Há algo de mágico em ser proprietário de uma Harley-Davidson, que é quase impossível explicar para uma pessoa que não seja.
Parte da mágica é a camaradagem. Nós não vamos a uma revenda Harley-Davidson para comprar camaradagem, mas na estrada nos damos conta de como ela faz parte dos “equipamentos obrigatórios” da nossa Harley. Não é surpresa que nos tornemos tão apaixonados pela marca. Nós somos afortunados, como seres humanos, de termos esta camaradagem que as outras pessoas, muitas vezes, não entendem.
Fazer amigos durante a infância ou adolescência é muita mais fácil do que fazê-lo depois de adultos.
Na fase escolar (escola/faculdade/academia militar), estamos todos juntos por muitas horas, todos os dias, em atividades comuns, o que facilita o desenvolvimento da amizade/camaradagem. Até mesmo a nossa pouca idade ajuda, já que não temos, naquela fase de vida, nenhum tipo de restrição ao relacionamento, que só vem depois das primeiras decepções que a vida adulta nos reserva.
Há adultos que simplesmente não conseguem fazer novos amigos depois de formados. Eles interagem com colegas de trabalho, sómente. São só colegas, não necessáriamente amigos.
Às vezes fica difícil fazer novos amigos, especialmente em cidades muito grandes, com todo o estress envolvido, a pressa, o imediatismo. É muito mais fácil iniciar uma conversação e desenvolver uma camaradagem com pessoas que tem o mesmo interesse comum.
É o caso dos proprietários de Harley-Davidson. Você encontra com uma pessoa que nunca viu antes, mas se sente à vontade para iniciar uma conversa, pelo simples fatos de que ambos (ou ambas) tem a mesma paixão. Sim, paixão. Por acaso você conhece alguém que tenha uma Harley e não seja apaixonado pela máquina? Eu nunca conheci um. É como se fossemos crianças/adolescentes, outra vez.
Eu morei em várias cidades, estados e até países diferentes, desde minha infância.
Mas nunca tive a oportunidade de me sentir “em casa”, tão rápido, como aconteceu quando cheguei em Santa Catarina, no início de 2006, depois de morar 10 anos fora do Brasil. Antes, todas as vezes que mudava de cidade, levava algum tempo para me ambientar, conhecer uma ou outra pessoa fora do trabalho e iniciar uma nova amizade.
Aquí não, aqui foi diferente. E não só pela forma hospitaleira com que o catarinense nos recebe.
Pouco depois que cheguei em SC, conhecí um cliente da empresa onde trabalho (hoje um grande amigo) e saímos juntos para almoçar. Estrito almoço de negócios. Mas ao entrar no carro (ele havia se oferecido por apanhar-me), notei o adesivo da Harley-Davidson na camionete. Bingo! Já começamos a falar sobre o assunto. Eu tinha uma Yamaha DragStar, na época, recém comprada. Mas imediatamente fui convidado a participar do grupo. Acho que o fato de que eu gostava de Harleys, ter Harley no sangue (meu pai foi Harleyro por muitos anos, quando jovem), veio à tona e me transformou em um Harleyro potencial.
Daí a comprar minha primeira Harley e ser aceito como um veterano neste grupo, foi um passo. E dos pequenos.
Digam: quem tem um atitude tão de camarada, como o pessoal de Harley, que vai com você buscar sua motocicleta nova, mesmo que não lhe conheça?
Surpreso? Pois aconteceu comigo. Vários Harleyros, que são meus amigos desde então, conhecí pela primeira vez quando foram me “escoltando”, de Balneário Camboriú até Curitiba (bons 450 km, ida-e-volta!), para buscar minha primeira Harley, uma Softail DeLuxe. E, aconteceu de novo, quando troquei por uma Ultra Glide.
Ser Harleyro é muito mais do que pilotar um veículo de duas rodas. É sentir-se parte de uma grande família, desde o momento em que você chega, pela primeira vez.
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