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domingo, 11 de agosto de 2013

Dia dos Pais - Minha Homenagem ao Primeiro Harleyro da Família

"No final dos anos 30, lá no interior de Minas Gerais, un Harleyro criava uma parte da história dessas máquinas maravilhosas. Meu pai, Octacílio Roque, pilotava sua Harley-Davidson pelas estradas empoeiradas da Serra da Mantiqueira.

Morando e trabalhando na cidade de Santos Dumont, meu pai ia com sua Harley até Conselheiro Lafaiete, a 120 km de distância, para ver sua namorada e futura esposa, que se tornaria minha mãe, muitos anos depois.

As histórias que se contam dessas peripécias sobre duas rodas ficaram no folclore doméstico. Toda vez que o assunto era motocicleta, meu pai falava de suas experiências com as Zündapp, Indian, BSA e Harley-Davidson, que fizeram parte de sua vida durante muitos anos. Os problemas de manutenção que enfrentou, vivendo em pequenas cidades, distantes dos grandes centros e a maneira como conseguia superá-los é uma odisséia à parte.

Criado no Rio de Janeiro, onde se formou e vivendo em São Paulo, onde trabalhou por alguns anos, meu pai se acostumou com as facilidades que essas metrópoles ofereciam, em termos de recursos e disponibilidades.

Ao ser transferido para o interior das Minas Gerais, ele teve que empregar todo seu talento mecânico para cuidar de sua máquinas.

Lembro-me de quando ele contava que recebia as motocicletas novas, ainda nas caixas originais, utilizadas no transporte marítimo internacional. A compra era feita na Mesbla, no Rio de Janeiro e a montagem das motocicletas era feita por ele mesmo, nas suas horas de lazer. Um lazer que ele curtia com imensa satisfação, conforme suas próprias palavras.

Ele se entusiasmava quando contava as peripécias que fazia com sua Harley. Era muito divertido ouvir as histórias de "competição" de habilidades que existiam entre meu pai e um grande amigo que ele teve lá em Minas. Esse amigo - infelizmente o nome se perdeu na minha memória - era o inspetor local da Polícia Rodoviária Federal e um excelente piloto. Eles competiam para vem quem fazia mais acrobacias com as Harley. Andar em pé sobre o selim, já era "café pequeno", como ele mesmo dizia.

Por um motivo que ninguém na família conhece, um dia meu pai vendeu sua última Harley-Davidson e nunca mais pilotou.

Eu ainda tentei convencê-lo a experimentar alguma das muitas Hondas que tive. Ele dizia sempre: "Se voltar a pilotar, só numa Harley. Isto sim é motocicleta". Ele nunca se referiu a estas máquinas como "moto" ou "motocas". Ele abominava tais expressões. Era sempre motocicleta, assim, por extenso, integralmente.

Infelizmente, ele não estava mais entre nós quando comprei minha primeira Harley-Davidson. Ele havia partido um mês antes, com mais de 90 anos bem vividos e muito ativos. Deus nos permitiu que ele gozasse de boa saúde, viajando constantemente para me visitar, nos 10 anos que vivi no exterior. Sempre muito alegre e divertido, até que chegou sua hora de passar para outra dimensão.

Quando recebi minha Harley, lá em Curitiba, não pensei em mais nada ou ninguém. E dediquei aquele momento especial a uma das pessoas mais importantes da minha vida: meu Pai."

Publicado no livro do  Encontro Internacional de Harleyros - 2007.

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