Marcus
Vinicius de Lima Arantes(*)
Se me
perguntarem de que sinto mais saudades dos meus tempos de Marinha Mercante,
respondo de pronto, sem pestanejar – das estadias em Santos.
Cruzávamos
os mares do mundo, alguns de nós nas charmosas linhas internacionais do Lloyd
fossem elas a do Mediterrâneo, a do Mar do Norte ou a da Escandinávia.
Outros, nas linhas americanas como a da costa leste dos Estados Unidos, a do Golfo do México, a linha do trigo para a Argentina e aquela que me fez ficar frustrado por nunca tê-la feito – a linha da ALALC, com os navios passando por Mar del Plata, Bahia Blanca, contornando o Estreito de Magalhães com Ushuaia pelo través de boreste e subindo pela costa chilena e peruana, Valparaiso, Antofagasta, Callao até atingir o Caribe em Buenaventura na Colômbia e San José na Costa Rica. Um périplo pelos portos sul-americanos ao som da bonita diversidade de ritmos do nosso continente – tangos argentinos, a “cueca” chilena, as músicas andinas do Peru e os ritmos quentes do Caribe. O N/M Londrina que aparece na foto abaixo era um dos navios empregados nessa linha.
Outros, nas linhas americanas como a da costa leste dos Estados Unidos, a do Golfo do México, a linha do trigo para a Argentina e aquela que me fez ficar frustrado por nunca tê-la feito – a linha da ALALC, com os navios passando por Mar del Plata, Bahia Blanca, contornando o Estreito de Magalhães com Ushuaia pelo través de boreste e subindo pela costa chilena e peruana, Valparaiso, Antofagasta, Callao até atingir o Caribe em Buenaventura na Colômbia e San José na Costa Rica. Um périplo pelos portos sul-americanos ao som da bonita diversidade de ritmos do nosso continente – tangos argentinos, a “cueca” chilena, as músicas andinas do Peru e os ritmos quentes do Caribe. O N/M Londrina que aparece na foto abaixo era um dos navios empregados nessa linha.
Os que
estavam na Fronape andavam pela Venezuela – Caripito, Bajo Grande, Punta Palmas,
Puerto Miranda, Punta Cardón, Puerto La Cruz e Maracaibo. Iam também para a
Nigéria, para o Gabão, para Bougie na Argélia, para Ras Tanura no Golfo Pérsico
ou para Ras Shukeir no Mar Vermelho.
Mas todos
nós terminávamos em Santos. Era o nosso ponto de convergência. Era o
re-encontro para o abraço amigo e longas conversas regadas a um chope geladinho
nas mesas da calçada do Hotel Atlântico no Gonzaga. Era o momento de termos
noticias por onde estavam os colegas. “Encontrei-me com o Liminha em Bremen. Ele
está no Cabo Frio”, poderia dizer alguém entre dois goles de chope. “Quem eu vi
em New Orleans foi o Leopardi. Ele está no Presidente Kennedy”, poderia ter
respondido outro. E por aí fluía o papo até o momento de rumarmos para a
“Boca”, destino certo para qualquer final de programa em Santos.
Santos era
isso. Um feliz re-encontro. Começávamos tomando o bonde na Praça Mauá com
destino ao Gonzaga. Lá, um cineminha no Iporanga, Praia Palace Indaiá ou Roxy
era sempre o início dos nossos programas. Depois, o chope do Atlântico, a pizza
no Zi-Teresa ou no Guanabara, ali na Praça da Independência, em frente ao
Monumento dos Andradas. Cliente assíduo do Guanabara, cheguei até a decorar o
que dizia a placa do lado do Monumento virado para as mesas onde nos sentávamos:
“Antonio Carlos no calabouço – Perdão só peço a Deus. Do Rei quero justiça.”
O destino
seguinte era sempre o mesmo – a famosa “Boca”. Aquele trecho de Santos só tinha
um similar no mundo – a feérica Reeperbahn em Hamburgo. Boites e casas de show
movimentavam a noite da “Boca” com música e “go-go-girls” dançando em cima dos
balcões para o deleite da marinheirada do todos os cantos do mundo. Casablanca,
El Morocco, American Bar e Golden Key eram as mais frequentadas. Retornávamos a
bordo lá pela madrugada depois de comer um bifão acebolado no Serpa Pinto.
Outros só chegavam a bordo com o sol já raiando. Destes dizíamos que “pegavam o
sol com a mão”.'
Passados
mais de 40 anos, compromissos profissionais me levaram a Santos. Os tempos eram
outros, mas quis rever cada um dos pontos frequentados há anos. Foi grande a
decepção – a “Boca” não existe mais, tudo em escombros. De pé apenas o American
Bar, decadente e mal-frequentado. O bonde hoje é peça de museu. O Iporanga, o
Indaiá e o Roxy fecharam e o Praia Palace virou bingo. O Atlântico não tem mais
o mesmo charme e o Zi-Teresa também não existe mais.
O Guanabara
ainda está lá. Salvou-se. O Monumento dos Andradas também. Corri para ver a
placa. Ainda está lá - “Antonio Carlos no calabouço – Perdão só peço a Deus. Do
Rei quero justiça.”
(*) Marcus
Vinícius de Lima Arantes é Oficial da Marinha Mercante, Engenheiro, Professor e
Escritor.
Seu livro “Torpedo – O Terror no Atlântico” (Livre Expressão, 2012) é considerado um dos mais importantes trabalhos sobre os ataques sofridos pelos navios brasileiros durante a Segunda Guerra Mundial.
Seu livro “Torpedo – O Terror no Atlântico” (Livre Expressão, 2012) é considerado um dos mais importantes trabalhos sobre os ataques sofridos pelos navios brasileiros durante a Segunda Guerra Mundial.
Nenhum comentário:
Postar um comentário