A única maneira de se envelhecer é continuar vivendo. O
triste é ficar pelo caminho, morrer jovem, como tantos que se apagam nos
desastres de trânsito diários.
Mais triste é ver famílias inteiras dizimadas por
deslizamentos de terras em áreas onde moradias não deveriam ser construídas.
Mas a experiência é algo que muitos governos, no amplo sentido do termo,
inclusive empresários, descartam.
Poucos se arrependem das travessuras que fizeram na
juventude e, geralmente, o que mais lastimam é não poder repeti-las.
O mundo está nas mãos dos que têm ainda a coragem de sonhar
e viver suas fantasias, cada qual com seu talento, cada qual com seu dom.
Precisamos de pessoas que, ao dirigirem prefeituras, estados e o Brasil, tenham
sonhos e tratem de torná-los realidade.
Assim, estarão concretizando as esperanças que os moveram
até aquela data. A ditadura do relógio nos faz esquecer que o tempo linear é
uma abstração recente e insidiosamente deletéria.
Para nós, o tempo escoa uniformemente, como os grãos de
areia de uma ampulheta. O vaso superior é o futuro, e, o inferior, o passado
que se acumula. A passagem entre os dois, onde a areia colorida escoa
rapidamente, é o presente fugaz.
Contam-se os minutos que nos restam viver e sacudimos nossa
ampulheta para detê-la. Para muitos eventos que se repetem, tristemente, na
história das cidades, dos estados e do País é mais tarde do que imaginamos.
Cronus materializa o tempo, pinta nossos cabelos de branco
ou os derruba inapelavelmente. Amolece nossos músculos e endurece nossas
articulações. Reação: correr mais, produzir mais, aproveitar mais, comprar mais
e logo! Relógio e calendário tornam-se fortes fatores de estresse.
Acreditando-se que assim se vive mais, passa-se a viver mais
rápido, a correr mais rápido, a produzir mais rápido, a voar mais rápido, e,
daí, o culto à competitividade e aos recordes. O resultado é que corremos o
risco de morrer mais rápido.
Interessa é o tempo cíclico, com o sol nascendo e se pondo
ao fim da tarde. A lua se torna cheia, decresce como minguante, torna-se nova e
volta a crescer para tornar-se cheia, e assim continuamente.
A infância antecede a juventude, depois vêm a maturidade e a
velhice. Para o homem primitivo, a natureza é um eterno recomeçar, portanto, os
ciclos regem a vida.
Certas tribos não conjugam verbos no passado ou no futuro,
apenas no eterno presente. Tirando as piadas sobre “a melhor idade”, sabe-se
que ela é nicho consumidor dos melhores.
Tanto que, neste 2012, mais de R$ 400 bilhões serão
movimentados no consumo dos idosos no varejo brasileiro. Este montante é 45%
maior do que há cinco anos e equivale a pouco menos do que o PIB da Hungria em
2011.
Porém, a vida mostra que aprendemos pouco para administrar
as dificuldades que a natureza nos impõe. Para alguns, devemos nos conformar e
enfrentar, exatamente da mesma forma e com muitas lágrimas, sofrendo exatamente
o que passamos ontem e o que viveremos.
Como nos olhos dos moços arde a paixão, espera-se que,
brilhando a experiência nos olhos dos nossos provectos governantes, eles
apliquem a experiência na solução dos nossos achaques. Então, felizes são os
que foram jovens na juventude e sábios na idade madura.
Fonte: Jornal do Comércio
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