sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Turbilhão de Emoções II - O Relato

Aposentar-me foi, realmente, um evento marcante na minha vida.
Desde os 17 anos (quando entrei na Marinha, como Aspirante)  até anteontem, dia 30/9 (quando me aposentei), nunca parei de trabalhar ou de ter uma atividade remunerada e com responsabilidade.

Ainda como aluno numa escola militar, eu recebia um soldo e tinha a responsabilidade equivalente, que era severamente cobrada por meus superiores e professores/instrutores.

Durante o tempo como militar e como Oficial da Marinha Mercante, sempre trabalhei com uma carga de responsabilidade acima do equivalente cronológico. Explico: quando me formei, nos Anos Dourados da década de 1960, o Brasil estava em pleno desenvolvimento, com crescimento de dois dígitos (é, já tivemos uma época assim . . . ).

O Poder Marítimo Brasileiro cresceu exponencialmente e nosso país tornou-se um dos líderes, tanto na construção naval (chegamos a ser o 2º maior do mundo) como no tamanho da frota.

A Escola não conseguia formar Oficiais em número e tempo necessários para atender a demanda que os novos navios traziam. Daí, minha geração teve uma carreira muito rápida, chegando a postos de chefia e comando muito jovens, ainda. Isto nos exigiu uma maturidade precoce, dada a responsabilidade que assumimos.

Depois, quando deixei o mar e vim para terra, comecei já em cargos de gerência e de diretoria, outra vez carregados de muita responsabilidade.

Por isso, ao conscientizar-me de que ia me aposentar, tive uma sensação de perda. Ainda que a decisão tenha sido tomada com bastante antecipação, foi necessário muito controle emocional para conduzir o processo com tranquilidade.

Começamos a preparar o plano de transição ainda em Abril, com os colegas que iriam assumir minhas responsabilidades nomeados em Maio. Demos continuidade ao plano, que foi cumprido em sua integridade, dentro dos prazos determinados. O fato destes colegas serem, também, bons amigos facilitou muito a transição, é claro.

No final de Agosto, as atividades da companhia na Região Sul já estavam sendo conduzidas pela equipe de gerentes que assumiriam o comando total da Região, a partir de 1º de Outubro. Fui, então, iniciando o processo de desaceleração.

Mas bem no meio de Setembro, as coisas começaram a acontecer num rítmo bem intenso. Tudo começou com uma festa surpresa, que a companhia, meus colegas e colaboradores prepararam em minha homenagem. Nesta festa, comemorou-se meus 20 anos na empresa e a minha iminente aposentadoria.
As fotos completas estão aquí.

A partir daí, foi uma corrente de almoços e jantares de homenagem e despedida, além dos preparativos para a passagem efetiva do comando das operações da Hamburg Süd, na Região Sul, para os meus colegas.

Além de ligações telefônicas e mensagens eletrônicas recebidas de, praticamente, todas as partes do mundo, os amigos motociclistas também se juntaram nestas comemorações, como pode ser visto no site da HD Point, de Balneário Camboriú.

Bom, agora oficialmente aposentado, depois de mais de 45 anos entre Marinha do Brasil, Marinha Mercante do Brasil e empresas internacionais de navegação, saí da Ponte de Comando, saudei a Bandeira Brasileira e descí a escada de portaló, pisando terra como um verdadeiro paisano.

Como disse um colega motociclista que aprendí a respeitar e que é um companheiro de Marinha (serviu 10 anos como Fuzileiro Naval), repetindo o que ouviu de seu Comandante, ao passar para a reserva: "Não se desanime tanto com essa porta que está fechando, porque tenho certeza de a porta que vai se abrir te trará outras alegrias, que serão tão importantes quanto as que teve aqui."

Obrigado, Wolfmann. Tais palavras, vindas de um Fuzileiro, tem peso ainda maior.

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