Eu tive que aprender a conviver em grupo quando era ainda muito jovem.
Explico: ingressei na Marinha do Brasil em 1964, com apenas 17 anos.
Na Escola ficávamos alojados em camarotes que acomodavam quatro Aspirantes. Tínhamos que aprender a conviver em um espaço comum, desde o início de nossas carreiras.
Por algumas décadas naveguei por quase todas as partes do mundo. Viagens longas, uma delas me afastando da família por 9 meses.
Em outra oportunidade fiquei 2 anos sem férias. Não haviam oficiais suficientes para nos substituir para que pudéssemos desembarcar e desfrutar nossos poucos 30 dias de férias, anualmente.
E todos tinham que contribuir com sua taxa de sacrifício para o crescimento do Brasil, o que fazíamos com muito orgulho, diga-se de passagem.
Quando se está servindo num navio, não temos outra alternativa a não ser aprendermos a conviver com a diversidade.
Durante 24 horas por dia, durante semanas e, às vezes, meses, você trabalha, dorme, faz suas refeições e convive num ambiente restrito e com as mesmas pessoas.
Naquele tempo, se você ainda era um oficial ou um graduado, teria o luxo de um camarote individual. Era a sua única oportunidade de privacidade total. Os marinheiros, nem isto.
Os seus colegas à bordo tem o mesmo nível acadêmico e treinamento militar, mas são originários de quase todas as partes do Brasil, com diferentes formações culturais, familiares, religiosas. E com opiniões distintas em muitos assuntos, como em política e esportes, por exemplo.
Trabalhamos juntos, fazemos as refeições juntas, compartilhamos juntos os poucos momentos de entretenimento à bordo. Devido à necessidade de manter a disciplina e a hierarquia, raramente convivemos socialmente com os marinherios e graduados, o que reduz substancialmente o número de pessoas no nosso relacionamento social.
Ou seja, você não tem a oportunidade de sair do seu ambiente de trabalho, como a grande maioria das pessoas no mundo, e ir para casa e ficar com a família ou encontrar-se com outros amigos e desfrutar alguns momentos de descontração num clube, num barzinho, no futebol ou na academia.
Uma das regras que logo aprendemos é a de respeitar a individualidade de cada um. Entender que nem todo mundo gosta das mesmas coisas, das mesmas músicas, dos mesmo livros, do mesmo filme.
Ou de fazer o mesmo passeio e ir ao mesmo restaurante, se transportarmos este espírito de convivência para o nosso mundo do motociclismo.
Quem me conhece sabe que eu não embarco nesta discussão infrutífera sobre qual é a melhor marca de motocicleta, Harley ou BMW.
Eu gosto da minha Harley e respeito quem gosta de uma BMW, Honda, Suzuki, etc.
Já tive motocicletas Honda e Yamaha, antes das Harleys. Gostava delas, também.
Aliás acho estranho esta rivalidade entre Harley e BMW, que vejo aqui no Sul.
Não sei se existe em outras partes e nunca havia ouvido coisa semelhante em outros cidades/países onde vivi.
O mesmo se aplica aos passeios e viagens. Nem todo mundo quer ir ao mesmo lugar ou almoçar no mesmo restaurante. Às vezes não estamos nem dispostos a rodar, naquele dia específico.
Temos que aprender a conviver com isto.
O conhecido e quase lendário Assis, um motociclista de Florianópolis com uma grande experiência de estrada, inventou uma frase que resume, com propriedade, este conceito.
Diz o grande Assis: "Quem quer tomar banho, toma. Quem não quer, não toma."
Eu penso da mesma forma.
Grande Roque,
ResponderExcluirÉ sempre muito bom ler seu blog, sempre aprendo mais.
Abraço Roque.
Márcio Mafra