domingo, 27 de abril de 2014

Meninos, Eu Ví!


Acabo de regressar de uma visita de 15 dias ao meu filho e sua família, em Niterói, depois de quase 4 meses sem ir à região.

Cada vez que retorno da região metropolitana do Rio de Janeiro, venho mais apavorado com o que vejo.

As notícias que lemos, diáriamente, sobre o que está acontecendo lá, são terríveis. Por sí só já seriam suficientes para que eu mantivesse uma distância considerável de lá.
Mas os laços de sangue são mais fortes e sinto a necessidade de visitar a família (além do meu filho e netos, moram em Niterói minha irmã e uma sobrinha).

No curto espaço de duas semanas, passamos por algumas experiências bem desagradáveis que, por felicidade, não tiveram consequências maiores além do susto.

Primeiro Episódio

A primeira foi logo no sábado, 12/4, antes da semana santa. Eu fui ao Rio, no bairro de Botafogo, visitar um casal de amigos e conhecer sua linda filha, recém nascida.
Quando nos preparávamos para sair, por volta ds 16:00 horas, o meu amigo sugeriu usar o Túnel Rebouças como acesso mais rápido à Ponte Rio-Niterói. Já havia alguns anos que eu não transitava por este túnel, mas imaginei que saberia como encontrar o acesso à ponte, por lá.

Lêdo engano: na saída do túnel, no elevado da Paulo de Frontin, não existe nenhuma sinalização indicando o acesso a Niterói, Região dos Lagos ou à Ponte. Nada. Fui seguindo pelo elevado, que se transformou em outro e acabei na Linha Vermelha, em direção ao Aeroporto do Galeão.

Imaginei que poderia retornar pelo mesmo caminho mas, outra vez, a falta de sinalização acabou por levar-me para uma região de comunidades (expressão politicamente correta para referir-se às 1.071 favelas da cidade), próxima ao Instituto Oswaldo Cruz. Realmente de amendrontar. Parecia que estava em outro país. Motocicletas passavam por mim, com pessoas sem capacete, pilotando de sandálias, carros muito velhos, sem faróis, sem parachoques, uma loucura.

Fiquei bastante preocupado e não via saída, até que notei duas viaturas do Corpo de Fuzileiros Navais, pelo retrovisor. As viaturas me pareceram ser o AM2 (Agrale Marruá, de 1/2 tonelada). Cada uma delas tinham 5 militares a bordo, três deles em pé na parte traseira do veículo, com fuzis M16 A2, apontando para várias direções. Dei passagem para as viaturas e fui atrás delas, que para minha sorte estavam indo em direção à Av. Brasil, por onde acessei a Ponte e segui para Niterói. A experiência foi bastante desagradável.

Segundo Episódio

Minha nora levou meu neto mais velho para a escola e passou no mercado próximo, para comprar algumas coisas que precisava para casa. Estava na calçada quando dois indivíduos em uma motocicleta, passaram por ela, perseguidos por uma viatura da Polícia Militar. O carona da motocicleta atirava contra  viatura da PM, que não revidou os tiros. Foram vários tiros. Por sorte, nada aconteceu à ela ou às pessoas que estavam próximo.

Terceiro Episódio

Na quarta-feira, 23/4, era feriado em Niterói (e no Rio) por ser dia de São Jorge. Eu e a Rô haviamos ido a Icaraí tomar um café no Starbucks e despedirmos da minha sobrinha e de seu filho, que moram perto.
Durante o tempo em que estávamos lá soubemos do tiroteio entre duas gangues rivais, no centro de Niterói, que provocou inclusive o fechamento do maior shopping da cidade.

Uma hora mais tarde, regressávamos para a casa do meu filho. Ao passarmos pela Av. Presidente Roosevelt, na praia de São Francisco, fomos ultrapassados por duas viaturas do CORE, um grupo de elite da Polícia Civil. Logo depois que nos ultrapassaram, a viatura que estava na frente acendeu as luzes no teto do veículo e deram uma "fechada" em um automóvel, obrigando-o a parar. Imediatamente vários policiais saíram das viaturas, empunhando fuzis, enquanto mais duas viaturas também se aproximavam.

Por sorte, eu estava na esquina de uma rua transversal e pude abandonar o local imediatamente, antes que o tiroteio começasse.

Seguimos para a casa do meu filho, onde chegamos inteiros, mas apreensivos com o que tínhamos assistido.

Eu morei em Niterói durante 21 anos (1974-1995). A Cidade Sorriso, como era chamada, era um lugar magnífico para se morar. Boas escolas, bom comércio, bons hospitais. Um lugar para viver e criar os seus filhos com tranquilidade. Não é mais.

Niterói, hoje, é o lugar para onde os bandidos que dominam as favelas do Rio fogem, quando os militares ocupam suas áreas de atuação. Daí, os bandidos - muitos - que já habitam os morros de Niterói, os enfrentam, na luta pelo território. As Polícias Militar e Civil, sempre mal equipadas, mal remuneradas, mal treinadas, sem motivação e - infelizmente - repleta de de membros corruptos, não tem como enfrentá-los.

É uma guerra civil não reconhecida. Mas é uma guerra civil, uma guerra de guerrilha. Os bandidos atuam como guerrilheiros, sem uniforme ou identificação, muitas vezes acobertados pelas ONGs, pela OAB, pela mídia que sempre está contra a polícia, pelas pessoas que preferem acreditar que a polícia é ruim e criminosa e os bandidos inocentes cidadãos.

Definitivamente a única opção que resta, pelo menos para mim, é ir cada vez menos a Niterói. E, quando for, ficar dentro da casa do meu filho, curtindo sua companhia e a companhia dos meus netos.

Não tenho nenhuma vontade de sair para passear pelos lugares tão belos que constituem a geografia da região. Não por covardia. Mas como não posso nem carregar uma arma de pequeno calibre para minha defesa pessoal - graças ao governo que nos desarmou - não tenho intenção de virar mais um número na estatística tenebrosa dos mortos por balas perdidas ou assassinados pela bandidagem.

Triste realidade do país que foi, um dia, do futuro.

2 comentários:

  1. Infelizmente essa é a realidade dura e crua, não só de Niteroi, como do nosso RIo de Janeiro inteiro. Estamos vivendo, literalmente, em uma selva de pedra, sem termos para onde correr ou se esconder. Ha dois meses atras sofri na pele essa dura realidade. Fui assaltada, levaram o carro e queriam me levar junto, desespero total. O que nos resta é rezar e pedir a nosso Pai maior q nos proteja, nos abençoe e guarde nossos caminhos.

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  2. Wilson, moro em São Paulo, e por aqui a coisa não está muito diferente de Niterói. Acho que o desgoverno é um caminho sem volta. E olha que o governo aqui em SP já dura mais de 20 anos, e quando tem que assumir responsabilidades culpa o Governo Federal (que também não presta). Daí vem a imprensa, os direitos humanos, e o cidadão que se "exploda".

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