A paralisia
do governo pode ter sérias consequências para o setor de infraestrutura, vital
para o aumento da competitividade e para o crescimento da economia. Lançada com
estardalhaço em junho de 2015 pela presidente Dilma Rousseff - na tentativa de
demonstrar alguma reação à crise política que tolhia, e tolhe, a sua já
reduzida capacidade administrativa -, a segunda parte do Programa de
Investimentos em Logística (PIL) não saiu do papel. Com previsão de
investimentos de R$ 198,4 bilhões até 2018, o programa agendara para 2015
diversos leilões de concessões de rodovias, ferrovias, portos e aeroportos. De
todos, só foi realizado um, no setor de portos, com resultados contraditórios -
determinadas áreas foram muito disputadas, mas não houve ofertas para outras.
Os quatro
leilões no setor rodoviário previstos para 2015, que junto com a renovação da
concessão da Ponte Rio-Niterói deveriam resultar em investimentos de R$ 19,6
bilhões, foram adiados para 2016. Os dois projetos mais adiantados ainda
dependem de decisão do Tribunal de Contas da União (TCU). Outros estão na fase
de audiência pública ou de conclusão de estudos. As dificuldades
administrativas e técnicas que o governo não conseguiu superar para a
realização desses leilões, cujos projetos vêm sendo preparados desde 2014,
sugerem que muito dificilmente serão concedidos os outros 11 lotes previstos
para 2016.
No que se
refere a ferrovias, o ano de 2015 foi completamente perdido. Este é o setor
para o qual a nova versão do PIL prevê o maior volume de investimentos, de R$
86,4 bilhões nos próximos três anos. Tendo abandonado o modelo de concessão
anunciado em 2012 - que previa que toda a capacidade de transporte de carga
seria comprada pela estatal Valec, que venderia o direito de passagem aos
transportadores interessados, mas foi rejeitado pelos investidores -, o governo
ainda não disse com clareza como o substituirá e quais garantias oferecerá aos
concessionários.
Também no
setor de aeroportos as quatro concessões previstas para 2015 - dos aeroportos
de Fortaleza, Salvador, Florianópolis e Porto Alegre - foram adiadas para 2016,
agora sem a participação da Infraero no capital do grupo vencedor da disputa.
Nos leilões anteriores, a estatal ficou com 49% do capital de cada
concessionária, com igual responsabilidade nos investimentos necessários para
ampliar e melhorar os serviços dos aeroportos privatizados, o que lhe causou
sérios problemas financeiros.
O único
leilão realizado em 2015 foi no setor de portos. O governo comemorou a disputa
por três terminais no Porto de Santos, mas o evento foi marcado também pelo
fracasso do leilão do terminal de Vila do Conde, no Pará, para o qual não houve
oferta.
A
desorganização do governo, enfraquecido por denúncias de prática de
ilegalidades que podem levar ao impeachment da presidente Dilma Rousseff,
tornou mais agudo o problema da má qualidade do planejamento nas administrações
petistas. Consequência óbvia da incompetência do governo, o atraso nas
concessões acrescentou mais uma dificuldade às muitas que a gestão petista
precisa superar para levar adiante o programa. Com a recessão, a inflação e o
rebaixamento da nota de crédito do País, a disponibilidade de recursos encolheu
e os investimentos ficaram mais caros. Se em condições bem mais favoráveis da
economia a política populista de compressão das tarifas dos serviços concedidos
afugentava os investidores, com a crise será impossível mantê-la. As tarifas
serão mais altas, pois, se elas não remunerarem adequadamente os investimentos,
que ficaram mais caros, não haverá interessados nas novas concessões.
O País
pagará pela incapacidade do governo do PT de executar a tempo programas
essenciais na área de logística e infraestrutura. Nem por isso, porém, esses
programas podem continuar sendo protelados por um governo imerso na
incompetência e na fragilidade política e administrativa. Se executados com
regras adequadas, haverá interessados em participar deles.
O Estado de São Paulo, 2/1/2016
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