O RECORDE DOS IMPOSTOS
A economia brasileira cresceu em torno de 3% no ano passado,
uma performance reconhecida interna e externamente como expressiva, no contexto
de desaceleração da produção mundial. Nessas circunstâncias, a arrecadação de
impostos federais teve um desempenho excepcional e cresceu 10%, descontada a
inflação.
A União obteve uma receita recorde de R$ 993,6 bilhões, num
claro descompasso entre a capacidade produtiva do país e a fúria arrecadatória
do governo. É muito imposto para ter como retribuição serviços de baixa
qualidade e, como revelam os balanços do setor público do ano passado, uma
aplicação de verbas muito aquém do previsto em investimentos de infraestrutura.
O que o contribuinte se indaga, todo ano, é o que, afinal, o
governo faz com tanto dinheiro. Pelo que propagandeia, deveria estar investindo
em melhorias em aeroportos, portos, estradas e em outras obras de
infraestrutura, além das áreas essenciais da saúde e da educação.
Não foi o que ocorreu em 2011, quando, em nome do superávit
nas contas públicas, houve um decréscimo de investimentos. Pelo balanço
oficial, o Programa de Aceleração do Crescimento teria desembolsado R$ 28
bilhões no ano passado, um valor que seria 21% superior ao de 2010.
A cifra é enganosa. Desse total, cerca de R$ 18 bilhões
foram de restos a pagar, ou seja, de dotações do ano anterior, referentes a
obras que em eu sua maioria já estavam em andamento. De dinheiro novo, foram
efetivamente aplicados R$ 9,4 bilhões.
O resumo do balanço é que o governo arrecadou muito e fez
economia com o que poderia gerar mais produção, mais renda e mais emprego. A
conclusão de especialistas em contas públicas é de que há, desde 2009,
estagnação ou retrocesso nos recursos que poderiam garantir modernização e
maior eficiência à infraestrutura brasileira.
O desalento é ampliado porque, ao mesmo tempo, não houve
nenhum esforço no sentido de reduzir gastos com custeio da máquina pública e
com o inchado quadro de pessoal, principalmente dos cargos em comissão.
Gasta-se cada vez mais com o que não representa nenhuma melhoria nos serviços e
tampouco contribui para que empreendimentos privados sejam, direta ou
indiretamente, beneficiados.
O recorde de arrecadação não se traduz, por exemplo, em
melhorias na área da saúde. Dos R$ 553 milhões previstos para a construção de
unidades básicas, foram aplicados apenas 10%. Na implantação de Unidades de
Pronto Atendimento, estavam orçados R$ 232 milhões e foram liberados apenas 9%
deste total.
Outro programa, de implantação de postos de polícia
comunitária, decisivo para o combate à criminalidade nas grandes e médias
cidades, não recebeu um centavo dos R$ 350 milhões da dotação de 2011, segundo
cálculos do economista Roberto Piscitelli, da Universidade de Brasília.
Falta, evidentemente, racionalidade na aplicação das verbas,
o que confirma entre os cidadãos a sensação de que a cada ano todos contribuem
cada vez mais para que o governo aplique, no que realmente interessa, cada vez
menos.
Fonte: Jornal Zero Hora - RS
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