o fôlego essencial para seguir adiante.

Iniciamos uma leitura sem fim, sem pausa, em uma estrada reta, sem curvas.

Trabalhamos estudamos cuidamos dos filhos comemos dormimos um pouco agendamos reuniões marcamos médico compramos roupas.

Isso tudo sem vírgulas, sem aquela ruptura, sem a surpresa, sem a viagem de motocicleta, sem realizar aquele desafio sobre duas rodas que estamos planejando há meses ou até anos.

O pior é que não há regras a seguir, não há gramática que possa nos auxiliar.
  
E não são apenas as vírgulas que estão em extinção nos dias de hoje.

As reticências também andam sumidas. Ah, as reticências...

Como disse Mario Quintana, "as reticências são os três primeiros passos do pensamento que continua por conta própria o seu caminho".

Mas as pessoas desaprenderam a usar as incertas reticências. Preferem abusar de pontos finais.

São irredutíveis, convictas, previsíveis, racionais. Esquecem a beleza do incerto, do desconhecido, de partir em uma viagem não programada, sem destino ou roteiro milimetricamente pontuado.

Esquecem a adrenalina de apenas sair e rodar por aí....

Vamos aproveitar que estamos colocando os pontos nos i's e falar um pouco das aspas.

As aspas continuam em alta, utiliza-se sem parcimônia, porém o propósito nem sempre é o mais nobre.

Usam-se as aspas para incentivar um tal de "fulano disse que", "sicrana me contou", "beltrano falou".
  
Por isso, defendemos o uso consciente das aspas. Abra aspas para seu coração, escute e dê voz a ele.

Abra aspas para sua mente inquieta e pegue a estrada assim que ela estiver sussurrando (ou gritando) por um pouco de vento no rosto e curvas acentuadas.

Enfim, Fazedor de Chuva, abra aspas para você, mas sem ignorar as fundamentais (e um tanto esquecidas) vírgulas e ...



Excelente texto de Cesar Macedo, postado no site dos Fazedores de Chuva.

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