Uma das
coisas que mais cansam no Brasil é a falta de lógica e de memória nos debates,
assim como a busca por “soluções mágicas” simplistas para os complexos
problemas. Temos uma “guerra civil” no trânsito, que mata cerca de 50 mil
pessoas por ano, quantia similar a de perdas em homicídios. A Lei Seca foi a
grande promessa que encantou – e ainda encanta – um monte de gente.
Quando foi
aprovada, houve grande comemoração. Nos primeiros meses, os jornais estampavam
as quedas dos acidentes, e a falta de lógica levava à conclusão precipitada de
que era a tolerância zero com o álcool a responsável pela conquista.
O culpado pelas mortes no trânsito era o sujeito, pai de família responsável, que bebia uma taça ou duas de vinho no jantar com sua mulher e depois dirigia calmamente para casa. Um criminoso! Um assassino!
Enquanto isso, carros caindo aos pedaços continuavam a circular nas ruas, motoristas imprudentes sem álcool no sangue também, tudo em vias precárias, sem conservação, com má sinalização, em um país cuja cultura não costuma respeitar as regras.
O culpado pelas mortes no trânsito era o sujeito, pai de família responsável, que bebia uma taça ou duas de vinho no jantar com sua mulher e depois dirigia calmamente para casa. Um criminoso! Um assassino!
Enquanto isso, carros caindo aos pedaços continuavam a circular nas ruas, motoristas imprudentes sem álcool no sangue também, tudo em vias precárias, sem conservação, com má sinalização, em um país cuja cultura não costuma respeitar as regras.
Resultado?
As mortes em acidentes de trânsito continuam subindo.
São números de uma guerra. Há um alerta para o padrão de
comportamento que se alastra perigosamente: os motoristas estão dirigindo de
maneira cada vez mais imprudente, não respeitando os limites de velocidade e o
sinal vermelho, colocando em risco suas vidas e as de terceiros.
O número de mortes aumentou 13% desde a implantação da Lei Seca, em 2009. |
O interessante é que as pesquisas indicam que 90% dos motoristas aprovam a Lei Seca. E pasmem! Não há nenhum elo
feito entre a promessa de resultados fantásticos com a lei e o resultado lamentável
de hoje. Ou seja, ninguém liga “lé” com “cré”, ou cobra coerência das propostas
anteriores.
Vamos
sempre atacando sintomas em vez de causas. Somos o país do sofá, do marido que
joga fora o sofá para acabar com o adultério da esposa. Quebramos o termômetro
para “curar” a febre do doente.
É como no
caso do desarmamento, que prometia resolver ou melhorar muito a questão da
criminalidade. Tirando a proteção do cidadão de bem? Avisando ao bandido que
ninguém mais terá condições de garantir sua legítima-defesa? Qual a lógica? Não
importa. Era grande a expectativa dos “progressistas”. O crime continua
aumentando, mas quem liga?
E assim
chegamos a esse cenário atual, em que não se pode sair para jantar e tomar um
vinho, como se existisse uma excelente infraestrutura de transporte público como
alternativa, enquanto mais e mais gente morre vítima de imprudência no caótico
trânsito do país.
Mas vamos
resolver tudo agora. Vamos intensificar ainda mais o rigor da Lei Seca. Ai
daquele criminoso maldito que ousar pegar na direção depois de comer um bombom
de licor ou usar aqueles enxaguantes bucais com um pouco de álcool! O
Brasil, definitivamente, não é um país sério…
Fonte: coluna do Rodrigo Constantino e Mapa da Violência 2013, escrito por Julio
Jacobo Waiselfisz, do Centro Brasileiro de Estudos Latino-Americanos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário