"Um navio nunca se entrega ao inimigo e sua bandeira jamais se arria em presença dele. A Honra do Marinheiro o impede."
quarta-feira, 8 de julho de 2009
Road Captain
Há muito pouca literatura sobre as funções de um Road Captain e como reagir durante situações específicas na estrada.
Eu rodo em média 12.000 km por ano, o que é muito acima da média mundial de 3.200 km para motocicletas classificadas como “custom”. A estatística é da Motorcycle Safety Foundation, dos EUA. Grande parte dessa quilometragem é feita em grupo, que variam de 3 a 43 motocicletas (na viagem Curitiba/Campos do Jordão, no HOG Rally 2009).
Algumas vezes eu lidero o trem, como Road Captain, mas a maioria das vezes vou no meio do grupo e, algumas vezes, faço o trabalho de cerra-fila.
O único treinamento específico que conheço, no Brasil, para viagens em grupo é o patrocinado pela Harley-Davidson. Um bom treinamento, que aconselho a todos que gostam de viajar com outros motociclistas.
Mas durante as conversas no HD Point Café, em Balneário Camboriú, tenho escutado relatos preocupantes de integrantes de grupos que viajam juntos. E, o pior, comentários negativos sobre a pessoa que atuou como Road Captain naquela viagem específica.
Como não há um curso específico para Road Captains (nos moldes dos existentes nos Estados Unidos, por exemplo), os motociclistas brasileiros precisam aprender com seus próprios erros e com os erros dos colegas que atuam na mesma missão.
Parece que ser um Road Captain é uma dessas fascinantes ocupações na vida que você nunca domina completamente, daquelas que você está constantemente aprendendendo alguma coisa mais. Ou como fazer o trabalho ainda melhor.
Acho que um Road Captain é um estudioso da ciência do motociclismo, que continua a ser um estudante aplicado, por toda a sua vida sobre duas rodas. Alguém que pode ser treinado e que aprende e desenvolve suas habilidades, aprendendo com seu próprio erro e o erro e acertos de outros motociclistas.
Eu leio uma série de blogs sobre motociclismo e o tema segurança sempre me atrai. Creio que é resultado da minha própria formação profissional.
Recentemente lí uma postagem de um motociclista americano, chamado Jay Green, que acho relevante para publicar aqui.
Ele diz o seguinte: “Eu cometí um erro de julgamento, durante um passeio na última quarta-feira, que quero documentar para o benefício daqueles que se interessam pela arte de ser um Road Captain. Antes, quero dizer algumas coisas. Primeiro, acho que pilotando em grupo sem rádio comunicação (PX ou CB) entre as motocicletas é o mesmo que enviar um esquadrão de caças dos Fuzileiros Navais para executar uma missão, sem comunicação entre eles.
(comentário: é claro que o Jay Green foi fuzileiro naval. Só um fuzileiro pensaria em mandar um esquadrão de caças, pilotados por fuzileiros, sem um aviador naval, da MARINHA, no comando. Mas deixe o Jay Green continuar. . .).
Segundo, o cerra-fila é a tarefa mais difícil de se executar, num comboio. Ele pode ver-se em situações difíceis e, até, perigosas para proteger o grupo. Esta posição deve ser ocupada pelo Road Captain com mais experiência.
O grupo confia no cerra-fila para bloquear o tráfego em vias de duas faixas, quando estas vão se tranformar um uma única faixa. Quando maior o grupo, mas crítica esta tarefa se torna.
Um exemplo: se um grupo de vinte motocicletas está avançando pela estrada, na faixa de esquerda e há uma carreta mais vagarosa na faixa de direita, o cerra-fila tem que bloquear esta faixa, para evitar que um carro ou outro veículo mais veloz tente ultrapassar o grupo pela direita. E quando este veículo chegar próxima daquela carreta, bloqueando seu caminho, a tendência natural será forçar a ultrapassagem pela esquerda, tornando-se um perigo potencial para os motociclistas do grupo.
Se isto acontecer, temos que rezar para que o grupo ajuste sua velocidade e abra espaço para este “apressado” poder passar com segurança. Na maioria dos casos, o Road Captain líder pode “segurar” o grupo e acenar para que o outro veículo ultrapasse, antes que fique sem espaço para prosseguir e provoque um acidente.
Essas manobras serão mais facilmente executadas se o Road Captain líder e o cerra-fila estiverem em comunicação via rádio. Se mais pilotos tiverem rádios e estiverem ligados na mesma frequência, ainda melhor, pois acompanharão as informações dos Road Captains.
Nesta quarta-feira, eu atuava como cerra-fila de um grupo de oito motociclistas, mas sómente eu estava equipado com rádio. Portanto não tínhamos contato entre nós.
O grupo estava seguindo por uma estrada de mão dupla, pista simples, quando uma mini-van aproximou-se atrás de nós, com evidentes intenções de nos ultrapassar.
Eu criei um espaço extra entre a mini-van e o grupo, ao diminuir a minha velocidade e forçar o outro veículo a diminuir, também.
Estávamos num trecho de subida e havia uma terceira faixa à direita, para veículos lentos. O Road Captain líder tomou a decisão correta e moveu o grupo para a faixa da direita, para permitir a ultrapassagem daquela mini-van.
Infelizmente, eu entendi a manobra erradamente. Com o receio de que a terceira faixa não fosse suficientemente longa para permitir a ultrapassagem, eu resolví bloquear a mini-van, mantendo-me na faixa de ultrapassagem. Eu pensei que o motorista iria reconhecer que eu estava fechando a porta de passagem e aguardaria detrás de nós.
ERRADO! Êle estava determinado a nos ultrapassar e acelerou ainda mais. Ficamos lado a lado até ele chegar próximo à última motocicleta do grupo. Neste momento, ele deu uma “fechada” para a esquerda, jogando a mini-van na minha frente.
Eu, instintivamente, freei bruscamente e minha motocicleta ocomeçou a rabear violentamente, enquanto o outro veículo passava pelo grupo.
Felizmente conseguí recuperar o controle da motocicleta, sem sofrer nenhum arranhão, além do susto.
Mais tarde, discutindo o episódio com o Road Captain líder e o nosso Oficial de Segurança, ambos disseram que eu havia cometido um erro de julgamento e de ação”.
Achei válido postar este relato, para benefício dos Road Captains que acompanham meu blog e podem aprender com os erros dos outros. Para aqueles que ainda não são Road Captains, espero que esta estória ajude a compreender o quanto de estratégia e trabalho em equipe estão envolvidos em ter um grupo de motociclistas deslocando-se de um ponto a outro, com segurança.
Ser um Road Captain é muito mais que ter um “patch” costurado na jaqueta ou uma placa diferente colocada na sua motocicleta.
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Estamos na mesma média de uso das nossas HDs (12.000 km) e como participo muito dos passeios do HOG RJ dificilmente assumo a posição de Road Captain, e quando isso acontece se deve ao fato de ser um dos que conhece melhor o trajeto a ser feito. Como Cerra-fila atuei muito pouco, mas já tive o prazer de ter o apoio de colegas com grande experiência na função.
ResponderExcluirTreinamento para Road Captain sempre foi um interesse meu, mas até hoje o Grupo Izzo não disponibilizou o módulo III do Riders Program no Rio.
Portanto, aprendo na prática, e na maior parte das vezes é uma prática "muda" pois a comunicação entre motos quase não acontece por falta de equipamento adequado.
E nessas oportunidades o que mais me chama a atenção é o entrosamento entre Road Captain e Cerra-fila. Impressionante como um passeio corre bem se esse entrosamento existe, praticamente um lê a mente do outro e o Cerra-fila parte para fechar a faixa praticamente no instante seguinte ao surgimento da necessidade e o Captain Road diminui o ritmo do trem no momento que percebe que não haverá tempo suficiente para que o Cerra-fila possa bloquear a passagem.
Como diz o Báccaro, instrutor do Riders Program, o que importa para o motociclista é fazer quilometros com sua moto e,fazendo uma analogia, o que importa para a dupla de Road Captains são os quilometros que fazem juntos.