Meu piloto poderá falar quando quiser, mas, sobretudo, terá que saber escutar, ouvir e entender os sons que sou capaz de emitir: como o assobio do vento relativo nos meus montantes e estais; o ronco do meu fiel motor que, às vezes, espouca e tosse, com um bafo de fumo azulado.
Procura-se um humano que compreenda os meus códigos, que talvez sejam mensagens diluídas pelo tempo e remanescentes de aviadores antigos que me conduziram, ou a outros iguais a mim.
Procura-se um aviador que não se importe com meu cheiro de dope, graxa e gasolina, também não se melindre quando eu o espirrar óleo. Deverá ainda saber usar a bússola e ler uma carta seccional, reconhecendo referências no terreno, compensando o vento e mantendo a rota, sem precisar de mostradores eléctricos. Este piloto decerto apreciará as pistas de erva e cascalho.
O aviador que procuro deverá saber extasiar-se com minhas antiquadas chandelles, turneaux e loopings, apenas alegres e espontâneos bailados, sem pretensão a aplausos ou troféus.
Procura-se um aviador que tenha prazer de voar a qualquer hora, mas preferindo descolar ao nascer do sol, ou conduzir-me nas luzes mágicas do sol poente. Meu piloto será um saudosista por certo, sobrevivente do tempo em que um avião era um avião, e não um foguete com asas, recheado de automatismos.
Coronel-Aviador Antonio Arthur Braga (3/2/1932 - 8/12/2003) |
O aviador que vier por este anúncio será aquele que procure poesia na aviação.
Procura-se este aviador raro, que tenha carinho por mim, a despeito da minha idade, e que, principalmente, não permita que lhe arranquem o romantismo.
North American Aviation AT-6D Texan, serial # 1542, matrícula civil PT-TRB, do Coronel-Aviador Braga, o inesquecível comandante da Esquadrinha da Fumaça. Academia da Força Aérea, Pirassununga, SP |
Autor desconhecido
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