O
brasileiro continua suportando uma das maiores cargas de impostos do mundo e
nem a crise fiscal no mundo rico eliminou essa desvantagem. Com as contas em
mau estado, vários governos aumentaram a tributação nos últimos anos. Mas no
Brasil a situação do contribuinte continuou pior, em mais de um sentido, que na
maior parte das economias desenvolvidas e emergentes.
Para observar esse
contraste, mais uma vez, basta examinar o novo relatório sobre a evolução dos
tributos nos países da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico
(OCDE). Entre 2009 e 2013 a arrecadação média desses países cresceu de 32,7%
para 34,1% do Produto Interno Bruto (PIB) e praticamente retornou ao nível de
2007, antes da crise.
Nesse ano, havia ficado em 34,3%. No Brasil, a cobrança
total de impostos passou de 35,58% do PIB em 2012 para 35,83% em 2013, segundo
estudo da Secretaria do Tesouro e do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
(Ipea). Esse trabalho foi divulgado no primeiro semestre deste ano.
Em 2013,
o brasileiro pagou mais impostos e contribuições que os contribuintes da maior
parte dos 34 países sócios da OCDE, formada principalmente por economias
desenvolvidas. A lista inclui dois latino-americanos, México e Chile, e em
breve provavelmente incluirá também a Colômbia. O novo relatório atualizou para
2013 as cargas tributárias de 30 países. A tributação brasileira no ano passado
foi mais pesada que a de 18 associados, se for considerada apenas essa relação.
Mas pode ser maior.
Três
países com cargas tributárias bem menores que a brasileira em 2012 e ainda sem
presença na relação atualizada poderiam, provavelmente, ser contados. Os
impostos na Austrália (27,3%), no Japão (29,5%) e na Polônia (32,1%)
dificilmente terão crescido a ponto de igualar no ano passado os 35,83% do PIB
estimados para o Brasil. Nesse caso, a lista dos países da OCDE com cargas
tributárias menores que a brasileira no ano passado chegaria a 21.
A
tributação brasileira é também a mais pesada do conjunto dos Brics - Rússia,
Índia, China e África do Sul. A relação de países com impostos mais leves que
os brasileiros ficaria bem longa, se outros emergentes fossem considerados.
A
relação de sócios da OCDE inclui, obviamente, alguns países com cargas
tributárias bem maiores que a do Brasil. Qualquer pessoa pode citar
imediatamente os nórdicos, conhecidos por sua grande arrecadação de impostos:
Noruega (40,8%), Suécia (42,8%), Finlândia (44%) e Dinamarca (48,6%) são
exemplos fáceis. A lista dos campeões da tributação poderia incluir também a
França (45%) e a Itália (42,6%). Mas basta confrontar os serviços públicos
desses países com os do Brasil para deixar de sentir pena dos esforçados
contribuintes nórdicos, franceses e italianos.
A
comparação ficará ainda mais desfavorável se forem confrontados também os
investimentos em infraestrutura e os financiamentos à pesquisa científica e
tecnológica.
Mas a
tributação nem sempre é maior que a brasileira nas grandes economias
capitalistas. Na Alemanha, maior potência econômica da Europa, a arrecadação em
2013 correspondeu a 36,7% do PIB. No Reino Unido, ficou em 32,9%. Nos Estados
Unidos, em 25,4%. Na Coreia, em 24,3%. No Canadá, em 30,6%. No México, em
19,7%.
A
tributação brasileira é triplamente prejudicial à economia do País. É mais
pesada que a da maioria de seus parceiros econômicos, mal empregada pelos
governos em todos os níveis da administração e irracional. Incide nas compras
de máquinas e equipamentos e também nas exportações. Impostos e contribuições
tornam a produção brasileira muito cara e diminui o poder de competição dos
produtores nacionais. Dificulta, portanto, o crescimento econômico e a criação
de empregos de qualidade. Além do mais, distorções, como a guerra fiscal,
afetam o sistema e tornam menos eficiente a destinação de recursos. Para
completar o quadro seria preciso mencionar o aparelhamento do governo e o
desperdício gerado pela corrupção. O peso real da carga vai muito além dos
35,83% do PIB.
Fonte: O ESTADO DE S.PAULO - Editorial
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