Uma lei da economia é constantemente desafiada no Brasil. Trata-se da "Lei da Oferta e da Procura", que os miraculosos "planos econômicos" do período entre 1986 e 1994 - que devastaram nossa economia - tentaram revogar.
No Brasil do "nunca antes", insistimos na busca dessa mesma utopia, como se a demanda por uma mercadoria ou serviço pudesse ser eliminada por decreto ou por cláusula contratual.
O mais recente exemplo é a onda de roubos de motocicletas Harley-Davidson, notadas já a partir do primeiro evento da Harley-Davidson do Brasil, o Rio Harley Days de Novembro de 2011. Naquele evento, segundo consta, três motocicletas foram roubadas no estacionamento vigiado e controlado.
Durante os idos do Grupo Izzo, as revendas H-D não tinham peças nem acessórios. Isto era um fato e todo Harleyro convivia com este problema, saciando sua sede nas dezenas de lojas e pequenos comércios e oficinas do país, que disponibilizavam a mercadoria que insistia em não marcar ponto na concessionária oficial e exclusiva. Complementavam com compras nos EUA, através da Internet ou em viagens de turismo ou trabalho.
Roubos de motocicletas Harley eram raros, quase inexistentes.
De repente, o Grupo Izzo se esfumaçou em sua própria incompetência e a comunidade Harleyra comemorou, com entusiasmo, a chegada oficial da Harley-Davidson no país do carnaval. E a festa momesca começou.
Como num enredo de Escola de Samba, a HD do B anunciou grandes planos para o Brasil, com a promessa de novas revendas - diziam que chegariam a 50 em 5 anos - um Centro de Distribuição de primeiro mundo e a realidade tão sonhada num futuro bem próximo. Como no carnaval, a festa acabou na terça-feira.
Temos uma dúzia de revendas, todas operando com muita dificuldade, um CD que teima em não decolar e uma cláusula contratual que proíbe os concessionários dos Estados Unidos de nos vender. Soma-se à isto a proibição de trazer peças na bagagem e o resultado? Uma sequência de roubos de motocicletas, para abastecer o mercado negro de peças.
Como numa narrativa Kafkaniana (1), continuamos a nos enveredar pelos caminhos tortuosos do terceiromundismo, transformando-nos num inseto monstruoso, eternamente deitado em berço esplêndido.
Um país que não tem infraestrutura para um fim-de-semana prolongado, se atreve a sediar uma Copa do Mundo e uma Olimpíada. Um país com um dos maiores índices de corrupção mundial, que gera um dos piores sistemas de saúde, segurança e educação, faz um estardalhaço nas redes sociais contra uma enfermeira que maltratou um animal.
Este mesmo país tem a primeira linha de montagem da Harley-Davidson fora dos Estados Unidos, mas é incapaz de ter bateria original em suas concessionárias.
E os Harleyros ficam indignados quando começam a roubar as motocicletas, para gerar as peças que vão manter as Harley rodando. Seria cômico, se não fosse trágico.
E, assim, la nave va.
(1) Franz Kafka foi o autor de A Metamorfose, publicado em 1915, que narra o caso de um homem que acorda transformado em um gigantesco inseto.
Rapaz..é isso!!
ResponderExcluirPerfeito, infelizmente é nossa triste realidade.
ResponderExcluirCaro Roque.
ResponderExcluirInfelizmente os incompetentes ou sei lá o que são funcionários da HD não conseguem colocar peças no Brasil,ora alegam que a burocracia,ora que contrataram um CD incompetente,ora que agora vai pois contrataram outro CD ,mas em minha opnião são uns verdadeiros incompetentes mesmo,,pois o negócio de qualquer fabricante é vender,e se pedirem peças com certeza venderão.Quem não quer pneu,bateria,filtros de oleo e ar,enfim peças no mínimo básicas para nossas motos.Foi feito um contato com uma revenda e olhem abaixo o dialogo feito por um amigo com a revenda:
bom dia, em que posso ajud
- Bom dia! peças por favor
– só um momento
– bom dia!
– por gentileza, bateria p/ Sportster 2005?
– um momento, NÃO TEMOS!
– cabo freio dianteiro sportster 2005?
– um momento, NÃO TEMOS!
– alguma previsão de recebimento?
– NÃO , NENHUMA PREVISÃO, caso o Sr. tenha interesse podemos fazer um pedido...
– Não obrigado, passar bem!
Essa é a realidade,infelizmente.
Preciso e bem escrito, o que é uma raridade atualmente. Quero enfatizar o amadorismo de toda estrutura HD no Brasil, o que anaboliza não apenas o roubo de motos, mas também, e primeiro que tudo, o escancarado muambismo a que todos somos obrigados a recorrer.
ResponderExcluirMe parece que o governo federal dificulta as importações, não? Esses dias comprei um produto via internet e quando chegou no país ficou 2 semanas parado em SP, chegou até mim, sobretaxado. Enviei uma solicitação de reexame de taxa de importação, o que demorou mais 2 semanas. Se o produto custa $90,00 eu pago R$170,00 de imposto... É brincadeira...
ResponderExcluirEu não entendo porque está demorando tanto para as autorizadas terem peças básicas para as HD...
Vera, a HD do Brasil tem um sério problema logístico. Na minha vida profissional prestei serviços logísticos para grandes montadoras, incluindo as 5 maiores do mundo. É uma atividade complexa, que necessita uma organização forte e ágil. A HD do B está atuando como amadores. Entraram na luta sem tropa, sem armamento, sem treinamento. E o consumidor paga a conta. Típico!
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