sexta-feira, 30 de abril de 2010

Só Multar Não Garante Segurança

Opinião de especialista: "O Estado de São Paulo investe para ter uma malha de radares que, inclusive, identifique as placas de veículos, contribuindo para localizar carros roubados, placas frias, inadimplentes de impostos etc. De um lado, o poder público estadual diz que o investimento em radares reduz os acidentes fatais. De outro, os contribuintes acusam o Estado de montar uma indústria de multas. No centro de tudo, a sociedade clama por maior segurança nas suas ruas e rodovias, fato que se dá a partir da melhoria de tudo o que define a movimentação de veículos, reações de motoristas e pedestres. E, nesta hora, muito além da fiscalização sobre os motoristas, estão a formação dos condutores e a melhoria de sua cultura e civilidade ao conduzir veículos. A questão é: o radar melhora a segurança? Ninguém provou isso. As autoridades se apegam ao apelo da redução de acidentes, que eles (governantes) atribuem ao equipamento de medição de velocidade. O cidadão sente no bolso quando é flagrado por infrações de trânsito. Mas, logo depois do radar, o motorista acelera mais ainda, e a mente do condutor está pronta para causar novos acidentes. O radar, só ele, não é suficiente para a redução de acidentes. O investimento na educação de motoristas, sinalização, controle de manutenção de veículos e formação de uma cultura de cortesia e civilidade no trânsito podem ser muito mais eficientes para a melhoria da qualidade da vida de todos os brasileiros. Acontece que isso exige competência das autoridades e capacidade de motivar motoristas a serem civilizados, mas o poder de polícia do Estado não pode ser ausente. Se o radar chegou, gritemos para que chegue mais investimentos em educação para o trânsito, motivação para a segurança, cidadania e civilidade. Que as vias estejam cada vez mais seguras, e a presença do poder público se aproxime do carinho de um pai ou mãe, para proteger a vida de motoristas, passageiros e pedestres." Por José Bernardes Felex, engenheiro de transportes, professor titular aposentado da USP São Carlos e consultor - publicado na Folha de São Paulo. São Paulo tem as melhores rodovias do país, construídas e mantidas a nível de primeiro mundo. O resto do Brasil, bem, é o resto. O Estado, que está cada vez mais se aprimorando na arte de multar, continua inadiplente na sua obrigação de construir e manter estradas em boas condições de uso. E isto é verdade em todos os níveis. As BRs são construídas com evidentes erros em curvas mal traçadas, com inclinação errada ou sem a necessária inclinação, além de desníveis inaceitáveis entre a pista e as pontes e viadutos. E isto só para falar em projeto e execução, deixando de lado a péssima conservação das rodovias. Os radares são eficientes, sem dúvida, mas as balanças continuam desativadas na maioria das rodovias federais. Por causa do excesso de peso, a faixa de rolamento da direita é um perigo constante. Demoras criminosas nas duplicações de rodovias, necessárias pelo aumento do fluxo de tráfego, causa milhares de mortes todos os anos. Exemplo típico é a BR-101 Sul, entre Florianópolis e o Rio Grande de Sul, em obras de duplicação há mais de 10 anos e sem previsão realista de conclusão. O DNIT insiste em dizer que as obras estarão prontas no final do ano. Só falta definir que ano será . . . No âmbito estadual a situação não é diferente. Não sou especialista, mas tenho certeza que a maioria das estradas estaduais (com excessão de SP), não passariam no teste de qualquer país sério. Nas cidades, o caos é semelhante. As prefeituras fazem mudanças no sentido das ruas, mas não se preocupam com a marcação no asfalto ou na sinalização vertical. Pistas recapadas ficam semanas ou meses sem a sinalização horizontal. A posição dos semáforos são mudadas, mas a marcação na pista continua a anterior. E o motorista sem saber onde parar corretamente. Multar os condutores de veículos é fácil. Há empresas privadas que instalam os radares, sem custo para as prefeituras, só para ganhar um percentual nas multas. E aí, vira uma máquina adicional de tomar dinheiro do cidadão. Se não for verdade, gostaria de saber a lógica em colocar, por exemplo, um radar de 50 km/h numa rodovia cuja velocidade máxima é de 60 km/h. E não estou falando de lombadas eletrônicas, para forçar a redução da velocidade e permitir um cruzamento seguro para os pedestres. Conheço avenidas, em cidades catarinenses, onde a proliferação de radares virou piada. Em Navegantes, SC, a avenida ao longo da praia chama-se Rodovia Ivo Silveira. Tem uns 10 quilômetros de extensão. A velocidade máxima é de 60 km/hora. No entanto tem uns 8 radares, a maioria deles com limite de 50 km/hora. Afinal, qual é a velocidade máxima? E aquelas placas, no meio do nada, que reduz a velocidade de uma BR, de 110 km/h para 80 km/h, sem qualquer aviso prévio, tipo "Velocidade Reduzida Adiante"? E você se pergunta: reduzir a velocidade por que? Não há nada na estrada, nenhum cruzamento, nenhuma urbanização, nada. Só a placa, obrigando a redução da velocidade. E o pior: sem qualquer placa indicando quando o motorista pode voltar para a velocidade normal da rodovia. Você aumenta a velocidade por seu próprio critério. Mas, como sempre, o cidadão no nosso Brasil só paga a conta. Nós temos todas as responsabilidades do mundo e o Estado é extremamente eficaz em nos punir, se deixarmos de cumprí-las. Mas o Estado, sim o Estado, esse está acima de tudo, inclusive da Lei. Tem a obrigação, não cumpre e quem achar ruim que reclame ao bispo.

2 comentários:

  1. Wilson, excelente post. Só um comentário, quando se vê uma placa de redução de velocidade, o motorista tem que manter a velocidade da placa por 1 km. Depois pode voltar à velocidade da via...

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  2. Também concordo que só multar não adianta.

    Porém, temos os motoristas mais mal-educados e preparados que já vi.

    Se desligarem os radares por um mês, nosso país, vira uma pista de corrida.

    E não estamos falando de motoristas sem instrução, é só ver em dias de churrasco como todos bebem como se fosse a coisa mais normal do mundo e saem pilotando suas motos.

    Tudo bem que não temos retorno do Estado, mas também não acho que damos menor parcela de contribuição para melhorarmos o trânsito.

    Guilherme

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