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sexta-feira, 10 de fevereiro de 2017

Segurança Pública e o motim da PM no ES


Na final da década de 1960 eu tive um vizinho que era da Polícia Militar do Estado da Guanabara. Muito boa pessoa, sua esposa era enfermeira num grande hospital do Estado.

Um dia estávamos conversando e chegou um amigo seu, a quem fui apresentado. Era um sargento da PM e serviam juntos no mesmo batalhão. Este amigo, ao saber que eu era Oficial da Marinha, contou-me com muito orgulho que seu filho era  Tenente da Polícia Militar.

Anos mais tarde, fiquei sabendo que este sargento estava preso por envolvimento na comercialização de peças de automóveis roubados. Até aí, nenhuma novidade. Policiais também cometem crimes, isto não é privilégio de políticos. Mas o que marcou na minha memória é que sua prisão tinha sido feita pelo seu próprio filho, que trabalhava na P-2, a Segunda Seção da Polícia Militar responsável pelas investigações de inteligência.

A história é triste, quando a vemos dentro do universo familiar, mas é digna de nota quando a encaramos dentro de universo da cidadania. Naquele momento, o jovem tenente não estava prendendo seu próprio pai. Estava prendendo um criminoso. Cumpria o juramento feito ao ingressar na Polícia Militar.

Policiais Militares do RJ em ação contra bandidos.
Dito isto, rolamos a fita por 50 anos e nos deparamos com o que ocorre no Espírito Santo, onde a Polícia Militar está aquartelada em uma ação de amotinamento. Não deixam os quartéis sob a esfarrapada desculpa de que familiares de policiais militares impedem a saída das viaturas. Eu gostaria de ter visto os PMs do Espírito Santo com a mesma idoneidade que aquele jovem tenente teve, lá no Estado da Guanabara dos anos dourados.

Mas o Brasil daquela época era diferente. Não era governada por uma quadrilha de criminosos com foro privilegiado, que só podem ser investigados e julgados por um Supremo Tribunal Federal que tem a triste estatística de condenar menos de 5% dos políticos que investiga.

Neste caso específico, ficamos numa encruzilhada. Como militar de formação, considero a atitude dos policiais militares do ES simplesmente como motim. Portanto, seus comandantes deveriam prendê-los, investigá-los e denunciá-los ao Ministério Público Militar por crime de Motim, Revolta e Conspiração.

Por outro lado, vemos as autoridades, nos três níveis e nos três poderes, atuarem com dois pesos e duas medidas.

Vejamos: o cidadão brasileiro paga uma das maiores cargas de impostos do mundo. Em tudo o que faz, usa ou consome, paga valores altíssimos de impostos (municipal, estadual e federal). Os serviços públicos no Brasil são péssimos. Nossa segurança é frágil (55.000 homicídios por ano), nossa educação falha (um dos piores desempenhos estudantis das Américas) e nossa saúde pública é uma piada.

Mas vemos, no dia-a-dia, notícias envolvendo autoridades denunciadas pela Polícia Federal e pelo Ministério Público Federal em crimes de corrupção que atingem bilhões de reais, nos últimos 4 anos! Bilhões!

No noticiário, vemos as regalias aprovadas para deputados, senadores, governadores, presidentes, ministros, juízes, desembargadores e outros servidores públicos de uma casta elitizada, ganhando salários astronômicos, regalias milionárias, cartões corporativos sem qualquer prestação de contas.

Mas os altos salários não estão restritos às "autoridades". Não senhor! Um simples operador de máquina de reprodução gráfica (xerox) da Câmara dos Deputados ganha a insignificante remuneração de R$22.783,72 por mês (e isto em julho de 2015!). E veja o seu salário básico: R$5.083,91!!!!


Isto tudo para tirar cópia de documentos. Uma atividade que requer um treinamento de alto nível, não é mesmo?

Agora veja o quanto ganha um soldado da Polícia Militar, para enfrentar criminosos e expor sua vida em defesa da nossa segurança, todos os dias:


Aí vem a autoridade e diz que não há recursos para pagar melhor aos policiais, aos médicos, aos professores. Para estes profissionais nunca há recursos. Entendo. Os recursos disponíveis são direcionados para outras "prioridades", não é mesmo? Para Copas do Mundo. Para Olimpíadas. Para empresa de petróleo estatal, num país que tem uma das gasolinas (podemos ainda chamar isto de gasolina?) mais caras do mundo. Para empresários e empreiteiros amigos do rei.

Eu cumpriria a lei e mandaria prender e processar os amotinados. Mas faria isto com muita dor na consciência. É o que manda a lei, mas não é justo!


Teria muita dificuldade de explicar meus atos para a família dos policiais mortos em serviço, por exemplo. Este risco aquele operador de xerox não tem. É justo?

Veja também: Paraguai destrói argumentação desarmamentista usada no Brasil

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