quarta-feira, 24 de outubro de 2012

A Experiência que os Governos Desprezam


A única maneira de se envelhecer é continuar vivendo. O triste é ficar pelo caminho, morrer jovem, como tantos que se apagam nos desastres de trânsito diários.

Mais triste é ver famílias inteiras dizimadas por deslizamentos de terras em áreas onde moradias não deveriam ser construídas. Mas a experiência é algo que muitos governos, no amplo sentido do termo, inclusive empresários, descartam.

Poucos se arrependem das travessuras que fizeram na juventude e, geralmente, o que mais lastimam é não poder repeti-las.

O mundo está nas mãos dos que têm ainda a coragem de sonhar e viver suas fantasias, cada qual com seu talento, cada qual com seu dom. Precisamos de pessoas que, ao dirigirem prefeituras, estados e o Brasil, tenham sonhos e tratem de torná-los realidade.

Assim, estarão concretizando as esperanças que os moveram até aquela data. A ditadura do relógio nos faz esquecer que o tempo linear é uma abstração recente e insidiosamente deletéria.

Para nós, o tempo escoa uniformemente, como os grãos de areia de uma ampulheta. O vaso superior é o futuro, e, o inferior, o passado que se acumula. A passagem entre os dois, onde a areia colorida escoa rapidamente, é o presente fugaz.

Contam-se os minutos que nos restam viver e sacudimos nossa ampulheta para detê-la. Para muitos eventos que se repetem, tristemente, na história das cidades, dos estados e do País é mais tarde do que imaginamos.
Cronus materializa o tempo, pinta nossos cabelos de branco ou os derruba inapelavelmente. Amolece nossos músculos e endurece nossas articulações. Reação: correr mais, produzir mais, aproveitar mais, comprar mais e logo! Relógio e calendário tornam-se fortes fatores de estresse.

Acreditando-se que assim se vive mais, passa-se a viver mais rápido, a correr mais rápido, a produzir mais rápido, a voar mais rápido, e, daí, o culto à competitividade e aos recordes. O resultado é que corremos o risco de morrer mais rápido.

Interessa é o tempo cíclico, com o sol nascendo e se pondo ao fim da tarde. A lua se torna cheia, decresce como minguante, torna-se nova e volta a crescer para tornar-se cheia, e assim continuamente.

A infância antecede a juventude, depois vêm a maturidade e a velhice. Para o homem primitivo, a natureza é um eterno recomeçar, portanto, os ciclos regem a vida.

Certas tribos não conjugam verbos no passado ou no futuro, apenas no eterno presente. Tirando as piadas sobre “a melhor idade”, sabe-se que ela é nicho consumidor dos melhores.

Tanto que, neste 2012, mais de R$ 400 bilhões serão movimentados no consumo dos idosos no varejo brasileiro. Este montante é 45% maior do que há cinco anos e equivale a pouco menos do que o PIB da Hungria em 2011.

Porém, a vida mostra que aprendemos pouco para administrar as dificuldades que a natureza nos impõe. Para alguns, devemos nos conformar e enfrentar, exatamente da mesma forma e com muitas lágrimas, sofrendo exatamente o que passamos ontem e o que viveremos.

Como nos olhos dos moços arde a paixão, espera-se que, brilhando a experiência nos olhos dos nossos provectos governantes, eles apliquem a experiência na solução dos nossos achaques. Então, felizes são os que foram jovens na juventude e sábios na idade madura.

Fonte: Jornal do Comércio

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