O Capitão de Longo Curso Jens Boysen em Hamburgo, em frente ao "Emma Maersk", um dos maiores navios do mundo. |
O Comandante Jens Boysen desembarcou de um dos maiores navios porta-contêineres do mundo nesta quinta-feira, após 167 dias no mar. Durante este tempo ele atuou não apenas como capitão, mas também como médico, dentista, conselheiro psicológico e diretor de entretenimento para sua estressada tripulação.
Quase 200.000 marinheiros como Boysen estão presos a bordo
de navios mercantes em todo o mundo, alguns por mais de um ano, porque as restrições de viagens devido ao coronavírus tornam quase impossível o rodízio das tripulações, de acordo
com um relatório da Organização Marítima Internacional (IMO), agência da ONU que
controla as atividades marítimas no mundo.
As tripulações, que vêm de todo o mundo para guarnecer seus
navios, sofrem o estresse mental de não saber quando poderão voltar para casa ao fim de sua missão e a situação piorou com a falta de acesso a tratamento médico.
O Comandante Boysen, capitão do “Emma Maersk”, disse que
dois tripulantes do navio foram acometidos com dor de dente, mas não tiveram
permissão para deixar o navio.
"Recebi aconselhamento médico virtual e depois extrai
os dentes", disse Boysen, parado no cais em Hamburgo depois de se despedir
de sua tripulação. "Parecia quase uma situação de guerra",
acrescentou.
A IMO chamou a situação de "crise humanitária" e
instituições do setor marítimo alertaram para um aumento no número de suicídios
por marinheiros.
Detalhes do "Emma Maersk"
- Comprimento: 397 m
- Boca: 56 m
- Calado: 16 m
- Altura dos porões: 30 m, equivalente a um edifício de 10 andares
- Capacidade: 15.000 containers ou 157.000 toneladas
- Propulsão: 1 motor Wartsila 14 cilindros, 109.000 HP + 5 geradores Caterpillar 8M32 gerando 40.000 HP
- Velocidade máxima: 25,5 nós (47,2 km/h)
- Tripulação: até 30 oficiais e marinheiros; normalmente opera com 15 tripulantes
Tão perto, porém tão longe
Boysen, que é cidadão alemão, finalmente deixou o navio em
Hamburgo na quinta-feira, junto com dois outros tripulantes.
Ele já poderia ter
desembarcado em abril, quando o seu navio esteve atracado em Hamburgo.
"Eu senti que era meu dever como capitão não deixar o
navio primeiro, mesmo que eu realmente quisesse ver minha família", disse
Boysen, que vive com sua esposa e três filhos perto de Flensburg, no norte da
Alemanha.
"Esse foi o meu ponto baixo em abril, estar em Hamburgo
e permanecer no navio, embora eu pudesse ver a cidade tão perto",
acrescentou.
Para manter o ânimo da equipe, ele organizou torneios de
karaokê, bingo e outras atividades a bordo.
Cerca de 90% do comércio mundial é transportado por mar
Boysen
disse que as autoridades de imigração e a comunidade marítima deveriam concordar
com isenções nas medidas de bloqueio para os marinheiros, a fim de garantir que
as tripulações possam ser trocadas e as cadeias logísticas preservadas.
“O público realmente não entende o que fazemos no transporte
de cargas. Fazemos parte de uma cadeia logística que não é visível para a
maioria das pessoas, mas fornece a maioria das coisas de que elas precisam.”
Agora o capitão, que acumulou uma grande quantidade de
férias, não tem intenção de tirar apenas uma folga; ele ficará de férias até o
final do ano!
"Eu realmente preciso de uma pausa com minha
família."
(Reportagem de Michael Hogan e Jacob Gronholt-Pedersen -
Reuters)
Essa situação é bastante grave mesmo. Os marítimos são profissionais essenciais em qualquer situação, e no Brasil, está classe ainda é desconhecida pela maior parte da população. Não só a IMO, mas demais autoridades marítimas e sindicatos deveriam tratar a regularidade das trocas de turma como prioridade, pois muitos desses aquaviários já vivem uma rotina de embarque extensiva. Sou Oficial de Marinha Mercante, e em 2007 quando ainda era praticante, tive o prazer de embarcar com o agora Capitão Jens no navio Laust Maersk, à época ele era Dual Officer.
ResponderExcluir