segunda-feira, 7 de fevereiro de 2022

A idade não vem sozinha

 

Octacílio Mendes Roque (25/5/1916 - 15/1/2007)
Meu pai foi uma inspiração para mim de várias formas. Primeiro, pela sua integridade moral; uma pessoa incapaz de fazer qualquer coisa errada, não importando as circunstâncias. Nos educou com sentimento de patriotismo, respeito aos mais velhos e às instituições e ferrenha defesa de democracia.

Segundo, pela sua postura profissional: era um perfeccionista, que não admitia "lambança", como ele se referia a trabalhos mal feitos.

Durante o meu tempo de formação acadêmica na Marinha, tive oportunidade de ficar horas escutando meu pai relatando sua experiência de vida, durante as visitas que fazia em casa. Mesmo mais tarde, já adulto e exercendo posições de comando e alta gerência, continuava a escutá-lo, pois sempre acrescentava conhecimentos importantes. Tanto para a vida profissional como para a pessoal, é válido dizer.

Filho de família de classe média alta, perdeu seus pais muito cedo, quando tinha apenas 14 anos. Uma tia, que recebeu a tutela dele e de sua irmã, se apoderou de todos os bens deixados pelos meus avós. Mesmo assim teve uma excelente educação, como ex-aluno do Colégio Pedro II do Rio de Janeira e da antiga Escola Técnica Federal.

Trabalhou toda a sua vida em metalurgia. Foi Diretor do Depósito de Manutenção de Locomotivas da antiga Estrada de Ferro Central do Brasil. Durante a Segunda Guerra Mundial recebeu a Medalha de Mérito pelo Esforço de Guerra, por ter conseguido manter as locomotivas funcionando, apesar da absoluta falta de componentes e sobressalentes importados. Ele e seus comandados construíam as peças, mesmo sem os desenhos técnicos necessários e mantinham rodando as locomotivas que transportavam o minério de ferro de Minas Gerais para o porto do Rio de Janeiro, onde era exportado para os EUA.

Gerente de Produção de uma importante empresa de montagens industriais nos anos 1970-1980, executou obras importantes no Rio de Janeiro, como a moderna fábrica dos cigarros Hollywood, da Souza Cruz, a maior cervejaria do Brasil, na época, da Brahma e a fábrica de café solúvel Dínamo, em Petrópolis, entre muitas outras.

Faleceu com quase 91 anos, de causas naturais. Homem extremamente independente, sobreviveu por 21 anos a prematura morte da minha mãe, vivendo em sua casa até seus últimos dias de vida.

Aprendi muito com meu pai, tanto nos seus acertos como nos seus erros. Um otimista permanente, sempre achava que o amanhã seria melhor do que o hoje.

Mas uma de suas expressões que me marcaram era quando dizia que "a idade não vem só!"

Claro, a idade traz menos vigor físico e fragilidade da saúde , em muitos casos. Mas o que incomodava mais o meu pai, na velhice, era o desrespeito e falta de consideração das novas gerações.

Uma pena que isto aconteça no Brasil. Convivi profissional e socialmente nos Estados Unidos durante décadas. O respeito aos idosos, chamados de "seniors", é evidente em todos os sentidos. 

Na minha experiência, os mais "jovens" ( e não estou me referindo a adolescentes!) acham que nossa bagagem de vida não tem importância e que eles sabem tudo; assim nossas histórias não são interessantes de ouvir. Tolinhos.

Uma das muitas coisas que descobri na vida é que há três formas de se aprender: com seus próprios erros, com os erros do outros e com muito estudo. Procurei, durante os meus 75 anos de vida, sempre aprender pelos dois últimos métodos. 

Mas isto sou eu!


Um comentário:

  1. Podemos dizer que estamos empatados... Meu saudoso pai me deixou muitos ensinamentos, válidos até agora. Um dos grandes valores que recebi dele foi o temor a Deus. O Mandamento Divino nos diz: Honrar Pai e Mãe e não estabelece condições nem tempo. Tenho um filho que reside no Japão há mais de vinte anos. Lá o povo respeita muito os idosos e mais ainda os Professores... E se o Professor, assim como eu, for idoso, a carga de respeito é muito maior. Gostei de sua publicação. Meu pai costumava dizer: Juventude ociosa não traz velhice proveitosa...

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