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terça-feira, 18 de junho de 2013

Os Desafios do Comportamento em Grupo

Eu tive que aprender a conviver em grupo quando era ainda muito jovem.

Explico: ingressei na Marinha do Brasil em 1964, com apenas 17 anos.

Na Escola ficávamos alojados em camarotes que acomodavam quatro Aspirantes. Tínhamos que aprender a conviver em um espaço comum, desde o início de nossas carreiras.

Por algumas décadas naveguei por quase todas as partes do mundo. Viagens longas, uma delas me afastando da família por 9 meses.

Em outra oportunidade fiquei 2 anos sem férias. Não haviam oficiais suficientes para nos substituir para que pudéssemos desembarcar e desfrutar nossos poucos 30 dias de férias, anualmente.

E todos tinham que contribuir com sua taxa de sacrifício para o crescimento do Brasil, o que fazíamos com muito orgulho, diga-se de passagem.

Quando se está servindo num navio, não temos outra alternativa a não ser aprendermos a conviver com a diversidade.

Durante 24 horas por dia, durante semanas e, às vezes,  meses, você trabalha, dorme, faz suas refeições e convive num ambiente restrito e com as mesmas pessoas.

Naquele tempo, se você ainda era um oficial ou um graduado, teria o luxo de um camarote individual. Era a sua única oportunidade de privacidade total. Os marinheiros, nem isto.

Os seus colegas à bordo tem o mesmo nível acadêmico e treinamento militar, mas são originários de quase todas as partes do Brasil, com diferentes formações culturais, familiares, religiosas. E com opiniões distintas em muitos assuntos, como em política e esportes, por exemplo.

Trabalhamos juntos, fazemos as refeições juntas, compartilhamos juntos os poucos momentos de entretenimento à bordo. Devido à necessidade de manter a disciplina e a hierarquia, raramente convivemos socialmente com os marinherios e graduados, o que reduz substancialmente o número de pessoas no nosso relacionamento social.

Ou seja, você não tem a oportunidade de sair do seu ambiente de trabalho, como a grande maioria das pessoas no mundo, e ir para casa e ficar com a família ou encontrar-se com outros amigos e desfrutar alguns momentos de descontração num clube, num barzinho, no futebol ou na academia.

Uma das regras que logo aprendemos é a de respeitar a individualidade de cada um. Entender que nem todo mundo gosta das mesmas coisas, das mesmas músicas, dos mesmo livros, do mesmo filme.

Ou de fazer o mesmo passeio e ir ao mesmo restaurante, se transportarmos este espírito de convivência para o nosso mundo do motociclismo.

Quem me conhece sabe que eu não embarco nesta discussão infrutífera sobre qual é a melhor marca de motocicleta, Harley ou BMW.
Eu gosto da minha Harley e respeito quem gosta de uma BMW, Honda, Suzuki, etc.
Já tive motocicletas Honda e Yamaha, antes das Harleys. Gostava delas, também.

Aliás acho estranho esta rivalidade entre Harley e BMW, que vejo aqui no Sul.
Não sei se existe em outras partes e nunca havia ouvido coisa semelhante em outros cidades/países onde vivi.

O mesmo se aplica aos passeios e viagens. Nem todo mundo quer ir ao mesmo lugar ou almoçar no mesmo restaurante. Às vezes não estamos nem dispostos a rodar, naquele dia específico.

Temos que aprender a conviver com isto.

O conhecido e quase lendário Assis, um motociclista de Florianópolis com uma grande experiência de estrada, inventou uma frase que resume, com propriedade, este conceito.

Diz o grande Assis: "Quem quer tomar banho, toma. Quem não quer, não toma."

Eu penso da mesma forma.

Um comentário:

  1. Grande Roque,
    É sempre muito bom ler seu blog, sempre aprendo mais.
    Abraço Roque.
    Márcio Mafra

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