quarta-feira, 26 de junho de 2019

Aeroporto de Manguinhos: lembranças da juventude

Aeroporto de Manguinhos, Rio de Janeiro. Ao fundo o prédio do Instituto Osvaldo Cruz.
Em 1959 minha família mudou-se de Santos Dumont, MG para a cidade de Três Rios, RJ.

Em Três Rios encontrei um grupo de aeromodelistas bastante participativo, que praticava voo circular controlado (VCC ou U-Control como chamávamos na época). Como não havia pista de aeromodelismo em Três Rios, voávamos no campo do Entrerriense Futebol Clube.

Mas a meca do aeromodelismo estava 150 km mais ao sul, pela antiga Estrada União-Indústria, no Rio de Janeiro. Era o Aeroporto de Manguinhos - Aeroclube do Brasil, sede da Associação Carioca de Aeromodelismo (ACA), o mais antigo clube de aeromodelismo do Brasil.

Vista aérea de Manguihos. Atrás do hangar, a pista circular da ACA.
Entre 1959 e 1962 eu descia a serra de Petrópolis de ônibus, para voar meus aeromodelos na pista da  ACA.

É assim que funciona o voo circular controlado, VCC.
Voando na modalidade VCC
Saía de Três Rios aos domingos no ônibus das 07:00 da Viação Salutaris e pedia ao motorista para parar em frente ao Instituto Osvaldo Cruz, para eu descer. Ir até a rodoviária, na Praça Mauá, implicava em pegar um ônibus urbano para retornar a Manguinhos, o que tomava tempo e custava mais caro.

Ao comprar a passagem de ida, já comprava a passagem de volta, no ônibus que saía de Praça Mauá às 16:00 horas e que passava em frente ao Aeroclube por voltas das 16:15/16:20.

Alguns ônibus da Viação Salutaris, nos anos 1960.
A viagem levava três horas e meia! Hoje é preciso menos de duas horas, pela BR-040.

Conseguia fazer isto quase uma vez por mês com o dinheiro que economizava da merenda na escola. Meu pai não nos dava mesada e eu não tinha coragem de ficar pedindo dinheiro. Assim, economizava na merenda, vendia jornal velho, fazia qualquer trabalho que pudesse me render alguns trocados para comprar querosene, éter e óleo de rícino e preparar o combustível que o motor WB 1,5cc Diesel precisava.

Às vezes ia com o meu saudoso amigo Pojuca (Narciso da Costa Mattos), 16 anos mais velho do que eu, que era o líder do grupo de aeromodelistas de Três Rios. Neste caso ele até bancava a passagem do ônibus e o lanche na cantina do Aeroclube, pois havia me "adotado" como seu pupilo no aeromodelismo.

O Pojuca é o primeiro à esquerda, nesta foto de 1989, na União Fluminense de Aeromodelismo.
Os demais são Marcus Roque, eu, Emílio Celso e Arno Vath.
Nossa amizade sobreviveu aos anos, até sua passagem, há pouco mais de 5 anos.

Numa destas idas, havia uma competição de acrobacia e eu fui inscrito pelo Pojuca para competir na Classe Juvenil. Para isto fizeram minha inscrição como atleta e recebi o PT-125.

Infelizmente a antiga ABA - Associação Brasileira de Aeromodelismo, recém fundada, acabou transferindo meu PT para outro aeromodelista (regra então válida, se você deixava de competir por mais de 5 anos seguidos). Quando retornei ao circuito competitivo no final dos anos 1970 recebi o PT-2458 (l BRA 2458), que usei até março de 2024, quando a Confederação Brasileira de Aeromodelismo, a meu pedido, reconheceu meu registro original e emitiu minha Licença Desportivo como BRA 125.

Bons tempos. Lembro muito bem dos aviões de via por lá.


Já desativado o aeroporto, este DC-3 sem as asas aguarda transporte para outro aeródromo.
Além dos DC-3, que eram a maioria, havia também alguns Curtis C-46 Commando, que eram utilizados pelo Lóide Aéreo Nacional.

Curtis C-46 Commando
O Voo Circular Controlado ainda é muito praticado em todo mundo.

Algumas pistas famosas de VCC no Brasil:

Pistas de VCC no Aterro do Flamengo, Rio de Janeiro
Pistas de VCC no Parque Barigüi, em Curitiba
Pistas de VCC no Parque Ibirapuera, São Paulo

4 comentários:

  1. Grande amigo Roque.
    Que lembranças maravilhosas!!!
    Você tem um livro de lembranças, recordações prazerosas daquelas que nos fazem rir sozinhos.
    O único que não conheci, na foto, foi o Pojuca.
    Bons tempos de Manguinhos!!
    Frequentei bem menos que você, pois eu tinha 10 anos, o dinheiro da merenda também era a salvação. A viagem de volta para Nova Iguaçu que era complicada. Passava um ônibus a cada duas, três horas e sem horário certo. Mas valia o sacrifício. Eu ajudava a entelar uns Teco-Teco e ganhava um pouquinho de dope. Depois passei a frequentar a pista do aterro.
    Muito bacana essa retrospectiva.
    Grande abraço.

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    Respostas
    1. Obrigado por compartilhar suas lembranças conosco, Isaac.

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  2. Grande amigo Roque.
    Que lembranças maravilhosas!!!
    Você tem um livro de lembranças, recordações prazerosas daquelas que nos fazem rir sozinhos.
    O único que não conheci, na foto, foi o Pojuca.
    Bons tempos de Manguinhos!!
    Frequentei bem menos que você, pois eu tinha 10 anos, o dinheiro da merenda também era a salvação. A viagem de volta para Nova Iguaçu que era complicada. Passava um ônibus a cada duas, três horas e sem horário certo. Mas valia o sacrifício. Eu ajudava a entelar uns Teco-Teco e ganhava um pouquinho de dope. Depois passei a frequentar a pista do aterro.
    Muito bacana essa retrospectiva.
    Grande abraço.

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  3. É uma VERGONHA! Um local de tanta importância ter sido abandonado o ocupado desorganizadamente.
    É o espelho do Brasil!

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