No país das mentiras em que o Brasil se transformou, a mais intensa preocupação dos governos (federal, estadual e municipal) é aumentar a arrecadação de impostos. Não para prover mais segurança, melhor educação e saúde para os cidadãos e, sim, para aumentar os recursos disponíveis e permitir mais corrupção. Claro, há exceções! Evidente que há! Político honesto é igual duende; eu nunca ví mas tem muita gente que acredita que existe.
Um dos expedientes mais utilizados pelas prefeituras municipais, são os famigerados radares de velocidade, espalhados por quase toda as cidades.
Não há nada errado em controlar a velocidade máxima nas vias urbanas e o equipamento eletrônico é adequado para isto: trabalha 24 horas por dia, não tira férias e não cobra propina.
O problema reside na maneira como é instalado e operado. Na maioria das vezes, os radares são instalados por empresar particulares que cobram das prefeituras um percentual do total de multas arrecadadas, a título de instalação, operação e manutenção. Está claro, portanto, que tem que haver um volume grande de multas, para justificar o negócio.
Entenderam? O objetivo não é regular o tráfego e impedir o excesso de velocidade. O objetivo é arrecadar dinheiro, em forma de multas. Se todos os condutores cumprirem fielmente os limites de velocidade, não haveria multas, certo? Qual é a graça nisso, cara-pálida, para as empresas e prefeituras?
Então, como fazem para assegurar que as multas serão impostas? Colocam os limites de velocidade abaixo da capacidade da via. Muito simples.
Vamos entender o processo. Vocês já ouviram falar no percentual de 85%, em engenharia de trânsito?
Eu explico. Estudos realizados em países sérios (o que não é o nosso caso, como já foi provado à exaustão, desde os tempos de De Gaulle) indicam que 85% dos condutores trafegam na “velocidade segura” ou até abaixo dela. Em outras palavras, a maioria dos condutores ajustarão a velocidade de seus veículos para a velocidade que é razoável e segura naquela via. Isto é chamado de “velocidade de percentual 85”. Os limites de velocidade nas vias, ensina a sã engenharia de tráfego, deve ser determinada num valor o mais próximo possível do “percentual 85”, respeitados outros fatores (visibilidade, pavimentação, etc.).
Exceder a velocidade máxima, em sí, não é o único problema. Estudos indicam que a variação de velocidade criada por limites muito baixos produz mais risco e acidentes.
As rodovias de primeira classe (quase todas situadas no Estado de S.Paulo, no nosso caso), permitiriam que você trafegasse em velocidade alta com um potencial muito baixo de risco, pois todos estão trafegando na mesma direção e, também, em velocidade relativamente alta. Qual o risco de acidente, neste tipo de rodovia? São os veículos trafegando em velocidade baixa. A grande maioria das rodovias dos países que se preocupam com seus cidadãos, tem limite para velocidade baixa ( ao redor de 65 km/h), também sujeita a multa.
O rítmo de velocidade (pace speed, em inglês) é outro fator a ser considerado. O número chave é 15 km/h e indica a variação de velocidade mais usada pelos condutores em uma via. Sua observação permite determinar se as velocidades utilizadas são uniformes. Quanto menor for o número de condutores variando sua velocidade em até 15 km/h, menor será a possibilidade de acidentes. Ou seja, quem trafega acelerando e freiando todo o tempo ( e vemos muita gente fazendo assim), contribui para a insegurança na via, da mesma maneira que os condutores que insistem em trafegar em baixa velocidade na pista da esquerda.
Se a velocidade máxima permitida na via for menor que o “rítmo de 15 km/h”, muitos condutores ignorarão os limites e continuarão a trafegar em velocidade maior.
Alguns condutores conduzirão seus veículos em velocidade próxima ao limite estabelecido. Quando este limite é muito baixo, a maioria dos veículos tenderão a trafegar em velocidade superior ao limite, causando problemas e situações de risco (engavetamento, ultrapassagem ilegal e congestionamento). Períodos prolongados nestas condições podem levar à direção agressiva e eventuais “conflitos/brigas de trânsito”.
Conclusão: a velocidade segura para uma via é aquela em que 85% dos veículos trafegam.
Muito bem. O que fazem as prefeituras no país do “nunca antes”? Colocam os limites de velocidade muito abaixo da velocidade segura da via e (o que é ainda muito pior) instalam radares com limites de 10 km/h menos. Isto, por sí só, é uma incongruência espantosa: se a velocidade máxima da via é de 60 km/h, por que o radar tem um limite de 50 km/h? Qual a razão para esta súbita redução na velocidade naqueles poucos metros da via?
Resultado final: vias de tráfego de baixa segurança, arrecadação de multas com a simples intenção da arrecadar (sem o objetivo de educação ou de segurança), cidadãos frustrados. Se considerarmos que os políticos e seus asseclas podem ter as placas de seus carros “apagadas” do sistema (como demonstrado num conhecido e popular programa de televisão), o mundo fica perfeito. Para os políticos, é claro.
Quanto à nós, cidadãos, restam as batatas.