sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Almirante Tamandaré -

Domingo passado, dia 13 de Dezembro, comemorou-se o Dia do Marinheiro. Este dia foi escolhido, por ser a data do nascimento de Joaquim Marques Lisboa, gaúcho de Rio Grande e o maior nome da Marinha brasileira, conhecido como Almirante Tamandaré.


Um amigo me enviou, ontem, cópia do pronunciamento do Capitão-de-Fragata (RM1) Rafael Lopes de Matos, na Câmara Municipal de Pomerode, SC, conhecida como a cidade mais alemã do Brasil.


Num momento em que vemos a total desmoralização dos homens públicos brasileiros, envolvidos numa corrupção institucionalizada onde os maus são a regra e os bons a exceção, compartilho o texto com vocês.

Pronunciamento em 7 de Dezembro de 2009
Câmara Municipal de Pomerode, SC
Tema: A Contribuição da Marinha do Brasil na Sedimentação dos Valores Nacionais.


Exmo. Sr. Vereador Reimund Viebrantz, Presidente desta Câmara Municipal;


Senhores Vereadores, Senhoras e Senhores.


Quero, em primeiro lugar, agradecer ao Presidente desta Câmara Municipal, pela distinção que me concede em ocupar esta Tribuna pela segunda vez neste ano, desta feita para falar da minha Instituição Marinha do Brasil, na abertura das comemorações da “Semana da Marinha”, que se inicia hoje e se estenderá até o próximo dia 13 de dezembro, data do aniversário de nascimento do nosso patrono, Almirante Joaquim Marques Lisboa, o Marquês de Tamandaré, e que se convencionou chamar “Dia do Marinheiro”.

O que pode parecer um tanto incompreensível para o mundo civil, em um tempo marcado não só pela inversão, mas pela subversão de valores, pela ausência e, principalmente, pela indiferença às celebrações cívico-culturais, a reverência aos símbolos nacionais, aos vultos históricos e às datas significativas do calendário das nossas Instituições, constitui, para nós militares, a sublimação das nossas crenças mais elevadas e o estaiamento das nossas sagradas tradições.


O papel da Marinha do Brasil na construção da Pátria brasileira, enquanto Nação soberana no contexto internacional, confunde-se com a própria História Nacional, ao verificarmos a decisiva participação do Poder Naval nos mais graves momentos da vida nacional, como na consolidação do processo político institucional da nossa Independência; na defesa da integralidade do nosso território nas guerras travadas com Estados vizinhos, no sec. XIX; no advento da República; nas duas Grandes Guerras mundiais; na presença efetiva na redentora e vitoriosa Contra-Revolução de março de 1964, até alcançar os nossos dias, nesse limiar do sec. XXI.


Da verdade extraída da assertiva que “a História é a mestra da vida”, pode-se assegurar que felizes os povos cujas Histórias registram a passagem de figuras humanas cuja retidão de caráter, integridade moral e conduta irrepreensível possam servir de inspiração e modelo às gerações que se sucedem.
A História Militar brasileira, e a História Naval em particular, tem o privilégio de registrar em seus anais a existência do Almirante Joaquim Marques Lisboa, o Marquês de Tamandaré, que mereceu de seus pôsteres o tributo de tornar-se Patrono da Marinha do Brasil e de ter sua data de nascimento celebrada como o “Dia do Marinheiro”.


Joaquim Marques Lisboa nasceu em Rio Grande, no Rio Grande do Sul, em 13 de dezembro de 1807, de família pouco abastada e desde cedo demonstrou seu pendor pela vida no mar, acompanhando seu pai em suas atividades profissionais como Prático do Porto.


Em 1823, aos 16 anos, embarcou como voluntário, na Fragata “Nictheroy”, tendo como “quebra-sal” a participação nas primeiras operações da Esquadra nos combates pela consolidação da Independência, em especial da notável e histórica perseguição à frota portuguesa de 71 navios, da costa da Bahia à desembocadura do Rio Tejo, em Portugal.


Depois de passar pelas duras provas de desempenho em combate, em 1824, ingressou como Aspirante na Academia Imperial dos Guardas-Marinha, interrompendo, no ano seguinte, o curso de formação de Oficiais para participar das lutas pela pacificação da Confederação do Equador e das guerras civis nas Províncias do Maranhão e do Pará. De 1825 a 1828, participou ativamente da Guerra da Cisplatina, onde foi feito prisioneiro das forças argentinas. Durante a prisão, amotinou-se e com a bravura só encontrada nos homens do mar, tomou um navio inimigo e com ele continuou a combater na defesa dos interesses brasileiros.


Entre 1830 e 1836, participou da pacificação da Província de Pernambuco, na revolta da “Setembrada”; lutou contra revoltosos nas Províncias do Ceará, Bahia e contra a “Balaiada”, na Província do Maranhão, em 1839. Em 1848, participou da luta para conter a denominada revolução dos “Praeiros”, em Pernambuco, comandando a vitoriosa Divisão Naval dos Imperiais Marinheiros.


Em sua carreira de Oficial, comandou diversos navios da Armada Imperial, exercendo também, e concomitantemente, vários cargos administrativos e de estado-maior. Foi Comandante da Divisão Naval do Rio de Janeiro – núcleo do hoje Comando-em-Chefe da Esquadra; Inspetor do Arsenal de Marinha e membro efetivo do Conselho Naval do Império. Foi o grande mentor da reorganização e modernização da Marinha, adaptando-a para a navegação com propulsão a vapor.


Foi promovido a Chefe-de-Divisão, em 1852; a Chefe-de-Esquadra, em 1854, e a Vice-Almirante, em 1856, recebendo, em 1860, o título de Barão de Tamandaré. Em 1864, foi nomeado Comandante-em-Chefe das Forças Navais do Rio da Prata e, nessa condição, participou das campanhas contra Aguirre, no Uruguai, demonstrando em combate suas invulgares qualidades de liderança no cerco a Paissandu e no bloqueio a Montevidéu; e no comando da heróica e vitoriosa esquadra aliada na Guerra do Paraguai, cargo que exerceu até dezembro de 1866, quando foi substituído por motivo de doença. Em 1865, em plena guerra, foi elevado à condição de Visconde; em 1867, ao posto de Almirante; em 1887, a Conde, e, por fim, em 1888, a Marquês de Tamandaré.

O Almirante Joaquim Marques Lisboa, o Marquês de Tamandaré, faleceu no Rio de Janeiro, em 20 de março de 1897, aos 90 anos de idade, após dedicar integralmente 67 anos da sua vida à Marinha e ao Brasil.

Seus restos mortais foram transladados tempos depois para o Rio Grande do Sul, onde se encontram sepultados sob a proteção das figueiras seculares do Complexo Naval da cidade do Rio Grande, sua terra natal.
Em uma carreira militar-naval, vivida dos 15 aos 82 anos, Joaquim Marques Lisboa não foi imortalizado apenas por seus feitos navais. Foi, também, pela sua firmeza de caráter; pelo devotamento absoluto à profissão; pela probidade em seus atos públicos e particulares; e pela franqueza de suas opiniões que o destacaram em nossa História.

Reconhecido e homenageado ainda em vida, quando assediado para ingressar na vida política, por seu carisma e brilhantismo, seu conceito de dedicação contínua à Pátria não o permitiu confundir-se com os jogos de poder de sua época, respondendo aos seus interlocutores, com a humildade que caracteriza os grandes Chefes: “Sou marinheiro e outra coisa não quero ser”.

Valorizando-se o homem por aquilo que faz e por aquilo que pensa, transcrevemos o conceito de honra externado por Tamandaré em suas memórias:
“Honra é a força que nos impele a prestigiar nossa personalidade. É o sentimento avançado do nosso patrimônio moral, um misto de brio e valor. Ela exige a posse da perfeita compreensão do que é justo, nobre e respeitável, para elevação da nossa dignidade; a bravura para desafrontar perigos de toda ordem, na defesa da verdade, do direito e da justiça.
Este sentimento está acima da vida e de tudo quanto existe no mundo, porque a vida se acaba na sepultura e os bens são transitórios, enquanto que a honra a tudo sobrevive”.

Por seus méritos, e tão-somente por eles, o Almirante Joaquim Marques Lisboa, o Marquês de Tamandaré, foi escolhido Patrono da Marinha do Brasil, como exemplo e guia de todas as gerações de marinheiros, tanto do passado, quanto do presente, cuja alvura dos uniformes a simbolizar e a refletir o caráter de quem os enverga, sinaliza que sua honra está imortalizada e sobrevive, por tudo o que representa.

A participação pessoal de Tamandaré em quase todos os eventos de conformação do nosso País, enquanto Nação soberana, teve influência direta e inquestionável no curso da História Nacional. Seus feitos na crueza da guerra, o espírito marinheiro inquebrantável, o conceito de honra e sua envergadura moral incomparável, obtiveram o reconhecimento dos brasileiros e o alçaram ao pedestal de herói da Pátria.

Nesta data, quando são iniciadas as comemorações da “Semana da Marinha”, e, mais especialmente no próximo dia 13 de dezembro, “Dia do Marinheiro”, data em que a Marinha de hoje reverencia a Marinha de sempre, cada um de nós, militares da Marinha do Brasil, deve carregar dentro de si o máximo orgulho de bem servir ao nosso País, buscando situar-se à altura do legado daqueles que, desde a Guerra da Independência, vêm construindo a Instituição que logramos herdar e à qual temos o máximo orgulho de pertencer.

Por oportuno, nunca será demais lembrar àqueles que não sabem, quer por justificado desconhecimento ou por desprezível ironia, que para nós, uma vez na Marinha, marinheiros sempre seremos, na justeza das nossas obrigações, deveres e prerrogativas.

Na Ativa, na Reserva, reformados ou mortos, somos por todo o sempre militares da Marinha do Brasil.



Assim tem sido. Assim será.

Um comentário:

  1. Em uma sociedade pouco ética, e a ética parece ser uma virtude que implica em muitos sacríficios para ser exercitada quando na realidade basta aprender a dizer "não" na hora correta, tenho orgulho de ter pertencido a uma força tão comprometida com idéias e ideais que nunca devem ser esquecidos.

    Como ex-fuzileiro naval guardo excelentes lembranças de um tempo de muita camaradagem e solidariedade que voltei a encontrar quando passei a conviver com os amigos de duas rodas.

    Hoje em dia a carreira militar vem sofrendo perdas pesadas por ter deixado de ser uma profissão e passado a ser uma vocação e nem sempre se pode seguir uma vocação quando a vida acontece durante o tempo em que se fazem planos.

    Uma saudação aos colegas e ex-colegas que tiveram a felicidade de experimentar a vocação de ser militar.

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