DIA DO
AVIADOR
Sérgio Pinto Monteiro*
A Lei nº 218, de 04 de julho de 1936,
instituiu no Brasil o Dia do Aviador. A data reverencia a primeira vez na
história em que um homem ergueu-se do solo realizando um voo público com um
aparelho mais pesado que o ar. Alberto Santos-Dumont, em seu 14-Bis (assim
chamado por tratar-se de um biplano, dois pares de asas paralelas de cada lado,
construído a partir do dirigível nº 14, da série criada pelo inventor),
realizou o antigo sonho de fazer o homem voar. Ocorrido em 23 de outubro de
1906, no gramado de Bagatelle, no Bois de Boulogne, na capital da França, o
feito histórico transformou Santos-Dumont no cidadão mais popular de Paris na
primeira década do século 20, herói brasileiro, imitado, festejado e aplaudido
em todo o mundo. Eventuais tentativas de atribuir-se a façanha do primeiro voo
aos irmãos Wright não resistem a uma análise isenta e mais cuidadosa da
matéria.
No Brasil, a Lei nº 3636, de 22 de
setembro de 1959, concedeu a Santos-Dumont o posto honorífico de
Marechal-do-Ar.
O início da aviação militar em nosso país
(era pós-balonismo) remonta ao início do século vinte, cinco anos após o
primeiro voo do 14-Bis. Em 1911, a Marinha de Guerra enviou à França o
Capitão-Tenente Jorge Henrique Moller, brevetado aviador em 29 de abril do
mesmo ano e transformando-se no primeiro aviador militar brasileiro.
Ainda
1911, foi criado o Aero Club Brasileiro, cujo objetivo era se transformar numa
escola de aviação. No ano seguinte, o ACB começou a utilizar o Campo dos
Afonsos, no Rio de Janeiro, antigo engenho onde, no século XIX, se produzia
açúcar e criava gado. Ali se instalou o primeiro campo de aviação do país. A
Escola Brasileira de Aviação, criada em 1914 e também sediada no Campo dos
Afonsos, teve curta duração. Nesse tempo, o Exército adquiriu as primeiras
aeronaves de uso militar, de fabricação francesa e italiana. Cinco desses
aviões foram deslocados para a região da Campanha do Contestado (1912/1916) e
três deles ficaram sob o comando do General Setembrino de Carvalho. As outras
duas aeronaves foram destruídas em consequência de um incêndio no comboio
ferroviário que as transportava para a região do conflito. Pela primeira vez em
nosso país, o Exército usava a recém-criada arma aérea em operações de guerra.
Em 1º de março de 1915 faleceu, durante uma
missão de reconhecimento aéreo na área do litígio no Paraná, o Tenente Aviador
Ricardo João Kirk, Diretor da Escola de Aviação e Comandante do Destacamento. O
Tenente Kirk, brevetado em 22 de outubro de 1912 na Ecole d’Aviation d’Etampes,
na França, foi o primeiro oficial do Exército Brasileiro a pilotar aviões como
também o primeiro aviador brasileiro a perder a vida em missão de guerra.
Promovido a Capitão post-mortem, é hoje homenageado como Patrono da Aviação do
Exército Brasileiro.
Em 23 de agosto de 1916, o Presidente
Wenceslau Braz, assinou decreto criando a Escola de Aviação Naval e aviadores
navais brasileiros participaram de operações reais de patrulha durante a I GM
(1914/1918), integrando o 10º Grupo de Operações de Guerra da Royal Air Force.
Ainda em 1916, a Marinha fez história com uma aeronave Curtiss atuando em
proveito dos meios da esquadra.
O Ministério da Aeronáutica surgiu no Brasil
em plena Segunda Guerra Mundial, criado pelo Decreto-Lei nº 2961, de 20 de
janeiro de 1941. A recém-nascida Força Aérea Brasileira herdava das antigas
aviações do Exército e da Marinha algumas centenas de aeronaves, a maioria
delas obsoletas para missões de guerra. Em contrapartida, recebia também uma
plêiade de jovens aviadores, militares de altíssimo padrão profissional e
cívico, que cumpriram com dedicação e eficácia a complexa e dificílima missão
de instalar e tornar operacional uma nova força aérea, em plena II GM. Esses
homens, cuja expressão maior é o Marechal-do-Ar Eduardo Gomes (declarado
Aspirante a Oficial do Exército, na Arma de Artilharia, em 17 de dezembro de
1918 e promovido a Brigadeiro em 10 de dezembro de 1941) tornaram-se dignos da
admiração, respeito e reconhecimento do povo e da nação brasileira. Seu
pioneirismo, coragem e bravura jamais devem ser esquecidos, eis que, numa
simbiose perfeita, souberam aliar o sonho dos grandes aviadores ao
profissionalismo de soldados da melhor estirpe.
O Marechal Eduardo Gomes, exemplo de
militar e de cidadão, tornou-se por inteira justiça, através da Lei nº 7243 de
04 de novembro de 1984, patrono da Força Aérea Brasileira, enquanto o
Marechal-do-Ar (honorífico) Alberto Santos-Dumont, pela mesma lei, era declarado
patrono da Aeronáutica.
Um século após a brevetação do nosso
primeiro aviador militar e setenta e dois anos decorridos da criação da Força
Aérea Brasileira, o Pai da Aviação continua inspirando os aviadores do Brasil
na realização de seu nobre destino de herdeiros daquele que tornou possível o
sonho de Ícaro. Vocês, aviadores de todas as épocas, do romantismo dos
pioneiros ao tecnólogo da era cibernética, têm no seu DNA o brilho, a coragem,
a tenacidade, o idealismo, a brasilidade e a fibra de Alberto Santos-Dumont e
Eduardo Gomes. Nasceram predestinados à vitória. Nada, nem ninguém, jamais
poderá derrotá-los. Parabéns Força Aérea Brasileira. Parabéns, gloriosos homens
alados. A nação descansa, tranquila, sob as suas asas protetoras.
“Iniciará o
primeiro voo a grande ave sobre o monte Cecero, enchendo o universo de
admiração, preenchendo com sua fama todas as escrituras, e dando glória eterna
ao ninho onde nasceu”.
Leonardo da Vinci (Codice sul
volo degli uccelli - 1505)
*o autor é
professor, historiador e oficial da R/2do Exército
Brasileiro. É Diretor de Cultura e Civismo da Associação Nacional dos Veteranos da FEB,
membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil e da Academia
Brasileira de Defesa.
Nenhum comentário:
Postar um comentário