segunda-feira, 19 de novembro de 2018

Um F4U Corsair fazendo sorvete?

Um F4U Corsair do Esquadrão VMF-122. O piloto é o Ten. Leroy E. Anheuser
No final de setembro de 1944, os membros do Esquadrão VMF-122  do Corpo de Fuzileiros Navais dos EUA estavam estacionados na Ilha Peleliu, no Oceano Pacífico e bastante entediados.

Seus caças F4U Corsair estavam a apenas 10 minutos de voo de uma ilha dominada pelos japoneses, mas o inimigo, sem suprimentos, não se apresentava para o combate. O comandante do esquadrão, Major J. Hunter Reinburg contou em seu livro autobiográfico (Combat Aerial Escapades: A Pilot’s Logbook) que os caças nipônicos fugiam do combate individual e os fuzileiros só cumpriam missões de ataque ao solo.

Ilha Peleliu, no Oceano Pacífico.
O Major Reinburg, determinado a levantar a moral do esquadrão naquela ilha úmida sem comida fresca e sem refrigeração, teve uma idéia. A equipe de manutenção cortou a ponta de um tanque auxiliar de combustível e o montou numa painel de acesso lateral. Neste painel ficava uma caixa hermética que normalmente estocava munição das metralhadoras .50. Nesta caixa, o sargento do rancho colocou uma mistura de leite enlatado e pó de cacau. A idéia de Reinburg era subir até um altitude considerável, onde a temperatura ficava abaixo de zero e retornar com um presente para seus subordinados: dezoito litros de sorvete de chocolate!

Depois de decolar numa missão que ele registrou como sendo de “teste do sistema de oxigênio”, o Major Reinburg circulou a 33.000 pés sobre a ilha de Palau – ocupada pelos japoneses – bem acima do alcance da artilharia antiaérea (28.000 pés), que gastava sua munição tentando abatê-lo. Depois de 35 minutos de voo, ele retornou para sua base com uma carga inútil. A mistura estava fria mas não tinha congelado, uma falha que a manutenção associou à proximidade do painel ao potente motor do Corsair.

O brasão do VMF-122 na sua versão moderna. O esquadrão opera com os
modernos Lockheed Martin F-35 Lightning II.
Para a segunda tentativa, registrada como um “voo de teste do super-compressor”, a equipe de manutenção aparafusou as caixas de munição nos painéis de inspeção das asas, bem longe do motor, aumentando a quantidade para 36 litros, o suficiente para os 100 fuzileiros do Esquadrão.

Desta vez a mistura congelou! Mas o Major Reinburg não estava satisfeito: a mistura não tinha sido “batida” para tornar-se bem cremosa. A solução foi instalar umas pequenas hélices nas caixas, ligadas por parafusos que acionavam pequenas pás no interior das caixas de munição. A ação do vento fazia as pequenas hélices transformarem-se em liquidificadores aéreos e bater a mistura para o ponto certo!
O resultado foi um sorvete de chocolate cremoso e suave.

Um piloto do Esquadrão VMF-122 saboreando um sorvete.
Os voos da Operação Congelar se tornaram rotina, revezando pilotos e aviões. Um dia, entretanto, o Oficial de Operações do Grupo, Coronel Caleb Bailey mandou um duro recado para o Major Reinburg, dizendo que a história de “voos de teste” não enganavam ninguém. “Eu tenho meus espiões. Digam ao Reinburg que estou indo até aí, amanhã, para pegar minha parte!!!”

Os Fuzileiros do Esquadrão VMF-122 não foram os únicos a fazer sorvete no ar, durante a guerra.

Tripulantes dos B-17 na Europa carregavam mistura de sorvete regularmente em seus voos de bombardeiro sobre alvos no continente. E, pelo menos uma vez, usaram um P-47 Thunderbolt para criar uma delícia: sorvete de creme com frutas enlatadas!

A título de curiosidade histórica, um dos comandantes do Esquadrão VMF-122 foi o famoso Coronel Gregory "Pappy" Boyington.

6 comentários:

  1. Criatividade e história, que maravilha Roque.

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  2. curiosíssima história !
    Falar em curiosidade, creio ter sido o Cel "Pappy" que, comandando um esquadrão de P40 na China, desenvolveu técnicas de combate contra o temível Zero japonês, estou certo ?

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    1. Sim, o Coronel Gregory "Pappy" Boyington, USMC, lutou na China como parte do American Volunteer Group (AVG), os famosos "Flying Tigers". Na sua autobiografia (que tenho autografada) ele conta que destruiu 6 Zeros nos pouco mais de sete meses que ficou lá. Na época ele era 1o.Tenente nos Fuzileiros Navais e atuou como Líder de Vôo no AVG.Ele abateu 26 aviões inimigos durante a guerra e recebeu a Medalha de Honra do Congresso, por decreto do Presidente Franklin D. Roosevelt.

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    2. Admirável ter uma autobiografia autografada pelo Cel. Boyington.
      O cara era fera. Sem ele os Norte-Americanos teriam tido muito mais dificuldades.
      Abraço.

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  3. Bom dia

    Eu vi ontem o filme Irmãos de honra ( Devotion ) , e queria tirar uma dúvida !!! os pilotos do Corsair F4u, Não usavam paraquedas ?
    na cena da queda de Jesse browm, ele não pulou do avião e veio a ficar preso nas ferragens. Ele poderia ter sido salvou com um Paraquedas.
    os pilotos da segunda guerra usavam paraquedas!
    pode me explicar?
    meu email: csi.rocha@hotmail.com

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    1. Boa noite. Com certeza os pilotos usavam paraquedas. Às vezes eles preferiam tentar um pouso de emergência, mais próximo da área sobre o controle aliado, para evitar ser feito prisioneiro, caso saltasse de paraquedas na área controlado pelo inimigo. Foi o caso, neste evento. Uma tática muito usada também na guerra do Vietam.

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