terça-feira, 9 de junho de 2020

Atenção, tripulação, preparar para o pouso!


Atenção, tripulação, preparar para o pouso!

Quem nunca escutou esta mensagem (ou algo parecido), vindo da cabine de comando e dirigida para a tripulação de cabine, quando o avião está iniciando a manobra de aterrizagem em um aeroporto?

A velha piada de que “a decolagem é opcional, mas o pouso obrigatório,” é verdadeira e não só na aviação real. No aeromodelismo é a mesma coisa.

O problema é que o pouso é, na realidade, um estol controlado. Mas como a maioria dos aeromodelos não tem um indicador de velocidade e a telemetria não nos dá a indicação de que a velocidade está no pré-estol, a manobra é complicada.

Para nós, aeromodelistas, o pouso é a manobra que fazemos com quase todos os sentidos, inclusive com o sexto!!! E o dedo que controla o stick do profundor é a nossa “conexão” mais próxima com o aeromodelo. Como o avião está voando mais devagar, a asa precisa de um angulo de ataque maior para manter a altitude. Assim, enquanto estiver configurando o pouso é importante trabalhar o acelerador para que velocidade não caia demasiado, levando o aeromodelo a um estol descontrolado.

Tudo depende de entendermos o conceito básico dos comandos na hora da aterrizagem: o profundor comanda a velocidade e o acelerador comanda a taxa de descida ou subida do aeromodelo. A grande maioria das pessoas pensa que é o oposto!

O maior erro que podemos cometer (e eu os cometo, de vez em quando!!) é usar somente o profundor para diminuir a descida do avião, até tocar na pista.

Tiger Moth na atitude correta para pouso de pista. Veja o texto.
Vamos analisar uma situação que é bem fácil de ser testada: faça um voo nivelado com o motor na rotação de aproximação para pouso. Aí, reduza o motor. O que acontece? O avião vai perdendo altura gradativamente. Você não precisa mover o profundor para que isto aconteça, certo?

Quem já fez instrução de voo em um aeroclube, por exemplo, deve lembrar-se de como o instrutor lhe ensina a pousar: coloque o nariz do avião na cabeceira e trabalhe o motor (acelerando ou desacelerando) para manter a atitude.
No aeromodelo é a mesma coisa, só que estamos no chão. Que complicação!!

Quando estamos voando na pista do nosso Clube, temos os nossos pontos de referência para fazer a aproximação e o pouso. Isto, é claro, varia com o tipo e característica de cada aeromodelo, por razões óbvias.

Uns aviões tem maior penetração no ar e vão precisar de uma aproximação mais baixa, para que não toquem no solo com muita velocidade e tenham dificuldade de parar, sem varar a pista. Outros, com maior arrasto, necessitam vir mais “quentes” para o pouso, pois tão logo você cortar no motor, já no solo, a velocidade cai rapidamente.


O mais importante em qualquer aeromodelo, é que o piloto conheça suas características de estol. 

A manobra é bem simples: leve o avião a um altura segura, reduza o motor e aplique o profundor, cabrando lentamente, e observe como as asas se comportam. Nos aeromodelos mais estáveis, as asas se mantém niveladas e o nariz abaixa, para recuperar velocidade. Nos menos estáveis, uma das asas perde sustentação abruptamente e leva o aeromodelo para um parafuso. À baixa altura, que é o caso no pouso, isto implica em desastre.

Atitude e velocidade erradas, desastre certo!
Em linhas gerais, os aeromodelos de treinamento tem uma reação mais estável e os de acrobacia são menos estáveis. Mas quando vamos para o aeromodelismo escala, a coisa se complica. 
Alguns aviões de treinamento clássicos, muito usados no aeromodelismo, são bem instáveis em baixa velocidade. Exemplos: o North American AT-6 e o Embraer  EMB-312 T-27 Tucano. 

Outros, nem tomam conhecimento do estol e perdoam facilmente nossos erros no pouso, como o Piper J-3 Cub e o deHavilland Chipmunk, para citar somente dois.

deHavilland DHC-1 Chipmunk, pouco antes de tocar a pista
Por outro lado, aeromodelos acrobáticos de escala, como os Extra e Edge, são muito dóceis para pousar.

Uma das características que facilitam ou dificultam o pouso dos nossos aeromodelos, é a configuração do trem de aterrizagem. Aviões convencionais, com a bequilha na cauda, sempre são mais difíceis de decolar e pousar do que aqueles que usam trem triciclo, com a bequilha no nariz.

Outro ponto que faz muito diferença é a distância entre rodas. Os P-47 e P-51, por exemplo, são mais fáceis de decolar/pousar do que os P-40 ou Me Bf 109.

Messerschmitt Bf-109
Republic P-47 Thunderbolt
Portanto, sempre que estiver pilotando um aeromodelo com trem de aterrizagem convencional, prefira fazer um “pouso de pista”, tocando o solo com o trem principal, ao invés de tentar um pouso de três pontos.

Uma boa regra é manter a velocidade de pouso um pouco acima da velocidade de estol, mas não muito, que dificulte a parada do aeromodelo (se não tiver freios) no final da rolagem. Isto mantém o fluxo de ar atuando sobre o estabilizador vertical e o leme, importante para manter o alinhamento, como também manter a autoridade do estabilizador horizontal e o profundor, para evitar que o aeromodelo fique “pulando” na pista. Estes poucos km/h acima do estol, evita o choque brusco com o solo, que danifica o trem de aterrizagem e, à vezes, avarias no hélice e esforço desnecessário nas asas.

Outro ponto importante é a atitude de pouso. É sempre preferível pousar com o aeromodelo nivelado nos dois eixos. Se a pista é curta, faça a aproximação longa e chegue na cabeceira da pista já próximo do solo. Com isto você aproveitará a quase totalidade do seu comprimento. Observe como os aeromodelos a jato fazem a aproximação.

Aeromodelo nivelado nos dois eixos: pouso perfeito.
E, lembre-se, voe seu aeromodelo até ele parar!

Aqui, mais do que nunca, a prática leva à perfeição.

Como diz um amigo aeromodelista de longa data e profissional da aviação, "depois dos primeiros mil pousos, tudo fica mais fácil."

Bons voos!

Um comentário:

  1. Sempre uma aula bacana, desde a primeira que tive contigo. Obrigado. Forte abraço!

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