O DiárioCatarinense, de Florianópolis, iniciou no domingo de Páscoa uma série de reportagens sobre os cinco anos passados desde a privatização das rodovias
BR-116, BR-376 e BR-101, administrados pela Autopista Litoral Sul, do grupo
espanhol OHL.
Trecho mais movimentado da BR-101, administrado pela Autopista Litoral Sul |
Segundo o
jornal, a Autopista Litoral Sul chegaria ao final da concessão com um lucro
indevido de cerca de R$ 790 milhões. A empresa administra o trecho que liga
Florianópolis a Curitiba, um dos principais acessos do sul ao centro do país e
que já apresenta sinais de colapso no trânsito.
Um dossiê
de mais de 2 mil páginas apontam para um suposto favorecimento financeiro, em
que a empresa deixa de executar as obras previstas no edital, mas inclui os
valores (como se tivesse realizado) no cálculo de reajuste anual da tarifa.
Com base
nas informações de investigações abertas por órgãos judiciais do país, o Diário
Catarinense afirma que vai mostrar que o preço do pedágio, aparentemente um dos
mais baratos do Brasil, na verdade é altíssimo se levado em conta que o usuário
da rodovia paga por obras que ainda não foram executadas.
O cálculo é
de que a Autopista, ao descumprir o contrato assinado com a Agência Nacional de
Transportes Terrestres (ANTT), se beneficiaria indevidamente em cerca de R$ 790
milhões, segundo projeções para os 25 anos da privatização.
A
administração do trecho Norte da BR-101 é alvo de investigações desde o início
da cobrança do pedágio, em 2009. Só o Ministério Público Federal (MPF) já moveu
oito ações contra a empresa. Todos os processos têm a autoria do procurador da
República Mário Sérgio Barbosa, de Joinville, cidade-sede da Autopista.
Congestionamentos constantes, na região de Florianópolis |
Nos
processos, pede para que a Justiça obrigue a concessionária a baixar o preço do
pedágio porque, segundo ele, nenhuma das principais obras teria sido concluída
dentro dos prazos previstos no edital.
Entre as
obras não feitas está o contorno viário da Grande Florianópolis, a principal do
contrato, e que tem a função de desafogar o trecho da BR-101 que cruza os
municípios da região. A obra é a que demanda maior investimento e deveria estar
concluída em fevereiro de 2012.
O mais
estranho é que nenhum orgão estadual ou municipal fez qualquer mobilização para
pressionar a OHL, exceto a prefeitura de Biguaçu, que ingressou com ação na
Justiça Federal para que o valor referente ao contorno viário da Grande
Florianópolis seja bloqueado das contas da empresa até que as obras se iniciem.
A concessão
da rodovia é tão vital para o desenvolvimento do Estado que a Federação das
Indústrias de Santa Catarina (Fiesc) elaborou estudo técnico sobre todo o
trecho pedagiado. Nele, comparou o que estava estabelecido no contrato com o
que havia sido executado pela empresa.
A postura
considerada passiva da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) diante
do caso fez a agência reguladora se transformar, junto com a Autopista, em
objeto de investigação.
Segundo o Ministério Público Federal, o pedágio cobrado na BR-101 foi reajustado indevidamente |
Para o
Tribunal de Contas da União (TCU), os problemas na administração da rodovia
teriam ocorrido porque a ANTT não cumpriu com o papel de fiscalizar e aplicar
multas em caso de irregularidades. Segundo as investigações, a situação da
agência se torna ainda mais grave porque teria permitido reajustes da tarifa
mesmo sabendo que o edital vem sendo descumprido.
A série de
reportagem também dará informações sobre
a atuação da concessionária em outros estados. A suspeita é de que a OHL (hoje
Arteris) – que é mantenedora da Autopista e tem matriz na Espanha – estaria
repetindo deslizes semelhantes aos cometidos em Santa Catarina nos outros
quatro trechos de rodovias que administra no país.
E o mesmo
caso extrapolaria as fronteiras do Brasil. É de fora que vem o exemplo de
atitude mais enérgica quanto as supostas irregularidades cometidas pela
espanhola OHL. No México, onde a empresa também tem negócios, a suspeita de descumprimento
de contrato custou a perda da concessão.
Veja, também, postagem anterior sobre o assunto.
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