Até aquele sonho de liberdade vendido em duas rodas ficou mais caro. Com
dificuldades por causa da desvalorização cambial, a Harley-Davidson, centenária
fabricante norte-americana de motocicletas, decidiu aumentar os preços no
Brasil para estancar as perdas, já que, depois de anos de bons resultados, a
operação pode até dar prejuízo no ano que vem.
A marca
apresenta nesta quarta-feira no Salão Duas Rodas, em São Paulo, a linha 2016
com um aumento médio de 25% nos preços para o consumidor. Com montagem no
regime CKD em Manaus, a empresa também reduziu custos para absorver a alta de
50% do dólar somente este ano. Ainda assim, o modelo mais barato da linha 2016
da Harley sairá por R$ 42,9 mil.
2016 Harley-Davidson 883 Iron |
“A variação
cambial deste ano é mais do que nós poderíamos arcar. Não esperávamos que o
dólar fosse chegar a R$ 4”, diz o diretor de marketing da Harley-Davidson do
Brasil, Flávio Villaça. Segundo ele, a marca tomou a decisão no curtíssimo
prazo de não alterar os valores, mas a situação se tornou “insustentável”.
A
Harley-Davidson viu a economia brasileira passar de queridinha a patinho feio.
Em 2011, a marca encarou uma disputa judicial para assumir o controle das
concessionárias no País, de olho em um mercado consumidor numeroso e com mais
dinheiro para gastar. Em três anos, as vendas explodiram 145% e atingiram o
pico de 8.240 unidades vendidas em um único ano.
Em 2014, no
entanto, os números começaram a engasgar. As vendas caíram 10% e, neste ano,
caminham para uma queda no mesmo ritmo. Segundo Vitor Meizikas, gestor de
produto da Molicar, consultoria especializada no setor automotivo, o efeito da
crise nas fabricantes de motos de alta cilindrada ainda é limitado. “As
empresas estavam trabalhando com estoques e agora vão sentir com mais força o
efeito do câmbio sobre os custos”, diz.
Veja também: Vendas de motocicletas recuam 10,1% no ano
Não é só no
Brasil que o câmbio tem exercido um efeito perverso nos números da Harley.
Tradicional, a empresa mantém a produção nos Estados Unidos, e com a
valorização global da moeda, a Harley perde competitividade. Isso está
acontecendo até mesmo em solo americano, onde a participação de mercado da
marca caiu para abaixo de 50% neste ano. Justamente por isso, resultados
positivos no exterior ficam ainda mais importantes.
Veja também: Harley-Davidson: De onde o crescimento virá?
Villaça admite, que, “eventualmente”, a operação no Brasil pode dar prejuízo em
2016. “Tudo depende do câmbio.” Mas independentemente do que aconteça ano que
vem, a Harley diz manter a operação no País com foco no longo prazo. “Uma hora,
essa crise vai passar. E nessa hora estaremos prontos para aproveitar o
potencial do mercado brasileiro.”
Há mais gente interessada nesse mercado: a americana Indian – concorrente direta da Harley nos EUA – inicia suas operações no Brasil ainda neste ano. Outra fabricante de motos de alta cilindrada, a inglesa Triumph nem pensa em tirar os olhos do Brasil. Por enquanto, vai investir em promoções para aproveitar a euforia do Salão Duas Rodas. “Estamos no meio de um momento de grande volatilidade, então vamos acompanhar a variação cambial antes de reposicionar os preços da marca”, diz o gerente-geral da Triumph no Brasil, Waldyr Ferreira.
Fonte: O Estado de São Paulo, 6/10/2015
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