Para
quem não é das antigas, não saberá o que quer dizer "barnabé".
Barnabé era o funcionário público típico, que na minha adolescência era
conhecido como aquele cara que chegava na repartição onde
"trabalhava", colocava o paletó na cadeira e sumia, só voltando na
hora de ir embora.
Este
artigo, publicado no O Antagonista, mostra com todas as evidências quem é o Anti-Barnabé:
Aqui
no Limbo tem rede social. Mais uma vez, sirvo-me do meu Chico Xavier de plantão
e mando minha mensagem ao Antagonista.
Acompanhei
os acontecimentos históricos do dia 13 de março. Desde às estranhas previsões
astrológicas da Folha de S. Paulo até todas as deliciosas charges e sacadas do
feicibuqui. Também li aquele pessoal relativista e de moral seletiva que
defende o governo. Leio de tudo.
Acompanhei
os promotores de SP: a denúncia, o pedido de prisão e a polêmica de Marx e
Hegel. Tinham obrigação de saber que o parceiro de Marx era Engels e não Hegel
e que Nietzsche se escreve com um "s" no meio? E a confusão
conceitual do “super-homem” e o “além-homem”? Melhor não tivessem se enveredado
por caminhos tão tortuosos, especialmente para quem mal estuda Kelsen nas
nossas lamentáveis faculdades de Direito.
Ma,
como gosto do tema barnabé, andei refletindo sobre o juiz Sergio Moro. Moro é o
antibarnabé clássico. No mundo do barnabé, o juiz Moro é um escândalo até
estético.
O
barnabé odeia produtividade. Moro é reconhecidamente produtivo, suas sentenças
são a tempo e horas. O barnabé medalhão adora uma citação (às vezes se dá mal
como vimos), um brocardo, uma firula e, se for do direito, pratica o falar para
nada dizer.
Moro é simples, direto, econômico, infalível como Bruce Lee. O
barnabé anseia pela “isonomia”, pela igualdade de todos na repartição e
despreza o talento em nome da mediocridade burocrática, cotidiana, relógio de
ponto, do esquema “dou-lhe tantas horas do meu dia e o Estado me dá uma
remuneração”. Moro escandaliza ao evidenciar sua diferença, sua inteligência,
sua coragem e sua liberdade.
O
barnabé quer o médio, o previsível, o de sempre, o morno e tem horror ao gênio
e ao imponderável, ao fora da curva normal, ao cisne negro, ao desvio padrão. O
barnabé baba sedento em busca da compliance, da conformidade das portarias e
das resoluções, da meta factível e pouco desafiadora e da rotina mais
modorrenta.
Moro evidencia a rompimento dos padrões, a ousadia, a coragem e a revolução
do Direito que somente os revolucionários podem enxergar. O barnabé esconde-se
em meio aos seus semelhantes, odeia o fulgor das luzes e acomoda-se em suas
estações de trabalho, ao aconchego da sombra do monitor do computador que lhe
tomou a face de empréstimo.
Moro
arrisca-se diariamente a cada despacho, cada decisão, cada sentença e mostra-se
como numa ribalta (sem ser exibido). O barnabé odeia a precocidade, a
genialidade...levaria um susto ao saber que Napoleão foi general aos 28 anos,
que Machado escreveu aos 18 e ficou espetacular aos 40 e que Nelson Rodrigues
escreveu seu Vestido de Noiva aos 27.
Moro
não precisou de cabelos brancos, dos rapapés das altas Cortes e um título de
Ministro para entrar para os livros de história do Brasil.
No
mundo assertivo de Moro, o barnabé é um ser deslocado e perplexo.
Onde
estou, sei bem onde ficam, é um lugar chamado Vestíbulo, a morada dos
indecisos, covardes, dos que passaram a vida “em cima do muro”, daqueles que
nunca quiseram assumir compromissos e tomar decisões firmes. De forma
condescendente os vejo agora, aqui no Vestíbulo, obrigados a correr atrás de
algo que não vai a lugar algum. Mas acho que o barnabé já fazia isto quando em
vida.
O Antagonista, 2/4/2016
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